Uma solução falsa para reduzir a violência. Foi essa a conclusão de
debate promovido nesta quarta-feira pelo DIA
, Meia Hora
e o Observatório de Favelas no Complexo da Maré sobre as propostas de
redução da maioridade penal que estão tramitando no Congresso. No mesmo
dia da conversa, Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou a
redução da idade penal de 18 para 16 anos de idade em casos de crimes
violentos. Também nesta quarta-feira o governo Dilma Rousseff começou a
jogar pesado no Senado para tentar aprovar projeto de lei que aumenta o
tempo de internação de menores infratores.
Mediado pelo jornalista do DIA
André Balocco, o encontro teve a presença da socióloga Julita
Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e ex-diretora
do sistema penitenciário fluminense. Ela definiu a proposta como um
“escárnio”. Segundo Julita, a redução da idade penal vai gerar apelos
pela privatização das cadeias brasileiras. “Eles estão querendo vender
para população que será solução. A maior parte dos nossos jovens está
presa por tráfico de drogas. Logo, essa proposta vai tornar ainda mais
explosivo o nosso sistema carcerário. Não há pesquisa no mundo que prove
que a redução da maioridade reduza a violência”, disse Julita, para uma
plateia lotada, no Complexo da Maré, cuja maioria era composta por
jovens.
Julita
Lemgruber, observada por Balocco (centro), classificou como hipocrisia a
aprovação da redução da idade penal para 16 anos para a punição de
adolescentes que comete
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Edson Diniz, da Redes de
Desenvolvimento da Maré, afirmou que há “desinformação” sobre o tema.
“Nós não estamos cuidando da infância, e, sim, retirando a proteção com
propostas como essa”, afirmou. Pedro Strozenberg, do Instituto de
Estudos da Religião (Iser), lembrou que menores já são responsabilizados
por suas infrações. “Infelizmente, nossa cultura acha que só a cadeia
vai resolver”, resumiu. Nesta quarta-feira, os três menores envolvidos
na morte do médico Jaime Gold, no mês passado, na Lagoa Rodrigo de
Freitas, passaram por audiência no Fórum de Olaria, na Zona Norte. Foram
ouvidas 16 testemunhas de acusação e defesa, mas uma nova sessão será
marcada pela juíza da Vara da Infância. A Justiça negou os pedidos de
habeas corpus dos três adolescentes.
No Senado, acordo entre PT e PSDB
Está nas mãos do presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), o projeto de lei que aumenta o período de
internação de adolescentes que tenham cometido crimes hediondos. A
proposta é de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), e sua tramitação é
defendida pelo governo Dilma Rousseff, que, contrário à redução da
maioridade penal, precisou costurar uma proposta alternativa à aprovada
ontem na Câmara e que deve ir a plenário no dia 30 deste mês.
Governistas conseguiram aprovar a matéria em caráter de urgência e
tentam convencer Renan a pautar o projeto de lei antes da data, para
enfraquecer o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
No parecer elaborado pelo senador José Pimentel
(PT-CE), há a proposta de que os jovens responsáveis por crimes
hediondos sejam internados em áreas separadas dentro das unidades do
sistema socioeducativo. Eles seriam obrigados a cumprir a internação até
os 26 anos. “A intenção da separação é evitar a influência dos autores
de crimes violentos sobre os demais menores”, destacou o senador José
Pimentel.
A lei, se aprovada, também agrava a pena para adultos que praticam ou induzam jovens ao crime.
Na Câmara, redução vence
Com clima tenso dentro e fora da sessão, a
Comissão Especial da Câmara dos Deputados para discutir a maioridade
penal aprovou por 21 votos a seis a redução da maioridade penal para 16
anos em crimes graves. O relatório do deputado e delegado Laerte Bessa
(PR-DF) foi aprovado após acordo entre o PMDB e a oposição.
Com o acordo, a proposta inicial de Bessa de
redução para todos os tipos de crime foi substituída para a punição
apenas para jovens que cometam homicídios, latrocínios, roubo
qualificado e lesão corporal grave. O tráfico de drogas foi incluído no
texto, e a realização de um referendo foi retirada.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que quer votar o relatório no plenário no próximo dia 30,
capitaneou o acordo do PMDB com o PSDB.
Manifestantes foram impedidos de participar da
sessão, na qual sobraram provocações entre os representantes da ‘bancada
da bala’ e os deputados contrários à redução, como a deputada Maria do
Rosário (PT-RS). “Se aprovada a redução, qualquer adolescente portando
maconha vai para o regime fechado com traficantes adultos”, afirmou a
parlamentar gaúcha.
Colaborou Dirley Fernandes
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-06-18/reducao-e-hipocrisia-diz-sociologa-sobre-maioridade-penal.html