Com resiliência e o apoio do governo federal, gaúchos estão reconstruindo suas vidas após um dos maiores desastres climáticos do Brasil
Brasília (DF) - Duas palavras nunca fizeram tanto sentido: união e reconstrução. Em abril de 2024, o Rio Grande do Sul viu sua história ser marcada por uma tragédia sem precedentes. No final do mês, mais precisamente entre os dias 27 e 29 de abril, as chuvas começaram a cair fortes e incessantes sobre a Serra Gaúcha e a região dos Vales do Taquari e do Rio Pardo.
Em muitas cidades, a quantidade de água superou em até cinco vezes o esperado para o período. O excesso escorreu pelas bacias hidrográficas interligadas, levando a força dos rios a níveis jamais vistos. A correnteza carregou a força das chuvas para o Rio Jacuí e, depois, para o Lago Guaíba. O encontro dessas águas, já pesadas e violentas, provocou a maior enchente da história de Porto Alegre, superando até mesmo a histórica cheia de 1941.
As águas invadiram casas, ruas e sonhos. Deixaram para trás rastros de lama, destruição e um silêncio dolorido. Milhares de famílias perderam seus lares, suas lembranças, sua rotina e, em muitos casos, a esperança de recomeçar. Mas em meio ao cenário devastador, pessoas desconhecidas tornaram-se irmãs de caminhada, dando espaço a vontade de reconstruir — juntos.
A resposta do governo e a força da reconstrução
Antecipando os riscos, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) emitiu alertas vermelhos, atuando de forma emergencial em parceria com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional. Entre 29 de abril e 6 de maio de 2024, foram enviados 68 alertas e mais de 7 milhões de mensagens de SMS para a população.
O reconhecimento federal da situação de emergência e estado de calamidade pública permitiu que 451 municípios fossem oficialmente amparados. E, a partir daí, começou a grande operação de reconstrução: mais de R$ 1,4 bilhão foram destinados a ações de assistência humanitária, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução de infraestrutura.
A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul entrou para a história como a maior mobilização de esforços do Governo Federal em resposta a um desastre. A presença federal foi imediata — garantindo o socorro às famílias, o apoio humanitário e a reconstrução de cidades inteiras.
O impacto dessa ação foi sentido em todos os setores da sociedade e se refletiu também na economia: enquanto o PIB nacional cresceu 3,4% em 2024, o Rio Grande do Sul registrou alta de 4,9%, mesmo diante da tragédia, como explica o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. “A participação foi tão intensa, presente em todos os momentos, desde o primeiro momento do acidente e perdura ainda na reconstrução de muitas obras. Isso impactou positivamente todas as camadas da sociedade, do pequeno até aqueles que empreendem, geram emprego e renda, que o PIB do RS cresceu muito acima do PIB nacional", destacou Góes.
Histórias que inspiram: os rostos da reconstrução
Franny e Túlio
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Franny Ordonis e Tulio Jesus, um casal de refugiados venezuelanos, chegaram ao Brasil há três anos com seis filhos e poucos pertences. Viveram com dificuldades, mas construíram juntos uma pequena casa em Porto Alegre, no bairro de Sarandi, que abrigava a todos. “Tínhamos uma casinha simples, mas que era nossa”, lembra Franny. No entanto, as chuvas de abril de 2024 trouxeram uma preocupação crescente.
“Vimos a água começar a subir, mas como sempre subia 30, 50 centímetros, não nos desesperamos”, conta Túlio. Mas, no dia 3 de maio, a Defesa Civil os orientou a abandonar tudo e procurar segurança, pois a enchente estava se agravando rapidamente. Em uma pressa angustiante, Franny e Túlio saíram sem conseguir resgatar nem os documentos dos filhos. “Eu ainda queria esperar pelo meu cachorro, que não voltou para casa, mas meu marido insistiu para sairmos logo”, relata Franny.
Eles foram para um abrigo da Defesa Civil, onde viveram por três meses. “Éramos gratos por termos sido acolhidos, mas não era fácil. Dormir ali, com tantas famílias, e ver nossos filhos passando dificuldades, era muito difícil”, lembra Franny. Sua casa, que tanto significava, foi levada pela água. A única coisa que conseguiram salvar foi o botijão de gás.
Mas, apesar do trauma, a família encontrou um novo caminho. “Quando fomos contemplados com o aluguel social, pudemos alugar uma casa. E depois, com o Auxílio Reconstrução, conseguimos comprar alguns móveis, a máquina de lavar, e nos manter por dois meses”, diz Túlio.
Hoje, um ano depois da enchente, Franny assinou o contrato da sua primeira casa própria. “Nosso maior medo era que acontecesse de novo, que perdêssemos tudo outra vez. Agora, com uma casa em um lugar seguro, podemos dormir tranquilos sabendo que nossos filhos estão em segurança”, afirma emocionada.
Luiz e Tânia
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Luiz e Tânia |
Luiz Carlos de Carvalho, de 65 anos, e sua esposa, Tânia, de 69, viveram por muitos anos em sua casa no bairro Navegantes, em Porto Alegre. Quando as chuvas começaram a atingir a cidade, o casal foi alertado para deixar sua casa. Eles receberam a notícia em 3 de maio, às 15h, e em poucas horas já estavam a caminho da casa da filha, no litoral.
“Às 19h, já estávamos no carro, deixando tudo para trás. Não sabíamos o que seria da nossa casa”, lembra Luiz. Quando retornaram três meses depois, encontraram a casa completamente destruída, com a marca do barro cinco metros acima da parede.
Mas a história de Luiz e Tânia teve um novo rumo. O casal foi contemplado pelo programa de compra assistida. “Graças a Deus o Lula é presidente, senão nem sei o que seria da gente. É um sonho, uma realização. Perdemos tudo, mas agora nossa vida começou de novo. Melhorou 200%”, comemora Luiz.
A modalidade Compra Assistida foi criada de forma emergencial para possibilitar a rápida reposição habitacional às famílias que perderam suas casas em eventos de desastres, como as enchentes no RS. A operação envolve o levantamento das áreas afetadas pela Defesa Civil Nacional, a partir de informações repassadas pelos municípios, e a execução da compra e entrega de moradias pelo Ministério das Cidades, com recursos federais.
A força da comunidade e a esperança de um novo começo
Essas histórias de Franny, Túlio, Luiz e Tânia são apenas algumas entre muitas pessoas que, após a tragédia das chuvas de 2024, tiveram a oportunidade de recomeçar suas vidas com dignidade. Por meio dos programas de apoio e auxílio do Governo Federal, como o auxílio de reconstrução e o programa de compra assistida, essas famílias puderam reconstruir suas casas e suas esperanças.
O esforço de reconstrução no Rio Grande do Sul é fruto de uma mobilização histórica do Governo Federal, articulada pelo MIDR e pela Defesa Civil Nacional, em parceria com o Ministério das Cidades.
Recursos destinados ao Rio Grande do Sul pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec):
- R$ 128,2 milhões em recursos para assistência humanitária
- R$ 673,5 milhões para restabelecimento de serviços essenciais
- R$ 609,6 milhões para reconstrução de infraestrutura destruída
- R$ 5 milhões para proteção animal
- R$ 26,4 milhões a partir de rito sumário
- R$ 324,3 milhões em análise
Reconstrução Habitacional: 115 municípios atendidos, 10 mil unidades habitacionais aprovadas e enviadas ao Ministério das Cidades.
Compra Assistida: 1.500 famílias contempladas com a aquisição de novas moradias, atendendo a critérios de segurança, dignidade e proximidade com o local de origem.
Auxílio Reconstrução: 422 mil famílias contempladas, com mais de R$ 2,15 bilhões pagos.
Reconstrução e esperança
Um ano depois da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, a esperança renasce em cada rua reconstruída, em cada casa entregue, em cada família reunida.
O trabalho conjunto entre a população, os municípios, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, a Defesa Civil Nacional e o Ministério das Cidades transformou a dor em força e a perda em reconstrução.
O Rio Grande do Sul, que chorou suas perdas, agora avança na recuperação, mostrando que a união e a solidariedade podem reconstruir até mesmo o que parecia irreparável.
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