Lançado em junho nos Estados Unidos e na Inglaterra, "Grey:
Cinquenta Tons de Cinza Pelos Olhos de Christian" chegou oficialmente ao
Brasil na última sexta (18). A obra traz uma nova perspectiva para o
primeiro livro da trilogia de E.L. James: se nos três volumes anteriores
a história era contada por Anastasia Steele, uma tímida estudante de
literatura, agora temos a versão de Christian Grey, o empresário
milionário de gostos peculiares que introduz a moça no mundo da
dominação sexual. Com a novidade, muitas fãs da série –que
vendeu mais de 125 milhões de exemplares pelo mundo, sendo seis milhões
deles no Brasil– correrão para comparar como a história poderia mudar de
acordo com a perspectiva dos personagens. No entanto, as diferenças
entre os livros são pontuais. "Cinquenta Tons" é dividido por capítulos
de forma convencional, enquanto em "Grey" as divisões são datadas,
apresentadas como uma espécie de diário do narrador. Além disso, temos
os momentos a sós de Grey, que não apareciam na história narrada por
Anastasia. Uma leitura comparada das duas obras mostra que temos
praticamente uma história espelhada, tanto que há cenas que ocupam
exatamente a mesma página de "Grey" e "Cinquenta Tons". Os diálogos são
todos exatamente iguais, como se os narradores não relatassem de memória
as passagens –o que permitiria variações, já que cada pessoa costuma
guardar lembranças de forma diferente–, mas uma voz externa (da própria
autora), que sabe com exatidão o que aconteceu em cada momento.
Ainda assim, olhando para a história sob a perspectiva de cada um dos
personagens, podemos observar algumas particularidades. Na entrevista na
qual Anastasia conhece Grey, por exemplo, a primeira reação da moça é
observar toda a sala do empresário, enquanto ele, por sua vez, começa a
tentar dissecar a estudante. "Como essa jovem pode ser
jornalista? Não tem um pingo de firmeza. É atrapalhada, mansa...
submissa", pensa ele. "A sala é grande demais para uma pessoa só. Na
frente dos janelões que vão do piso ao teto, há uma enorme mesa moderna
de madeira escura, ao redor da qual seis pessoas poderiam comer
confortavelmente", analisa ela. Logo Grey começa a prestar
atenção nas qualidades de Anastasia: "Seu perfil é delicado –nariz
arrebitado, lábios macios, carnudos– e, com suas palavras, ela captou
meu sentimento com exatidão". Já ela permanece preocupada com o espaço.
"À parte os quadros, o restante da sala é frio, limpo e asséptico.
Pergunto-me se reflete a personalidade do Adônis que afunda
graciosamente numa das poltronas brancas de couro à minha frente".
Mas não demora para que, nas duas versões do encontro, um já esteja
desejando o outro. Após afirmar que "controla tudo", Grey pensa e
observa: "E gostaria de controlá-la também, bem aqui, agora mesmo.
Aquele rubor atraente se insinua no seu rosto, e ela torna a morder o
lábio. Fico divagando, tentando desviar a atenção daquela boca".
Enquanto isso, ela tenta sustentar seu "olhar impassível", seu "coração
bate mais depressa" e seu "rosto torna a corar". Fragilidades de Grey
Em um dos momentos-chave da história, quando Grey fala para Anastasia
sobre o contrato que ela deve assinar para lhe ser submissa e apresenta à
moça o seu "quarto de jogos", na versão do protagonista percebemos que o
milionário frio e controlador também tem suas fragilidades, ainda que
não as externe. Ao ver o recinto com chicotes, varas, um banco e uma
cama king size, dentre diversos outros apetrechos, a moça pensa "Parece
que viajei para o século XVI e sua Inquisição espanhola. Puta merda".
Já na versão de Grey, a autora gasta muito mais linhas para transmitir
as sensações do dominador. O trecho revela o temor que o personagem
tinha da garota não aceitar suas peculiaridades: "chegamos a uma
encruzilhada. Não quero que ela saia correndo. Mas nunca me senti tão
exposto. […] Abro a porta e sigo para dentro do quarto de jogos. Meu
porto seguro. O único lugar onde posso ser o que realmente sou".
Bem mais adiante, quando conversam sobre o contrato para se
aprofundarem nos detalhes –uso de vibradores e plugues anais, aceitação
de bondage com cordas e fitas adesivas, contenção por meio de amarras
nas mãos, nos tornozelos, por suspensão... –, Grey se mostra surpreso
com a resistência de Anastasia em aceitar o Audi Hatch vermelho que ele
tentava lhe dar. Enquanto na versão dela da história ele "suspira
profundamente" e apenas concorda, na dele há o pensamento que deixa
claro como a garota, apesar de ser a dominada dentre as paredes,
representa um desafio em sua vida: "Por que ela é tão difícil? Nunca
recebi essa reação a um carro de nenhuma das minhas submissas.
Normalmente elas ficam encantadas". Sexo egoísta
E, claro, há as diferenças da perspectiva individuais com relação ao
sexo. Aqui, o momento da mesma cena na versão de cada um, quando ele
corta o barato da moça para satisfazer seus desejos: Cinquenta Tons de Cinza:
"Sua língua é incansável, forte, resistente, golpeando-me –rodando,
rodando, sem parar. É uma delícia– a intensidade da sensação quase chega
a doer. Começo a estremecer, e ele me solta. O quê? Não! Estou
ofegante, arfando, olhando para ele numa expectativa deliciosa. Ele
segura firme meu rosto com as duas mãos e me beija com força, enfiando a
língua em minha boca para eu saborear a excitação. Então, abre a
braguilha, se solta e me levanta pelas coxas". Grey:
"Ela suspira quando agarro seu quadril e beijo a doce junção sob seus
pelos pubianos. Levando as mãos até a parte de trás de suas coxas,
afasto as pernas dela, expondo seu clitóris para a minha língua. Quando
começo meu ataque sensual, seus dedos agarram meu cabelo. Minha língua a
atormenta, fazendo-a gemer e jogar a cabeça para trás, na parede. Seu
perfume é delicado. Seu sabor é ainda melhor. Gemendo, ela empurra a
pélvis na direção da minha língua invasora, insistente, e suas pernas
começam a tremer. Chega. Quero gozar dentro dela". Pelo visto, Grey só se preocupa mesmo com seu próprio prazer.
Doutor Honoris Causa em Educação e Direitos humanos; ex- servidor na Prefeitura Municipal de Resende/RJ; Ex- Assessor de Gabinete do Prefeito na Prefeitura Municipal de Barra Mansa/RJ; Ex-servidor da Fundação Beatriz Gama de Volta Redonda/RJ. Eleito por três mandatos no Conselho Superior do Instituto Federal do Rio de Janeiro e dois no Conselho Municipal de Juventude de Barra Mansa/RJ. Consultor ad hoc da Associação Mineira de Pesquisa e Iniciação Científica, avaliando os trabalhos de Iniciação Científica e Tecnológica da 4ª Feira Mineira de Iniciação Científica (4ª FEMIC); Selecionado avaliador em um importante Prêmio de Inovação no estado de Minas Gerais e um outro no Espírito Santo em 2022. Encerrou 2022 recebendo homenagem do Governo Federal através do Programa Pátria Voluntária.