Abertura de arquivos da companhia em Volta Redonda revela que até cidadãos eram perseguidos
Rio - Trezentos e sessenta e um trabalhadores
foram demitidos durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, por serem considerados
subversivos por governos militares. A informação é dos pesquisadores que
estão há apenas duas semanas mergulhados nos arquivos da empresa.
“Também há indícios de perseguição a jovens que atuavam junto à Igreja
Católica e informações de que a CSN vigiava cidadãos comuns de Volta
Redonda, não apenas seus funcionários”, informa Edgard Bedê, professor,
pesquisador da Comissão da Verdade Dom Waldyr Calheiros e coordenador da
equipe que está vasculhando os documentos da CSN.
Os arquivos estão guardados desde o período
anterior à privatização da CSN, que ocorreu em 1993. O objetivo da
pesquisa é obter o máximo de informações sobre funcionários e registros
da Assessoria de Segurança e Informação (ASI), que funcionava na
empresa, como um braço da Presidência da República no período militar.
“A história de Volta Redonda se
confunde com a história da CSN”, diz o procurador da República Júlio
José Araújo, que vem acompanhando o trabalho dos 37 pesquisadores. Ele
conta que desde o ano passado algumas reuniões já estavam acontecendo.
“Fizemos algumas visitas técnicas que constataram que havia fichas de
trabalhadores perseguidos pelo AI-5 (Ato Institucional número 5)”.
No dia 12 de fevereiro desse ano
finalmente o acordo foi firmado na sede do Ministério Público Federal
(MPF) em Volta Redonda. “Esse acordo representa um avanço na questão do
direito à verdade e à memória porque vai permitir reconstruir a história
da empresa e parte da história de Volta Redonda.” A CSN concordou em
franquear o acesso aos arquivos da empresa relacionados ao período
anterior à privatização.
A coordenação do trabalho está a cargo do
Edgard Bedê, cuja expectativa é que o trabalho dure pelo menos mais um
ano. Ele diz que o trabalho da equipe é voluntário e que deve durar pelo
menos mais um ano. “Já estamos no arquivo central, que é o principal,
onde estão os documentos mais importantes. São 25 mil caixas com todo
tipo de documentação e cerca de 30 mil fotos”.
Em busca da memória dos trabalhadores
Para o presidente da Comissão Estadual da
Verdade do Rio, Wadih Damous, é bom lembrar que Volta Redonda teve
importância primordial durante a ditadura militar.
“A CSN se valia das chamadas listas negras e as
submetia a análises para perseguir os trabalhadores. Estes, por sua
vez, eram muito atuantes. O sindicato dos metalúrgicos também era muito
forte. É a memória desses trabalhadores que queremos recuperar”,
afirmou.
Nesta primeira fase do trabalho, os
pesquisadores das Comissões da Verdade do Rio e de Volta Redonda se
direcionaram às 25 mil caixas do Arquivo Central da CSN, que abrangem o
período de 1940 até os dias atuais. De acordo com eles, a documentação
está conservada e guardada em boas condições.
Na segunda fase, os pesquisadores se debruçarão
sobre os arquivos de Recursos Humanos e os do Escritório Central e, por
fim, os da Fábrica de Estruturas Metálicas (FEM), localizados na
Fábrica de Oxigênio (FOX), subsidiária da CSN, também em Volta Redonda.
Esse trabalho é importante para localizar os arquivos da Assessoria de
Segurança e Informação.http://odia.ig.com.br/odiaestado/2015-04-07/csn-tinha-braco-da-ditadura.html