Um homem na Suécia oferece até US$ 2.000 para quem conseguir invadir o site do seu senhorio. Uma mulher da Califórnia promete pagar US$ 500 para quem lhe der acesso às contas de Facebook e Gmail do seu namorado, para que ela saiba se ele a trai.
Hackear computadores não é mais atividade exclusiva de agências de
inteligência, quadrilhas internacionais e "hacktivistas" insatisfeitos,
tendo grandes alvos em sua mira. Em lugar disso, está se tornando uma
empreitada cada vez mais individual.
Numa altura em que gigantescas infiltrações em empresas como Sony
Pictures, JPMorgan Chase e Home Depot chamam a atenção, espionagens
menores são menos notadas.
Um novo site chamado Hacker's List coloca hackers em contato com pessoas
que desejam acessar contas de e-mail alheias, retirar fotos
constrangedoras de sites ou entrar no banco de dados de uma empresa.
Em três meses desde a sua inauguração, em novembro, mais de 500
trabalhos para hackers foram oferecidos no site. É tudo feito
anonimamente, e o operador do site recolhe uma taxa a cada tarefa
concluída. O site se compromete a reter o valor pago pelo cliente até
que o trabalho esteja pronto.
Ao longo de alguns dias, várias ofertas para hackers, com valores de US$
100 a US$ 5.000, surgiram do mundo todo. Num dia recente, o site,
registrado na Nova Zelândia, listava mais de 680 trabalhos e 1.800
hackers.
Um contratante que disse viver na Austrália estava disposto a pagar até
US$ 2.000 para conseguir uma lista de clientes no banco de dados de um
concorrente, segundo uma postagem recente. "Quero saber quem são seus
clientes e quanto cobram deles", escreveu o interessado. Outros pediam
para recuperar uma senha perdida ou alterar uma nota escolar.
O Hacker's List mostra como pequenas invasões digitais se banalizaram e
como essa atividade desafia as autoridades, cada vez mais preocupadas
com a segurança dos dados.
O site recebeu comentários favoráveis do hackerforhirereview.com, especializado em avaliar a legitimidade desse tipo de serviço.
Algumas das tarefas solicitadas no Hacker's List -como invadir uma conta de e-mail alheia- são ilegais.
Os criadores do Hacker's List, porém, alegam que estão isentos de
qualquer responsabilidade judicial, porque nem endossam nem toleram
violações da lei. O site inclui uma seção de dez páginas com termos e
condições, nas quais fica proibido seu uso "para quaisquer fins
ilegais".
Alguns especialistas dizem que não está claro se o Hacker's List está
fazendo algo de errado ao servir como um ponto de encontro.
Yalkin Demirkaya, presidente da empresa de investigação privada Cyber
Diligence e ex-comandante do grupo de crimes informáticos da Polícia de
Nova York, disse que a repressão ao site dependeria de as autoridades
policiais verem isso como uma prioridade. Segundo ele, o Hacker's List
poderá se safar porque muitas das pessoas que publicam anúncios
"provavelmente estão no exterior".
Mas Thomas Brown, ex-funcionário do Ministério Público americano em
Manhattan, disse que sites que oferecem "hackers de aluguel" causam
problemas. "Hackers de aluguel podem permitir que indivíduos não
técnicos lancem ataques cibernéticos que podem ser negados até certo
ponto", disse Brown.
Os três fundadores do Hacker's List não querem revelar publicamente suas
identidades -ao menos não por enquanto. Depois de se registrar no site e
iniciar uma conversa por e-mail, um repórter fez contato com um dos
fundadores.
Essa pessoa, que se identificou apenas como Jack, disse em e-mails que
ele e dois amigos fundaram o Hacker's List e que sua sede fica no
Colorado. Jack disse que seus sócios incluem uma pessoa com mestrado em
administração de empresas e um advogado.
Segundo ele, os três foram aconselhados por sua assessoria jurídica
sobre como estruturar o site de modo a evitar responsabilidades por
irregularidades cometidas por pessoas que procuram hackers ou por
hackers que aceitem um trabalho. A empresa, segundo ele, tenta assegurar
que os hackers não são vigaristas.
O site do Hacker's List foi ao ar há alguns meses, depois que promotores
federais e agentes do FBI em Los Angeles concluíram uma ofensiva de
dois anos contra a indústria dos hackers de aluguel. A investigação
levou a acusações criminais em vários lugares dos EUA contra mais de uma
dúzia de pessoas envolvidas em violações de contas de e-mail ou na
contratação de hackers para esse tipo de atividade.
A investigação do FBI também contou com a cooperação de autoridades da
China, da Índia e da Romênia, porque vários sites onde os hackers
anunciavam suas habilidades funcionavam no exterior.
Apesar disso, o mercado para os hackers -entre os quais muitos cumprem
as leis e atuam mais como investigadores digitais- não dá sinais de
desaceleração.
David Larwson, diretor de operações da empresa NeighborhoodHacker.com,
registrada no Colorado, disse ter observado um aumento da demanda por
parte de empresas que desejam ter certeza de que seus funcionários não
estão obtendo informações sigilosas. Por e-mail, ele disse que essas
companhias estão cada vez mais atentas a uma "ameaça interna" que leve a
vazamentos.
Em seu site, o NeighborhoodHacker se descreve como uma empresa de
"hackers éticos e certificados" que trabalha com seus clientes para
"proteger dados, senhas e a segurança das crianças".http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/02/1586541-site-oferece-hackers-de-aluguel-para-servicos-como-invadir-e-mails.shtml