As denúncias de violações aos direitos de crianças e adolescentes
aumentaram 15,6% durante a Copa do Mundo (12 de junho a 13 de julho
deste ano) na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foi
disputada no Brasil a Copa das Confederações. Os dados são do Disque
100 e foram divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da
Presidência da República. Durante a Copa do Mundo, foram feitas 11.251
denúncias de abusos contra crianas e adolescentes e, durante da Copa das
Confederações, 9.730.
Uma denúncia pode se desdobrar em vários tipos de violação. No total,
foram 22.437 violações. Os casos de negligência, que geralmente
acompanham as demais violações, foram os mais numerosos, 7.810. Em
seguida, aparecem casos de violência psicológica (5.587), violência
física (5.093), violência sexual (2.972) e exploração do trabalho
infantil (726).
"[As denúncias] são resultado de muito trabalho de campanha, de
chamamento para essa responsabilidade. Não houve aumento só nas cidades
que sediaram eventos da Copa. Fizemos um aprofundamento, intensificando
todas as campanhas em todo o território nacional", disse a secretária
nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Angélica
Goulart.
Segundo Angélica, o maior número de denúncias não significa, necessariamente, aumento dos casos de violação.
O levantamento mostra que juntos, os 12 estados-sede da Copa do
Mundo somaram 7.756 denúncias, o que corresponde a 68,9% do total. São
Paulo teve o maior volume de denúncias, 1.762. O Rio de Janeiro aparece
em segundo lugar, com 1.291, e a Bahia, em terceiro, com 789.
De acordo com ela, em todo o país, 25 denúncias de abuso contra
crianças e adolescentes relacionaram a violação diretamente à Copa do
Mundo, e a maioria envolvia trabalho infantil e exploração sexual. "O
trabalho infantil aparece aqui. Isso é positivo porque, até então, não
havia reconhecimento da sociedade de que aquele trabalho era violação. É
uma violação muito invisível. No momento que há maior consciência do
trabalho infantil, isso reflete no aumento de denúncias. É uma
ocorrência que foi constatada e merece atenção", disse Angélica.
Segundo a SDH, foram registradas 1.068 ocorrências de violações dos
direitos de criaças e adolescentes nos plantões feitos nas capitais-sede
dos jogos do Mundial, em pontos focais. Dessas, 251 referiam-se a
trabalho infantil, 93 a crianças perdidas ou desacompanhadas de adulto,
17 a exploração sexual e 35 a crianças em situação de rua. Além disso,
foram denunciados 448 fatos não classificados nessas categorias.
O governo fará uma análise mais aprofundada dos dados colhidos
durante a Copa e prepara um levantamento detalhado com o que foi
constatado em cada estado, nos comitês locais da Agenda de Convergência
para a proteção integral a crianças e adolescentes. Segundo a SDH, as
ações devem continuar para além do período do Mundial.
A cientista política Perla Ribeiro, que representa a Associação
Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced) na
articulação das redes da sociedade civil na Agenda de Convergência,
ressalta, porém, que ligar para o Disque 100 e fazer a denúncia torna
mais visivel a violação, mas não garante o atendimento e a solução dos
casos. "[Os números do] Disque 100 são as denúncias. A partir do que se
denuncia, é que se vai verificar os casos. Acredito que haja uma
subnotificação muito grande", destacou a cientista política.
Perla criticou a falta de legado para a defesa das crianças e
adolescentes nas cidades-sede. "O que se observa é que as redes não dão
conta da demanda que têm. A articulação começou tardia", observou.
"Tínhamos a expectativa de que [a Copa] pudesse fortalecer o sistema
de garantia de direitos, mas não viu se ninguém colocando no
financiamento, não virou uma política pública ou entrou no orçamento",
complementou Tiana Sento-Sé, membro da Coordenação da Rede ECPAT Brasil,
coalizão de organizações da sociedade civil que trabalham para a
eliminação da exploração sexual de crianças e adolescentes. "O que se
fez foi montar atendimentos temporários que duraram enquanto durou a
Copa. Agora voltamos aos abrigos sem estrutur, aos conselhos que não dão
conta das demandas", lamentou.http://folhadointerior.com.br/v2/page/noticiasdtl.asp?t=N%DAMERO+DE+DEN%DANCIAS+ENVOLVENDO+CRIAN%C7AS+E+ADOLESCENTES+AUMENTOU+NA+COPA&id=70097