Toda eleição é imprevisível, mas algumas são mais do que outras. A de
2014, cuja campanha começa a ganhar força a partir de agora, é uma
dessas.
Parte disso, acredito, é devido a uma situação ambígua: o forte desejo por mudanças que as pesquisas detectam, vem acompanhada por um elemento de retorno ao passado.
Nas pesquisas a principal pergunta, tomada isoladamente, que mostra a vontade de mudar é aquela que indaga se o próximo presidente deve agir de forma igual ou diferente do atual. Em junho, o Datafolha apontou que 74% dos entrevistados desejam ações diferentes das de Dilma.
Acresça-se a isto a perspectiva pessimista em relação a temas como inflação (vai aumentar no futuro na opinião de 64% das pessoas) e desemprego (vai piorar para 48%, ainda segundo o Datafolha), e se pode intuir que a mudança desejada tem a ver sobretudo com a situação econômica.
No entanto, ao ser perguntado sobre qual seria a pessoa mais preparada para efetuar esta mudança, o futuro aponta para o passado. A maioria dos eleitores (35%) escolhe um (até aqui) não candidato: o ex-presidente Lula, seguido por Aécio (21%) e a própria Dilma (16%).
O futuro seria melhor se retomasse, de alguma forma, o que já passou. Deste sentimento difuso, qualquer um dos candidatos pode se beneficiar.
A figura de Lula talvez expresse uma sensação, uma leve nostalgia, de que a vida deixou de melhorar – lembrando que na “Era Lula” cerca de 29 milhões de pessoas ingressaram na chamada ‘nova classe média’ ou ‘classe C’, aqueles que tem renda familiar entre dois e cinco salários mínimos, em um período de crescimento econômico.
Esta “nova classe média” corresponde a cerca de 36% do eleitorado, onde a candidata governista perdeu terreno nos últimos meses (na faixa de renda imediatamente abaixo, entre 0 e 2 mínimos, que corresponde a cerca de 42% dos eleitores, Dilma supera seus adversários com mais vantagem – neste segmento ela tem se mantido relativamente estável).
Se a vida deixou de melhorar – especialmente para as pessoas que experimentaram melhoras nos últimos anos – ou não, este será um tema a ser explorado pelos candidatos na campanha.
Seja como for, arrisco um palpite, no que diz respeito à chamada nova classe média. Não é só a inflação, que até aqui não está muito distante da dos anos passados, que incomoda. Mas que o acesso ao consumo que de fato ocorreu – a TV de plasma, o celular, o computador, a nova motocicleta, o carro, o lanche fora, a viagem etc – gera novas pressões de gastos, afinal com a TV vem o canal pago, o celular embute planos, o computador pede banda larga, a motocicleta precisa de manutenção e assim vai. Isto para não falar do crediário e seus juros muitas vezes escondido.
Como, porém, a renda, no final das contas não é tão alta assim, ou frequentemente irregular, o cidadão pode ficar espremido entre seus novos desejos e as limitações monetárias – aí, por exemplo, a inflação, antes não sentida como problema imediato, passa a ser.
O desejo de mudança (voltar a melhorar) vem acompanhado de um desejo de permanência (da melhora alcançada). Mudança e permanência revelam, por sua vez, um sentimento mais complexo do eleitor. Qual candidato conseguirá interpretar este mix?https://br.noticias.yahoo.com/blogs/rogerio-jordao/eleitor-quer-mudan%C3%A7a-e-perman%C3%AAncia--mostram-pesquisas-143531272.html
Parte disso, acredito, é devido a uma situação ambígua: o forte desejo por mudanças que as pesquisas detectam, vem acompanhada por um elemento de retorno ao passado.
Nas pesquisas a principal pergunta, tomada isoladamente, que mostra a vontade de mudar é aquela que indaga se o próximo presidente deve agir de forma igual ou diferente do atual. Em junho, o Datafolha apontou que 74% dos entrevistados desejam ações diferentes das de Dilma.
Acresça-se a isto a perspectiva pessimista em relação a temas como inflação (vai aumentar no futuro na opinião de 64% das pessoas) e desemprego (vai piorar para 48%, ainda segundo o Datafolha), e se pode intuir que a mudança desejada tem a ver sobretudo com a situação econômica.
No entanto, ao ser perguntado sobre qual seria a pessoa mais preparada para efetuar esta mudança, o futuro aponta para o passado. A maioria dos eleitores (35%) escolhe um (até aqui) não candidato: o ex-presidente Lula, seguido por Aécio (21%) e a própria Dilma (16%).
O futuro seria melhor se retomasse, de alguma forma, o que já passou. Deste sentimento difuso, qualquer um dos candidatos pode se beneficiar.
A figura de Lula talvez expresse uma sensação, uma leve nostalgia, de que a vida deixou de melhorar – lembrando que na “Era Lula” cerca de 29 milhões de pessoas ingressaram na chamada ‘nova classe média’ ou ‘classe C’, aqueles que tem renda familiar entre dois e cinco salários mínimos, em um período de crescimento econômico.
Esta “nova classe média” corresponde a cerca de 36% do eleitorado, onde a candidata governista perdeu terreno nos últimos meses (na faixa de renda imediatamente abaixo, entre 0 e 2 mínimos, que corresponde a cerca de 42% dos eleitores, Dilma supera seus adversários com mais vantagem – neste segmento ela tem se mantido relativamente estável).
Se a vida deixou de melhorar – especialmente para as pessoas que experimentaram melhoras nos últimos anos – ou não, este será um tema a ser explorado pelos candidatos na campanha.
Seja como for, arrisco um palpite, no que diz respeito à chamada nova classe média. Não é só a inflação, que até aqui não está muito distante da dos anos passados, que incomoda. Mas que o acesso ao consumo que de fato ocorreu – a TV de plasma, o celular, o computador, a nova motocicleta, o carro, o lanche fora, a viagem etc – gera novas pressões de gastos, afinal com a TV vem o canal pago, o celular embute planos, o computador pede banda larga, a motocicleta precisa de manutenção e assim vai. Isto para não falar do crediário e seus juros muitas vezes escondido.
Como, porém, a renda, no final das contas não é tão alta assim, ou frequentemente irregular, o cidadão pode ficar espremido entre seus novos desejos e as limitações monetárias – aí, por exemplo, a inflação, antes não sentida como problema imediato, passa a ser.
O desejo de mudança (voltar a melhorar) vem acompanhado de um desejo de permanência (da melhora alcançada). Mudança e permanência revelam, por sua vez, um sentimento mais complexo do eleitor. Qual candidato conseguirá interpretar este mix?https://br.noticias.yahoo.com/blogs/rogerio-jordao/eleitor-quer-mudan%C3%A7a-e-perman%C3%AAncia--mostram-pesquisas-143531272.html