Livro disponível em blog de programa da secretaria municipal sugere o plantio da droga
Rio:Plantar maconha para consumo próprio ou frequentar cultos da seita Santo Daime. Essas são duas das polêmicas alternativas para a redução de danos à saúde de dependentes químicos, abordadas no livro ‘Drogas: Clínica e Cultura/Toxicomanias, Incidências Clínicas e Socioantropológicas’, recomendado pela Coordenação Saúde Mental, programa da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil.
Arte: O Dia
Na página 248 da publicação, Antônio Nery Filho e mais três autores — Edward MacRae, Luiz Alberto Tavares, Marlize Rêgo —, defendem a liberação e a regulamentação do porte, cultivo e distribuição não comercial de cannabis sativa (maconha). “Uma outra dimensão do plantio, cultivo, semeio e colheita pode ser vislumbrada, não como ato não permitido, mas como efetivo e eficaz mecanismo de redução de danos”, diz o texto.
Na mesma página os escritores justificam: “Permitindo ao usuário produzir a droga que consome, o Estado estaria contribuindo com a não inserção (do viciado) no mundo da violência e do tráfico, e em face da segurança e integridade física e emocional, como sua própria saúde”. Já na página 248, uma ‘dica’ inusitada e perigosa: “... 100 gramas de maconha podem ser considerados uma quantidade razoável para um usuário diário”.
A seita Santo Daime, doutrina surgida na região amazônica e cujo um dos adeptos, fora de si, matou o cartunista Glauco em 2010, surpreendentemente é considerada pelos autores no livro como “exemplo de redução de danos”. Na seita, bebe-se um chá com propriedades alucinógenas.
Associação pede mais tratamento
O presidente da Associação dos Dependentes Químicos em Recuperação, Marcelo da Rocha, não poupou críticas ao conteúdo do livro e ao governo municipal. Em audiência pública sobre drogas na Assembleia Legislativa, quinta-feira, ele deixou claro sua indignação.
“O que está por trás disso é uma política nefasta de legalização das drogas. Defendemos ajuda para quem, por algum motivo, acreditou que seria bom usar drogas, e teve suas vidas e de suas famílias destruídas, mas agora quer recomeçar tudo sem usar drogas”, afirmou.
De acordo com ele, nos únicos três Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) do município, que tratam pessoas com transtornos mentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas, os usuários têm sido recomendados a “mudar de droga” e não a parar com o vício. Semana passada, O DIA mostrou com exclusividade a precariedade no atendimento nas clínicas mantidas pelo governo estadual.
Secretaria diz que blog é de funcionários
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil alegou que o livro é utilizado de forma acadêmica por diversos profissionais da saúde mental no país e que o conteúdo é de responsabilidade de seus autores, sem qualquer ligação com o órgão da prefeitura. “A secretaria tem papel histórico no combate ao uso de drogas neste município, tendo como missão a defesa da vida e a não exclusão de qualquer paciente do sistema de saúde”, diz o texto.
O órgão frisa que é responsável pelo tratamento de mais de 3.500 usuários de drogas e trabalha com a política de redução de danos seguindo as determinações da Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde.
A secretaria afirma que o livro é “uma publicação oficial da Universidade Federal da Bahia e reconhecido pelo Scielo Book, o principal portal acadêmico no Brasil”. E também que não distribui exemplares da publicação: “O blog citado é iniciativa dos funcionários da Coordenação de Saúde Mental da secretaria. A publicação não integra o site oficial da SMSDC e não expressa a opinião da secretaria”. Mas o órgão não explicou, no entanto, porque permite sua logomarca oficial no espaço.http://odia.ig.com.br/portal/rio/sa%C3%BAde-defende-a-maconha-1.439638