Com o objetivo de buscar maior aproximação do setor industrial para o protagonismo das engenharias no Estado do Rio de Janeiro, o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ), engenheiro Miguel Fernández, liderou comitivas, nos dias 30 e 31 de julho, em visitas técnicas a três indústrias localizadas na Região Sul fluminense: a Stellantis, que produz por dia 300 unidades de automóveis Peugeot e Citroen, em Porto Real; as Indústrias Nucleares do Brasil, que fabrica o elemento combustível das usinas nucleares, em Engenheiro Passos; e a Companhia Siderúrgica Nacional, uma das maiores da América Latina, que registra produção anual de 3,5 milhões de toneladas de aço.
“O CREA foca bastante na construção civil e, às vezes, esquece da área fabril, da indústria, que é muito relevante para a economia fluminense e do país. Quero trazer essa dinâmica para discussão no Conselho”, afirmou Fernández que, assim como os integrantes das comitivas, ficou impressionado com os avanços tecnológicos da indústria fluminense.
A visita mais longa foi à Usina Presidente Vargas, uma unidade da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, a 132 quilômetros do Rio. Realizado na quinta-feira, dia 31 de julho, de 9h às 17h, o tour percorreu áreas fundamentais para a produção de aço: a aciaria, que transforma o ferro gusa e a sucata em aço; a laminação a quente; e uma linha contínua de galvanização, onde ocorre a deposição de camada de zinco para proteger o aço contra a corrosão. “Os visitantes percorreram as instalações, que estão numa área total de 3,5 quilômetros quadrados, num cenário que lembra o filme Mad Max”, observou o presidente do CREA-RJ, impressionado com o fogo dos fornos da usina.
“É muito importante a gente poder visitar e conhecer a primeira siderúrgica brasileira, em Volta Redonda, mostrando que a engenharia do Rio de Janeiro é pujante. Ela também é formada por grandes indústrias e indústrias de base que empregam engenheiros e engenheiras e que geram e trazem retorno à nossa economia nacional, à economia do Rio de Janeiro. O CREA tem que estar atuante na sua fiscalização e na sua ação em todos os segmentos das engenharias. Parabéns à Companhia Siderúrgica Nacional, que se reinventa depois de muitos anos, sempre atendendo às questões ambientais e sociais do nosso estado”, afirmou o presidente do CREA-RJ, após participar da visita à usina.
Responsável por 65% da arrecadação de Volta Redonda, a CSN gera um em cada quatro empregos na cidade de mais de 261 mil habitantes – o que equivale a um total de 22 mil empregos. Inaugurada em 1941 pelo governo Getúlio Vargas, como resultado de uma oferta dos Estados Unidos em troca da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, do lado dos americanos, a CSN foi privatizada em 1993. Seu principal acionista e presidente do conselho de administração é o empresário Benjamin Steinbruch. Um dos mais eficientes complexos siderúrgicos integrados do mundo, a CSN atua com destaque em cinco setores: siderurgia, mineração, logística, cimento e energia.
O presidente do CREA-RJ, Miguel Fernández, foi recebido pelo diretor-executivo de produção da CSN, o engenheiro metalúrgico Marcio Lins, que manifestou satisfação com o encontro e a visita histórica da delegação do CREA.
“É uma honra estar recebendo aqui a delegação do CREA-RJ. A CSN tem nos seus quadros centenas de engenheiros de todas as especialidades, desde o químico, civil, metalúrgico, mecânico e elétrico. Eu mesmo sou um engenheiro metalúrgico, formado na UFF. A CSN é uma indústria de base e dá sustento a várias atividades industriais no nosso país, tanto no nosso estado, quanto nos demais campos do país”, destacou Lins.
Na apresentação feita aos visitantes, o gerente geral de desenvolvimento de produtos, Eduardo Côrtes, explicou o funcionamento da usina siderúrgica que trabalha 24 horas por dia, sempre com “a melhoria contínua dos processos com um rigoroso sistema de qualidade, buscando sempre a excelência no serviço e o respeito ambiental”.
Participaram da visita à CSN cerca de 25 pessoas, entre as quais a presidente da Associação de Arquitetos e Engenheiros de Volta Redonda, a arquiteta Tatiane Telemos; a supervisora da fiscalização da região Sul do CREA-RJ, engenheira Neide Aparecida dos Santos; e assessores da presidência, além de 12 conselheiros do CREA-RJ e integrantes da Câmara Especializada em Engenharia Mecânica e Metalurgia, entre os quais o engenheiro metalúrgico José Eduardo Ribeiro de Carvalho, que trabalho por 33 anos na CSN. Com seu conhecimento, fez a conexão entre a presidência do CREA e a direção da CSN.
“A ideia da visita nasceu na Câmara de Engenharia Mecânica e Metalurgia, onde nós, conselheiros, fomos solicitados a apresentar propostas de visita a empresas e também de participação em eventos. Como atuei na CSN por 33 anos, considerei importante visitarmos a empresa, que é um campo muito fértil de aplicação de engenharia. Visitas técnicas como essa da CSN são espetaculares, uma excelente forma de aprimorarmos nossos conhecimentos tecnológicos”, que é conselheiro do CREA desde o ano passado.
O resultado do trabalho da CSN é conhecido de qualquer pessoa por meio de bens de consumo como os da linha branca, além de veículos automotores e máquinas pesadas do agronegócio e da indústria brasileira em geral. Os veículos automotivos, por exemplo, empregam hoje um aço que, pouca gente sabe, mas é responsável por salvar vidas em acidentes de trânsito porque absorve mais o impacto das colisões. No passado, o aço dos veículos era mais duro e, por isso, quase ninguém escapava nas batidas mais violentas.
Com o uso de equipamentos de proteção individual emprestados pela CSN (capacetes, óculos de proteção, botas, luvas e protetores auriculares), os visitantes tiveram que enfrentar temperaturas entre 30 e 40 graus centígrados na passarela diante dos fornos no setor de laminação a quente. Ali eles puderam ver as placas de aço incandescentes saindo dos fornos numa temperatura de 1.150 graus centígrados e deslizando rapidamente sobre uma esteira rolante até chegarem ao resfriamento, terem a espessura reduzida e virarem bobinas, algumas ainda incandescentes, com cerca de 500 graus centígrados. Um belo espetáculo visual.
As visitas técnicas do CREA-RJ começaram na quarta-feira, dia 30 de julho, com uma passagem pela Stellantis, no município de Porto Real, a 158 quilômetros do Rio de Janeiro. Naquela unidade fabril, são produzidos 300 veículos automotores por dia. Participaram da comitiva assessores da presidência do CREA-RJ e a presidente do Sindicato de Engenheiros de Volta Redonda, Neide Aparecida dos Santos, que é supervisora da fiscalização do CREA-RJ na região Sul do estado.
O presidente do CREA-RJ destacou a importância das visitas para aprimorar o diálogo entre o Conselho e as indústrias do estado.
“Nossa agenda tem o foco na região industrial do Estado do Rio. A montadora de automóveis Stellantis, que emprega duas mil pessoas, é uma referência de engenharia. Dá orgulho de ver uma fábrica dessa qualidade. A gente tem que enxergar que engenharia não é só obra civil. Ela está também na linha de produção industrial. Portanto faz parte do projeto de defesa dos interesses do nosso setor”, explicou Miguel Fernández.
Em seguida, a comitiva partiu para a Fábrica de Combustível Nuclear, que pertence à INB (Indústrias Nucleares do Brasil), em Engenheiro Passos, a 300 quilômetros do Rio de Janeiro. A empresa foi inaugurada em 1982 pelo então presidente, o general João Baptista Figueiredo. Dessa visita participou também o engenheiro Thomas Landim, que é inspetor do CREA-RJ em Resende e secretário de obras do município de Resende. Na companhia do engenheiro Luiz Mesa, que trabalha na INB, o grupo fez um tour pela linha de montagem que produz as varetas de U-Gadolínio com pastilhas enriquecidas de urânio, uma espécie de pilha para o funcionamento da usina nuclear. As varetas são estocadas e transportadas pela rodovia para as usinas nucleares de Angra dos Reis. Naquela fábrica, atuam cerca de 200 engenheiros, a maioria no setor químico.
Depois de ser recebido pelo superintendente administrativo da fábrica, Caetano Monte Alto, o presidente do CREA-RJ se reuniu com 14 engenheiros que trabalham na INB. Fernández antecipou aos profissionais que a partir do dia 26 de agosto o CREA-RJ viverá uma grande mudança tecnológica, com a criação do aplicativo de serviços para os 100 mil engenheiros e 20 mil empresas registradas no CREA. Esse ingresso do CREA no mundo digital vai resultar em benefícios econômicos para os engenheiros, como redução do valor da anuidade e de certidões, lembrou o presidente do CREA-RJ. Nesse encontro, Fernández reforçou a importância de os profissionais de engenharia se engajarem na luta pela valorização do setor e da profissão.