Estudo aponta avanço expressivo no alinhamento das instituições de fomento aos ODSs e reforça oportunidades em áreas como educação e igualdade de gênero


 

Foto: Aluana Cortezini

 

Mais de R$ 2 trilhões em financiamentos concedidos pelo Sistema Nacional de Fomento (SNF) foram alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU entre 2020 e 2023. O dado faz parte da nova edição da metodologia desenvolvida pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançada durante o 10º Fórum de Desenvolvimento - Sustentabilidade: oportunidades e desafios para o Brasil, realizado nesta quarta-feira (6/8), em São Paulo, com o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
 

Segundo o estudo, o volume anual de recursos alinhados aos ODS cresceu 46% entre 2020 e 2023, passando de R$ 413,5 bilhões em 2020 para R$ 454,6 bilhões em 2021, R$ 563,1 bilhões em 2022 e R$ 603,8 bilhões em 2023, o que demonstra o fortalecimento do compromisso das instituições de fomento com a Agenda 2030. O levantamento consolida o papel estratégico do SNF — composto por bancos de desenvolvimento, agências de fomento e cooperativas de crédito — no financiamento de políticas públicas sustentáveis, inclusivas e inovadoras em todo o país.
 

“O mundo precisa de mais financiamento na direção dos ODS para avançar a Agenda 2030. É essencial melhorar o direcionamento dos fluxos de capitais, especialmente num contexto internacional de incertezas”, afirmou Cristiano Prado, coordenador da Unidade de Desenvolvimento Socioeconômico do PNUD no Brasil.
 

O estudo também revela que 75% do total de recursos mapeados estão concentrados em quatro ODS prioritários: o ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), que representa 25%; o ODS 9 (Indústria, inovação e infraestrutura), com 23%; o ODS 11 (Cidades e comunidades sustentáveis), com 18%; e o ODS 2 (Fome zero e agricultura sustentável), com 9% do total. Esses resultados refletem a vocação histórica do sistema de fomento em áreas como infraestrutura, desenvolvimento produtivo, agropecuária e urbanização sustentável.
 

Contudo, outras metas globais seguem com baixa representatividade. A igualdade de gênero (ODS 5), por exemplo, representa apenas 0,01% do total mapeado, enquanto a educação de qualidade (ODS 4) responde por apenas 0,27%. Para os autores do estudo, esse é justamente um ponto de atenção — e uma oportunidade concreta de avanço.
 


“São dados que mostram não apenas o volume, mas a qualidade do direcionamento dos recursos. Nosso objetivo é usar a força do financiamento ao desenvolvimento como uma alavanca para acelerar outras agendas estratégicas para o país”, afirmou a presidenta da ABDE, Maria Fernanda Coelho.

Expansão do impacto sem reformulação estrutural
 

“Como ampliar o impacto do crédito nos demais ODS sem alterar a estrutura dos financiamentos? A resposta está na transversalização: incorporar critérios sociais e ambientais às operações já existentes”, destacou Prado.


A proposta da ABDE e do PNUD é que as instituições de fomento ampliem o alcance da sua atuação de forma transversal, utilizando o potencial dos créditos já concedidos — especialmente nas áreas econômicas — para estimular o avanço em áreas como educação, igualdade, governança e meio ambiente.
 

Na prática, isso significa, por exemplo, estimular a contratação de mulheres e jovens em projetos apoiados, incluir critérios educacionais em iniciativas de habitação ou promover inclusão social em linhas de crédito voltadas ao setor produtivo rural. Essa integração não exige novas linhas de crédito, mas mudanças na forma como os critérios são aplicados e monitorados.
 


Ferramenta de gestão e transparência

A metodologia desenvolvida pela ABDE e pelo PNUD também funciona como instrumento de gestão para as instituições do SNF, permitindo o monitoramento contínuo do impacto dos financiamentos. Além disso, reforça a importância da transparência, padronização de dados e articulação institucional no fortalecimento de uma estratégia nacional para o cumprimento da Agenda 2030 no Brasil.
 

A expectativa, segundo os organizadores, é de que a terceira edição da metodologia seja ainda mais robusta, incluindo novos indicadores e uma leitura territorial do impacto.