Prof. Me. Flávio Henrique Firmino afirma que o sucesso de vendas é explicado por uma tendência humana da busca de prazer e memórias afetivas
Os livros de colorir emergiram como um fenômeno cultural em um mundo cada vez mais acelerado e digital. Dez dos 20 livros mais vendidos em maio no Brasil são desse tipo, segundo dados do PublishNews. Mas, além do sucesso de vendas, essas atividades têm impacto no bem-estar psicológico. Para a Psicanálise, eles criam uma profunda conexão com o eu interior, conforme explica o Prof. Me. Flávio Henrique Firmino, Psicólogo e docente no Centro Universitário Facens, referência em metodologias inovadoras de educação nas áreas de engenharia, tecnologia, arquitetura e saúde.
Segundo Firmino, isso se explica pela tendência humana de buscar um retorno a momentos de prazer e satisfação que deixaram marcas em nossa memória. “Para a Psicanálise, pintar pode ser uma forma de voltar à infância, mais especificamente a momentos felizes, relaxantes e que causam menos ansiedade em comparação com a idade adulta. Pintar pode ser uma espécie de refúgio temporário em nossa própria infância”, detalha. A atividade de colorir também funciona como um acolhimento em meio às cobranças por produtividade e à constante sensação de aceleração da vida moderna. “É uma forma de resistência ao tempo regido por critérios de produtividade, alinhando-se com outras atividades lúdicas e artísticas como bordar, escrever, compor ou esculpir. Para o psicanalista Donald Winnicott, todas essas expressões são uma forma de brincar, essencial para expressar a espontaneidade e nos aproximar do ‘self verdadeiro’, um modo de ser mais autêntico e original”, explica Firmino.
Os benefícios psicológicos para aqueles que sentem prazer em colorir são notáveis:
No entanto, é preciso distinguir a atividade de colorir da terapia. “A palavra ‘terapia’ remete à tratamento, a um procedimento sistemático que busca tratar uma doença ou desordem em busca da restauração, manutenção ou ‘produção’ da saúde. Portanto, entendo que essas atividades carecem de elementos que permitam classificá-las como uma terapia, termo este que deve ser resguardado para nos referirmos a formas de tratamento sérias e consolidadas, conduzidas por uma profissional”, afirma Prof. Firmino. Contudo, ele enfatiza que “podemos sim considerar como uma forma de autocuidado, o qual está não no material em si (os livros para colorir), mas na qualidade da relação que as pessoas podem desenvolver com esses materiais, assim como com outros”. Para ele, também é crucial que o uso seja equilibrado. “Toda atividade feita em excesso pode ser problemática, a depender da relação que a pessoa tem com essa atividade. Se a pessoa estiver usando a atividade como uma forma de se isolar do mundo, isso pode ser o sintoma de certo sofrimento que precisa ser investigado e tratado da forma mais adequada, levando em conta todos os fatores que podem estar presentes (não só individuais, mas também coletivos/sociais) e sempre a partir de procedimentos fundamentados cientificamente”, conclui o especialista.
|