Valter Casarin é coordenador geral e científico da NPV
|
Quando se trata de fertilizantes, o equilíbrio é vital, a dose certa no momento certo permite que as culturas prosperem e ajudem a alimentar uma população mundial em crescimento. Mas o excesso pode prejudicar as lavouras, poluir o solo e a água e contribuir para o aquecimento global. Como, então, encontrar o equilíbrio ideal? Uma das soluções está no manejo correto para otimizar a aplicação de fertilizantes e limitar seu impacto sobre o ambiente.
Nunca houve tantas bocas para alimentar no mundo, mas a solução não é usar mais fertilizantes. O uso excessivo é uma das razões pelas quais o setor agrícola se tornou, pouco a pouco, uma das principais fontes de gases de efeito estufa nos últimos anos. Em 2014, o setor agrícola, incluindo a silvicultura e outros usos da terra, foi responsável por 24% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
É preciso proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, apoiar os agricultores. Mas, para isso, é necessário, antes de tudo, entender com precisão como os fertilizantes interagem com o solo e as culturas. O correto manejo dos fertilizantes permite encontrar formas viáveis de aumentar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que minimizamos ao máximo o impacto ambiental.
O desmatamento, especialmente em regiões tropicais, está fortemente associado à expansão agrícola. Quando os solos perdem produtividade por esgotamento de nutrientes ou manejo inadequado, a tendência é abrir novas áreas para cultivo — muitas vezes à custa de florestas nativas. Nesse contexto, os fertilizantes desempenham um papel essencial na intensificação sustentável da agricultura, ajudando a produzir mais alimentos em menos espaço.
O uso adequado de fertilizantes permite repor nutrientes essenciais ao solo e manter sua fertilidade ao longo do tempo. Isso significa que áreas já abertas para a agricultura podem continuar sendo produtivas, reduzindo a pressão por desmatamento. Em outras palavras: quando um solo bem nutrido produz mais por hectare, é possível atender à demanda crescente por alimentos sem abrir novas áreas.
De acordo com estimativas da FAO e de centros de pesquisa agronômica, entre 40% e 60% dos ganhos de produtividade agrícola nas últimas décadas estão ligados ao uso de fertilizantes. Isso demonstra que, longe de serem um problema, os fertilizantes são aliados da conservação ambiental, desde que aplicados com base em boas práticas.
Em países como o Brasil, onde a agropecuária é um dos principais vetores de desmatamento, o aumento da produtividade em áreas já convertidas é uma das principais estratégias para conciliar produção e conservação. O uso eficiente de fertilizantes em pastagens degradadas, por exemplo, pode dobrar a produtividade sem abrir um único hectare adicional. Isso é particularmente importante em biomas sensíveis como a Amazônia e o Cerrado.
A adubação correta e tecnificada é uma alternativa concreta à expansão agrícola baseada no desmatamento. Ao restaurar a fertilidade do solo e elevar a produtividade por hectare, os fertilizantes contribuem diretamente para a proteção de florestas, a mitigação das mudanças climáticas e a promoção de uma agricultura mais sustentável. A aplicação adequada de fertilizantes repõe os nutrientes essenciais que as plantas retiram do solo durante seu crescimento. Elementos como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), cálcio (Ca), magnésio (Mg), além de micronutrientes como zinco (Zn) e boro (B), são fundamentais para o desenvolvimento saudável das plantas.
Além do volume de produção, os fertilizantes têm impacto direto sobre a composição nutricional dos alimentos. A deficiência de nutrientes no solo pode levar à colheita de produtos pobres em proteínas, vitaminas e minerais — o que contribui para a chamada "fome oculta", quando há calorias suficientes, mas falta qualidade nutricional. Estudos mostram que a aplicação adequada de zinco e ferro, por exemplo, aumenta a concentração desses minerais em grãos como o arroz e o trigo — importante para combater a anemia e deficiências nutricionais. O enxofre é fundamental para a síntese de aminoácidos essenciais e melhora o teor de proteínas em leguminosas e oleaginosas. O potássio melhora a coloração, o sabor e o tempo de prateleira de frutas e hortaliças.
Em muitos países, os fertilizantes estão sendo usados como ferramentas de biofortificação agronômica — ou seja, a adição de nutrientes essenciais diretamente nas plantas, via solo ou foliar, para enriquecer os alimentos consumidos pela população. Essa abordagem é especialmente importante em regiões onde há alta prevalência de carências nutricionais e baixa diversidade alimentar.
O uso racional de fertilizantes não apenas aumenta a produção de alimentos, como também melhora sua qualidade nutricional, com impactos positivos sobre a saúde pública e a segurança alimentar. Ao nutrir o solo corretamente, garantimos plantas mais saudáveis, alimentos mais ricos e uma agricultura mais produtiva e sustentável.
*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP, Piracicaba, em 1994. Concluiu o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, em 1994, na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier, França, em 1999. Atualmente é professor do Programa SolloAgro, ESALQ/USP e Sócio-Diretor da Fertilità Consultoria Agronômica.
Sobre a NPV
A NPV - Nutrientes Para a Vida - nasceu com objetivo de melhorar a percepção da população urbana em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes para a saúde humana. Braço da fundação norte-americana NFL – Nutrients For Life - no Brasil, a NPV trabalha baseada em informações científicas. A NPV tem sua sede no Brasil, é mantida pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e operada pela Biomarketing. A iniciativa conta ainda com parceiros como: Esalq/USP, IAC, UFMT, UFLA e UFPR.