Artur Marques da Silva Filho*
Estudo da Organização Mundial do Turismo (OMT) projeta que, em 2024, o setor deverá recuperar totalmente os níveis pré-pandemia, com estimativas iniciais de crescimento de 2% acima dos níveis de 2019. Segundo o relatório, a contribuição econômica global da atividade foi de US$ 3,3 trilhões em 2023, o equivalente a 3% do PIB mundial. O impacto positivo é significativo em termos de criação de empregos, investimentos e melhoria da qualidade da vida.
É interessante notar que a região do planeta que apresentou o mais elevado nível de recuperação de visitantes em 2023 foi o Oriente Médio, com as visitas de estrangeiros ficando 22% acima de 2019. A Europa, área mais visitada do mundo, atingiu 94%; a África recuperou 96% dos turistas em relação a 2019, as Américas, 90% e a Ásia e o Pacífico, 65%.
Na análise dos números de 2023 e perspectivas para 2024, pode-se inferir que o Brasil dificilmente irá beneficiar-se de modo significativo da retomada do turismo global, pois a atividade, a despeito de todo o nosso potencial, continua incipiente em nosso país. Recebemos apenas 5,9 milhões de visitantes estrangeiros em 2023, segundo dados que acabam de ser divulgados pela Embratur. Retomamos os patamares pré-pandemia, mas seguimos numa posição bastante modesta no cenário mundial.
Para se ter ideia, a França recebeu 89 milhões de turistas e a Espanha 84 milhões no ano passado, segundo dados oficiais de seus governos. É imensa a desproporção dos dois líderes do ranking global em relação ao Brasil, em especial se considerarmos o tamanho de nosso território, a exuberância e diversidade de nossa paisagem, estâncias litorâneas, balneárias e climáticas, riqueza cultural, arquitetônica e gastronômica. Nenhuma nação tem tantas e múltiplas atrações como a nossa. A despeito disso estamos abaixo da 50ª posição dentre os países mais visitados.
Com a experiência de gerir a bem-sucedida rede de 23 unidades de lazer da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP), com um total de 1.456 apartamentos, cuja taxa média de ocupação é elevada o ano todo, acredito que o Brasil careça, há tempos, de um programa eficaz de desenvolvimento do turismo. Os ganhos seriam imensos em termos de criação de empregos, crescimento econômico e investimentos urbanos.
Trata-se de uma tarefa complexa, que inclui a realização de campanha global de comunicação, demonstrando tudo o que temos para oferecer aos turistas de todo o mundo. Também é importante melhorar as condições da segurança pública, cujos dados e manchetes são uma propaganda negativa do Brasil como destino. Porém, considero uma prioridade econômica o desenvolvimento do turismo. Em 2023, os 84 milhões de visitantes estrangeiros proporcionaram à Espanha uma receita de 108 bilhões de euros, ou 117,5 bilhões de dólares ou, ainda, 578 bilhões de reais.
Para se ter uma ideia, os valores, em nossa moeda, são bem maiores do que a soma dos orçamentos para 2024 do Governo de São Paulo (R$ 328 bilhões) e da prefeitura paulistana (R$ 110,7 bilhões). E estamos falando do Estado que tem a maior arrecadação nacional e da maior cidade brasileira. Não resta dúvida quanto à premência de um programa forte para o fomento do turismo.
*Artur Marques da Silva Filho, presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP).