- Fundação Roberto Marinho e Itaú Educação e Trabalho estabeleceram colaboração técnica com o Instituto Datafolha, a Conhecimento Social Estratégia e Gestão e a Rede Conhecimento Social para realizar uma pesquisa, que ouviu mais de 1,6 mil jovens que estão fora da escola, na faixa etária de 15 a 29 anos, em todo o território nacional, além de contar com etapa qualitativa junto a jovens e especialistas;
- Principal motivação dos jovens para voltar à escola é o desejo de obter um emprego melhor ou conseguir um emprego; segundo o estudo; no entanto, entre os principais impeditivos para a não conclusão da educação básica estão a necessidade de trabalhar e de cuidar da família.
São Paulo, março de 2024 – Mais de 9 milhões de jovens não concluíram a educação básica e não frequentam escolas, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua, módulo Educação, IBGE, 2022). A fim de compreender os principais motivos e consequências de não ter concluído a educação básica e não frequentar a escola, além de identificar a intenção dos jovens em retomar para as escolas, bem como investigar o potencial de iniciativas e políticas mais efetivas para promover o retorno, o Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho lançam a pesquisa inédita “Juventudes fora da escola”. O estudo é fruto de colaboração técnica com o Instituto Datafolha, a Conhecimento Social Estratégia e Gestão e a Rede Conhecimento Social e traz à tona a situação de violação do direito à educação, previsto nos artigos 205 e 208 da Constituição Federal, e aponta, à partir das perspectivas dos jovens e de especialistas, que não há modelo que funcione para todos.
Entre os principais achados da pesquisa está que 73% dos jovens pretendem concluir a educação básica. Destes, 28% possuem o fundamental incompleto, 16% o fundamental completo e 29% o ensino médio completo. “O fato de termos mais de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não frequentam a escola e não concluíram a educação básica revela uma preocupante 'tolerância' da sociedade brasileira em relação à exclusão educacional dos mais vulneráveis. A maioria desses jovens provém de famílias com renda per capita de até 1 salário-mínimo, sendo que sete em cada 10 são negros. É alarmante constatar que 86% deles já ultrapassaram a faixa etária adequada para frequentar o ensino regular. Enquanto para os jovens das camadas mais privilegiadas é praticamente uma formalidade concluir o ensino médio, para as juventudes mais vulneráveis, a violação do direito à educação não tem recebido o devido cuidado. Diante do custo social e econômico avassalador tanto para os jovens quanto para o país, torna-se essencial transformar essa tolerância em ação concreta: todos os setores da sociedade precisam unir esforços para viabilizar o retorno e a conclusão da educação básica para esses jovens.Não seremos uma nação justa e economicamente forte se permitirmos que dois em cada dez jovens cheguem à vida adulta sem ao menos o ensino médio", afirma Rosalina Soares, Assessora de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.
Outro destaque é que 77% dos jovens que saíram da escola e pretendem concluir o ensino médio têm intenção de cursar o ensino técnico, uma sinalização da importância do preparo para o mundo do trabalho na escola para que os que estão fora retornem à sala de aula.
A pesquisa ouviu mais de 1,6 mil jovens, de 15 a 29 anos, em todo o território nacional, além de contar com etapa qualitativa junto a jovens e especialistas O estudo será lançado nesta terça-feira (12), durante evento com o mesmo nome, “Juventudes fora da escola”, em São Paulo, com participação do poder público, setor produtivo e sociedade civil para debater os desafios e ações para combater a evasão escolar.
Entre as principais razões para terminar o ensino médio os jovens apontam a perspectiva de melhora da condição profissional, seja para ter um emprego melhor (37%) ou arrumar um emprego (15%), seguido pelo desejo de cursar uma faculdade (28%).
Já os 27% que responderam não pretender concluir o ensino médio, indicaram como principais razões para isso a necessidade de trabalhar (32%), seguida por precisar cuidar da família (17%). Do total de jovens ouvidos, 92% concordam que concluir a educação básica ajudaria a ter melhores oportunidades de trabalho. Na pesquisa qualitativa, os jovens reforçaram que a necessidade de trabalhar foi um dos motivadores para não concluírem os estudos, mas sinalizaram que não o teriam feito se soubessem que as oportunidades de trabalho para quem não concluiu o Ensino Médio são limitadas e precárias, se tivessem ajuda para conciliar o emprego e estudos e se a escola preparasse melhor para o Ensino Superior e mercado de trabalho.
Para Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho, a pesquisa reforça a urgência de políticas públicas e iniciativas intersetoriais para garantir educação de qualidade e preparo para o mundo do trabalho para as juventudes. “Os dados revelam a questão do mundo do trabalho como central na decisão desses jovens que estão fora da escola, seja na tomada de decisão para interromper os estudos, seja para retomá-los. Temos o compromisso constitucional de, na escola, formarmos profissionalmente os jovens, para que eles tenham condições de garantir inserção produtiva digna e dar sequência na carreira que desejarem optar. Fortalecer a Educação Profissional e Tecnológica é fundamental nesse sentido, para que os jovens tenham formação adequada e alinhada às tendências do mundo do trabalho, assim como é urgente criarmos condições para que essa parcela da população estude e tenha oportunidades profissionais”, avalia.
A saída da escola
A pesquisa mostra que, em média, os jovens interromperam os estudos há seis anos, tempo que se torna um grande desafio para que consigam retomar e concluir a educação básica. Além disso, 68% dos jovens que evadiram da escola informaram já terem reprovado de série ao menos uma vez.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi uma opção procurada por 35% dos jovens entrevistados para tentarem concluir os estudos, enquanto 7% fizeram o Exame Nacional para a Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). A etapa qualitativa da pesquisa mostrou que, para essa modalidade de ensino, as principais barreiras apontadas para finalizar a educação básica foram o horário de aulas incompatível com o de trabalho e a obrigatoriedade de aulas presenciais.
Políticas públicas para voltar aos estudos
A pesquisa ouviu os jovens sobre quais motivações os fariam voltar às aulas e concluir o ensino básico. A etapa qualitativa mostra que, principalmente, os jovens desejam ter opções de diversos modelos para concluir os estudos, conciliar estudo e trabalho, ter flexibilidade de horários, opções de estudarem on-line no Ensino Médio regular, EJA e técnico, auxílio-financeiro, creche para seus filhos, acolhimento e orientação.
Os dados mostram que para 41% seria necessário estudar em um horário e trabalhar no outro, 35% sugerem ter um auxílio financeiro mensal e 32% sinalizam a importância de ter creche para deixar os filhos enquanto estudam.
Quanto às modalidades de oferta da escola e do curso, 51% afirmaram que voltariam a estudar se as aulas fossem totalmente presenciais, 28% se fossem totalmente à distância, com professor on-line e 26% se o ensino fosse híbrido.
Já em relação ao horário das aulas, 62% voltariam a estudar se fosse no período noturno, 24% se fosse de manhã e 17% se tivessem horário flexível, para frequentar conforme a disponibilidade de tempo. Dos jovens ouvidos, 34% afirmaram que onde eles moram não têm escola com vaga disponível em horários compatíveis com sua disponibilidade.
Sobre como a escola e o curso poderiam ser mais atraentes para esses jovens que interromperam os estudos, as principais citações foram no sentido de se o curso para concluir os estudos fosse em menos tempo (43%); que o curso prepare para entrar em uma faculdade ou passar em concurso público (35%); e o conteúdo ser voltado para aprender uma profissão (31%).
Conexão e bem-estar
Ainda sobre as motivações para que esses jovens retomem e concluam os estudos, eles pedem que as aulas utilizem computadores e outros recursos tecnológicos (45%); ter aulas práticas, com oficinas e laboratórios para aprender fazendo (44%); e ter livro didático para o aluno levar para a casa (33%).
Sobre conexão, a pesquisa revela que 70% dos jovens que estão fora da escola nunca fizeram um curso on-line, 23% já fizeram e 7% não têm acesso à internet. Caso tivessem a oportunidade de estudar on-line, 58% conseguiriam e não teriam problemas de conexão, 25% conseguiriam, mas a conexão não é boa e poderia atrapalhar e 14% não conseguiriam acessar o curso.
No âmbito do bem-estar, sinalizam a importância de ter professores que ajudem a superar dificuldades com os estudos (52%); estar em uma escola com bom relacionamento entre professores e estudantes (36%); e ter apoio da família para concluir os estudos (36%).
Pesquisa com especialistas
O estudo ouviu, ainda, especialistas em educação, que apontaram a necessidade de a evasão escolar ser vista como um problema coletivo e social pelos governos. E que para solucioná-la é necessário um conjunto de soluções que dependem de atuação intersetorial no nível local e oferta de diversas modalidades de ensino.
Para os especialistas, a oferta de apenas uma solução ou modalidade de ensino será insuficiente para cobrir as demandas das diferentes faixas etárias, condições socioeconômicas, territorialidades (entre outras variáveis) e perfis demográficos dos jovens que estão fora da escola.
Sobre o Itaú Educação e Trabalho
O Itaú Educação e Trabalho (IET) faz parte da Fundação Itaú. Atua há quase duas décadas, em parceria com entidades civis e o poder público, para apoiar e incentivar a implantação de políticas de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) com foco em três eixos principais: ampliação do número de jovens inscritos na formação profissional, oferta de qualidade e maior inclusão produtiva desses estudantes. Para o Itaú Educação e Trabalho, a educação é um vetor de desenvolvimento social e econômico de uma nação. Por isso, atua para que os estudantes tenham uma formação qualificada para o mundo do trabalho, em uma realidade em constante mudança, e se sintam estimulados a seguir aprendendo em todas as etapas da vida.
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Sobre a Fundação Roberto Marinho
A Fundação Roberto Marinho inova, há mais de 40 anos, em soluções de educação para não deixar ninguém para trás. Promove, em todas as suas iniciativas, uma cultura de educação de forma encantadora, inclusiva e, sobretudo, emancipatória, em permanente diálogo com a sociedade. Desenvolve projetos voltados para a escolaridade básica e para a solução de problemas educacionais que impactam nas avaliações nacionais, como distorção idade-série, evasão escolar e defasagem na aprendizagem.
A Fundação realiza, de forma sistemática, pesquisas que revelam os cenários das juventudes brasileiras. A partir desses dados, políticas públicas podem ser criadas nos mais diversos setores, em especial, na educação. Incentivar a inclusão produtiva de jovens no mundo do trabalho também está entre as suas prioridades, assim como a valorização da diversidade e da equidade. Com o Canal Futura fomenta, em todo o país, uma agenda de comunicação e de mobilização social, com ações e produções audiovisuais que chegam ao chão da escola, a educadores, aos jovens e suas famílias, que se apropriam e utilizam seus conteúdos educacionais. Mais informações no Portal da Fundação Roberto Marinho. Saiba mais: www܂frm.org.br