Mesmo com a comercialização proibida pela Anvisa, consumo do dispositivo cresceu quase 600% entre adultos nos últimos seis anos Em meio à consulta pública da Anvisa para ouvir a sociedade sobre a regulamentação de cigarros eletrônicos no país, novo levantamento Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria - aponta que a incidência de consumo dos dispositivos mantém tendência de crescimento entre adultos no Brasil. Os dados mostram que, nos últimos seis anos, o consumo aumentou quase 600%.
O estudo concluiu que o equivalente a 2,9 milhões de adultos consumiram cigarros eletrônicos até 30 dias antes de responder à pesquisa, uma incidência de 1,8% na população adulta. Esse número é equivalente a toda a população do Distrito Federal. Em comparação com 2018, o número era de 0,3% na população adulta, cerca de 500 mil consumidores. Também cresceu o número de adultos fumantes de cigarros convencionais que estão experimentando os cigarros eletrônicos. São cerca de 29% que já testaram os vapes, em 2019 eram 16%.
A ex-diretora da Anvisa e consultora da BAT Brasil, Alessandra Bastos, aponta que os dispositivos eletrônicos não são isentos de riscos, mas são alternativas de risco reduzido para adultos fumantes. A experiência observada em outros países como Inglaterra e Suécia, por exemplo, mostra que incentivar a troca pelos vapes é eficaz como estratégia de redução de danos à saúde dos adultos fumantes.
No mundo, mais de 80 países reconhecem os vapes como alternativa para os cigarros convencionais. Em dezembro de 2023, o Parlamento Europeu aprovou um relatório que prevê ações de combate a Doenças Não Transmissíveis (DNT). Entre as principais práticas presentes no documento está o apoio à redução de danos do tabaco e o reconhecimento dos cigarros eletrônicos como alternativa ao cigarro tradicional.
“A regulamentação dos cigarros eletrônicos no Brasil é de extrema importância para que sejam criadas regras sanitárias e controles rígidos com o objetivo de proteger o consumidor, como proibir estímulos infanto-juvenis nas embalagens, bem como a limitação da quantidade de nicotina, entre outros pontos importantes”, explica Bastos.
Um estudo realizado pela Cochrane, reconhecida rede internacional de saúde pública independente com sede no Reino Unido, envolvendo a análise de 319 estudos com mais de 157 mil indivíduos, concluiu que há forte evidência que os cigarros eletrônicos com nicotina aumentam a cessação do cigarro tradicional, quando comparado aos tratamentos de reposição de nicotina (NRT’s). Outra análise, pesquisa, realizada pelo King’s College London e encomendada pelo Departamento de Saúde Pública Inglês, revisou mais de 400 estudos e concluiu, em setembro de 2022, que os vaporizadores são 95% menos prejudiciais que o cigarro comum, ou 20 vezes menos nocivos à saúde.
Para Lauro Anhezini Junior, diretor de assuntos científicos e regulatórios da BAT Brasil, a expectativa é que o Brasil crie regras adequadas à realidade do país, considerando as evidências científicas sobre redução de danos e a experiência de regulamentação de mais de 80 nações. Anhezini destaca que o produto não é inócuo e não deve ser consumido por menores de idade ou por pessoas que não fumam. “Os fumantes brasileiros estão privados de um produto que é comprovadamente uma alternativa de menor risco quando regulamentado e, enquanto isso, o mercado ilegal cresce rapidamente comercializando produtos de origem desconhecida, sem nenhum controle de fabricação e para pessoas de qualquer idade.” Diante do expressivo aumento do consumo, é urgente que a regulamentação estabeleça regras sanitárias que garantam a segurança para o público apropriado e previna o acesso de menores a esses produtos”, reforça o executivo.
Sobre a pesquisa: O levantamento foi realizado pelo Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria entre julho e outubro de 2023 com amostra de 51.575 pessoas. As entrevistas foram realizadas em todas as regiões brasileiras, em áreas urbanas de municípios acima de 20 mil habitantes. Cobertura de 77% da população brasileira de 18-64 anos em mais de 200 municípios. Paraná é o estado com maior incidência (4,5%) de consumo dos cigarros eletrônicos, seguido por Mato Grosso do Sul (4%) e Distrito Federal (3,7%). |