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Falta de visibilidade dificulta monitoramento de recursos destinados à Saúde Mental; indicativo é de escassez orçamentária

Análise do orçamento passível de monitoramento revela que o biênio 2020- 2021 registrou o menor recurso para a área desde 2015

 

Desde 2018, a falta de visibilidade sobre o orçamento destinado à Saúde Mental (SM) impõe dificuldades ao seu monitoramento e ao controle social. Segundo o Boletim n. 7 de Monitoramento do Orçamento da Saúde, publicado nesta quinta-feira (21/12) pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em uma parceria com o Instituto Cactus e a Umane, a Portaria GM/MS nº 3588 reduziu a transparência ao concentrou os recursos de SM em uma ação orçamentária mais ampla, que envolve outras áreas da Saúde.


 

Até 2017, os recursos destinados à área estavam concentrados em ações específicas, como a de Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e o Programa Crack, é Possível Vencer. Com a Portaria, o maior volume de recursos para SM passou a se concentrar em uma ação voltada para Procedimentos em Média e Alta Complexidade e que inclui diversas iniciativas do Ministério da Saúde.


 

Segundo Victor Nobre, assistente de relações institucionais do IEPS e um dos autores da pesquisa, a falta de transparência dificulta o monitoramento e a construção de ações efetivas para a Saúde Mental no país. “Essa falta de transparência dificulta a análise dos recursos que foram realmente destinados à Saúde Mental nos últimos anos e a gestão eficiente de seu orçamento. Foi um problema, inclusive, que nós enfrentamos durante a construção do boletim", explica o pesquisador.

 

A publicação da Portaria coincide com o início de um processo de redirecionamento da Política Nacional de Saúde Mental, que freou a implementação e o fortalecimento da Reforma Psiquiátrica e culminou em ações de desabilitação de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e de Serviços Residenciais Terapêuticos em 2018 e isenções para comunidades terapêuticas em 2022.
 

Análise do orçamento passível de monitoramento aponta queda drástica de recursos; 2021 registrou menor orçamento desde 2015
 

A análise dos recursos passíveis de monitoramento indicam uma queda drástica do orçamento. Em 2015, o valor direcionado para a área era de R$2,59 bilhões, patamar que se manteve no biênio seguinte. A partir de 2018, o orçamento identificável manteve uma média de R$43 milhões, chegando em 2020 e 2021 com os menores valores da série histórica, registrando R$29,9 milhões e R$24,7 milhões, respectivamente.

Importante ressaltar que nesse período de maior fragilização orçamentária, os indicadores de saúde mental pioraram significativamente. Segundo dados do Diagnóstico n. 3 - Saúde Mental da coletânea Mais SUS em Evidências, houve um aumento de 41% no diagnóstico médico de depressão no período pré-pandemia e o 1º trimestre de 2022.


 

Entre 2017 e 2021, não houve investimentos em Saúde Mental; recursos para expansão dos CAPS foram retomados em 2022

A ausência de investimentos, responsáveis pela expansão dos CAPS, é outro aspecto identificado no Boletim n. 7 de Monitoramento do Orçamento da Saúde. Até 2016, apenas 3% do orçamento era destinado para investimentos, o que significa que a cada R$10 reais destinados à área, apenas R$0,30 centavos eram voltados para a habilitação de novos CAPS.
 

Após 2016, esse cenário ficou ainda pior. De acordo com o boletim, não houve nenhum investimento em SM entre 2017 e 2021. Os investimentos foram retomados só em 2022, mas ainda em níveis considerados muito baixos. Foram apenas R$8 milhões, valor esse 95,3% menor do que o investido em 2015, primeiro ano analisado pela pesquisa.
 



 

A partir de 2017, não houve mais investimentos em saúde mental. Fonte: Boletim n. 7 de Monitoramento do Orçamento com dados do SIAFI (valores reais corrigidos pelo IPCA de jul./23)
 

De olho no orçamento da Saúde: conheça o projeto “Monitoramento do Orçamento da Saúde”

 

Boletim n. 7 de Monitoramento do Orçamento da Saúde - Saúde Mental é uma das produções do projeto Monitoramento do Orçamento da Saúde, uma iniciativa do IEPS em parceria com a Umane. O projeto foi criado em 2022 com o objetivo de fiscalizar o orçamento federal da saúde e elaborar análises que subsidiem a tomada de decisão dos atores governamentais para garantir uma melhoria na alocação de recursos em saúde. As produções da iniciativa são elaboradas a partir de um monitoramento contínuo dos instrumentos orçamentários e da execução orçamentária do Ministério da Saúde.
 

Sobre o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde

Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) é uma organização sem fins lucrativos, independente e apartidária, com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nosso objetivo é contribuir para o aprimoramento das políticas públicas para a saúde no Brasil.
 

Defendemos a ideia de que toda a população brasileira deva ter acesso à saúde de qualidade e que o uso de recursos e a regulação do sistema de saúde sejam os mais efetivos possíveis. Defendemos também que o acesso à saúde respeite o princípio da equidade, tendo o Estado Brasileiro um papel relevante, de natureza distributiva, neste processo. Acreditamos que a melhor maneira de alcançar o nosso propósito é por meio de políticas públicas baseadas em evidências, desenhadas, implementadas e monitoradas de maneira transparente – sempre buscando o apoio da sociedade.
 

Sobre o Instituto Cactus

Instituto Cactus é uma organização filantrópica e de direitos humanos, sem fins lucrativos, independente, que atua para ampliar e qualificar o debate com os cuidados em prevenção de doenças e promoção de saúde mental no Brasil.

Fomentamos projetos, ações e iniciativas diversas que atuem de forma estratégica para a construção e oferta de soluções e ferramentas voltadas principalmente aos adolescentes e às mulheres. Gerando evidências e inovações para o campo da atenção psicossocial em todo país.

Sobre a Umane
Umane é uma associação isenta e sem fins lucrativos que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública com o objetivo de contribuir com um sistema de saúde mais resolutivo e de melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Em 2022, a Umane apoiou 17 projetos, realizados de forma colaborativa com 53 parceiros, entre diversos setores da saúde, da sociedade civil e do poder público.

A Umane dirige seu apoio para três linhas programáticas: a Atenção Integral às Condições Crônicas, com iniciativas de controle dos fatores de risco, rastreamento, ampliação do acesso à saúde e ao monitoramento dos fatores de risco na Atenção Primária à Saúde; o Fortalecimento da Atenção Primária à Saúde por meio do apoio a iniciativas que visem melhorias operacionais, de produtividade de equipes, de integração de serviços e da incorporação de novas tecnologias ao sistema de saúde e a Saúde Materno Infantil e Juvenil, financiando programas que acompanhem e monitorem desfechos desfavoráveis durante a gestação e as condições de saúde de crianças e adolescentes no contexto das Doenças Crônicas Não Transmissíveis e dos fatores de risco.

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