Um novo estudo, realizado no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, e publicado na revista científica The Lancet, aponta que a cirurgia metabólica apresenta melhores resultados na perda de peso, controle glicêmico e qualidade de vida se comparado aos pacientes que tiveram acesso aos melhores e mais eficazes medicamentos disponíveis após cinco anos de acompanhamento. O controle da doença renal crônica causada pelo Diabetes Tipo 2, foco do estudo, teve resultados altamente eficazes e semelhantes nos dois grupos que participaram do estudo. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Dr. Fábio Viegas, o resultado do estudo vai na mesma direção de outras pesquisas que têm apontado a cirurgia bariátrica e metabólica como uma potente ferramenta para controle do diabetes e da obesidade, bem como das comorbidades associadas.
"O diabetes apresenta sérios riscos para a saúde, podendo afetar órgãos como olhos, rins, fígado, coração e sistema vascular. Assim como ocorre com a obesidade, o diabetes é considerado um problema de saúde pública em diversos países. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já considera o Diabetes uma epidemia. O tratamento cirúrgico da obesidade e diabetes são opções seguras e com excelentes resultados para a saúde e qualidade de vida destes pacientes", afirma Viegas.
O estudo - A pesquisa contou com a participação de 100 pacientes, acompanhados por cinco anos, sendo que 50 foram submetidos à cirurgia metabólica e a outra metade teve acesso aos medicamentos mais modernos e eficazes disponíveis para o tratamento clínico do diabetes.
A remissão da doença renal crônica e diabetes em pacientes que utilizaram a medicação foi de 52,8%; e em pacientes que fizeram a cirurgia de 63,1%. Além disso, a remissão de microalbuminuria (proteína que, em grande quantidade, indica insuficiência renal) em pacientes com o melhor tratamento medicamentoso foi de 59,6% e em pacientes que fizeram a cirurgia metabólica ficou em 69,7%.
Para Dr. Ricardo Cohen, cirurgião e autor principal do estudo, o tratamento cirúrgico superou o tratamento medicamentoso quando se trata de perda de peso, controle de açúcar no sangue e qualidade de vida, com um perfil de segurança semelhante aos tratamentos clínicos. Nos pacientes tratados com medicação, 22,5% deles perderam pelo menos 15% do peso, enquanto naqueles que fizeram a cirurgia esse número foi de 90%.
“Esses dados continuam mantendo a cirurgia metabólica por bypass gástrico em Y de Roux, um tratamento relevante para pacientes com diabetes e doença renal crônica”, diz Cohen. "Tudo isso com melhor qualidade de vida e menos medicação que no grupo clínico", complementa o especialista.
Obesidade e Diabetes no Brasil No Brasil, a obesidade aumentou 72% entre 2006 e 2019, saindo de 11,8% para 20,3%, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). O excesso de peso (IMC igual ou maior que 25) está presente em 55,4% dos brasileiros.
Com relação à diabetes, o Brasil é o sexto país em incidência da doença no mundo e o primeiro na América Latina. São 15,7 milhões de pessoas adultas com esta condição, e a estimativa é que, até 2045, a doença alcance 23,2 milhões de adultos brasileiros. Cerca de 90% dos casos de diabetes no mundo são do Tipo 2, que está relacionado com o excesso de peso e resistência à insulina, segundo a Federação Internacional de Diabetes.
Pessoas com diabetes tipo 2 precisam de acompanhamento com especialista e medicação para estimular o pâncreas a produzir insulina e diminuir a absorção de carboidratos (que o organismo converte em açúcar). A insulina também pode ser indicada e todos os tratamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Cirurgia metabólica Como acontece com qualquer tratamento médico, alguns pacientes podem não responder como esperado. Nesses casos, a cirurgia metabólica pode ser necessária para prevenir a progressão da doença e as consequências do diabetes. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2 em 2017. Os critérios de indicação do tratamento cirúrgico são diabetes miellitus tipo 2 diagnosticado há menos de 10 anos e ter IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m²; mais de 30 anos e no máximo 70 anos de idade; indicação cirúrgica feita por dois médicos especialistas em endocrinologia com parecer que mostre que o paciente apresentou resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e que compareceu ao endocrinologista por no mínimo dois anos.
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