Optar pelos meios de pagamento digitais pode proporcionar muitas melhorias financeiras para consumidores, empresas e governos e impactar de forma positiva o desempenho social e econômico das cidades. Para isso, é necessário analisar essa questão com um olhar mais aprofundado, pensando e explorando além das vantagens instantâneas que o setor proporciona. Além de ser custoso e gerar entraves em termos de desenvolvimento econômico, manter o dinheiro em papel em circulação é um risco que poderíamos evitar. Gustavo Noman, diretor de Relações Governamentais da Visa do Brasil, traz seu olhar sobre o tema.
1) Como a substituição do dinheiro em papel pode trazer benefícios para os consumidores?
Substituir o dinheiro em papel por meios de pagamentos digitais pode trazer diversos benefícios, não apenas para consumidores mas também para empresas e governos, tais como maior controle das despesas financeiras; mais conveniência e agilidade; economia de tempo; segurança: redução das taxas de crime; diminuição de custo e tempo de processamento para comerciantes; redução de custo para a confecção do dinheiro em espécie.
Trata-se de uma iniciativa que tem potencial de gerar mais renda, empregos e, principalmente, reduzir o risco de ações criminosas ligadas à circulação de cédulas e moedas.
Estamos falando, no fim das contas, da segurança das pessoas que vivem em pequenos, médios e grandes centros urbanos.
2) Como os pagamentos digitais podem evitar esse problema?
Quando analisamos os riscos de manter tanto dinheiro em papel circulando, sendo transportado em carros-fortes ou armazenados dentro das agências bancárias, por exemplo, acredito que esse movimento de adesão aos meios de pagamentos digitais ganha ainda mais força. Enxergar esse potencial e criar um espaço para a inovação é o primeiro passo rumo a um futuro sem dinheiro.
Para se ter uma ideia, em 2018, uma agência localizada em uma cidade do interior do Paraná adotou o modelo de agência cashless, tornando-se a primeira neste formato no Brasil. Esse foi um projeto-piloto, no qual a Visa participou ao lado do Sicredi, tinha o objetivo de promover a inclusão financeira e social em um modelo em que tudo é feito pela internet, sem circulação de dinheiro: desde a abertura da conta à contratação de produtos e serviços. Atualmente, outras nove agências na região seguem esse modelo, garantindo não apenas o distanciamento social - importante no atual cenário -, mas também comodidade e segurança para a população. Claro que as agências tradicionais ainda devem existir por muito tempo, mas esse me parece um caminho promissor.
É importante lembrar também que a entrada de mais pessoas ao mundo dos pagamentos digitais ganhou tração durante a pandemia com o desembolso governamental do auxílio emergencial. Para receber o recurso, é necessário a abertura de contas digitais, as quais estarão disponíveis mesmo após o término do auxílio. Em parceria com a CAIXA, por onde o beneficiado recebe o auxílio, disponibilizamos dentro do aplicativo CAIXA Tem um cartão de débito virtual da Visa para o usuário realizar compras online sem sair de casa. E para incentivar o seu uso, a CAIXA oferece uma série de prêmios.
3) E como os empreendedores podem utilizar a tecnologia para entrar no mundo das transações digitais?
A Visa apoia os micro e pequenos empreendedores, desde a implementação e aceitação de pagamentos digitais à ampliação de seus negócios na internet, assim como conecta os compradores aos vendedores.
Além disso, a Visa oferece uma solução chamada Tap to Phone que permite que estabelecimentos comerciais recebam pagamentos por aproximação direto em seus dispositivos móveis smartphone ou tablet sem a necessidade do uso de uma maquininha. Basta instalar um software, como se fosse um aplicativo, e habilitar as transações junto a um credenciador num ambiente mais econômico e seguro.
É uma tecnologia especialmente promissora para pequenos negócios num momento crítico como o que estamos vivendo. Imagine que um artesão, o dono da quitanda do bairro ou a senhora que vende bolos na esquina podem, com o Tap to Phone, receber pagamentos de forma simples e barata com seu celular, desde que credenciados para isso. O comerciante ganha um benefício valioso na palma de sua mão.
4) Muitas pessoas associam os pagamentos digitais a taxas extras que devem ser pagas pelo uso de cartões e outros meios de pagamento e defendem a tese de que o dinheiro físico "é mais barato", por não ser necessário pagar uma taxa a instituições financeiras. Essa visão está correta?
O estudo Cashless cities, realizado pela Visa em 100 cidades do mundo, em parceria com a empresa de pesquisa Roubini ThoughtLab, traz insights para uma discussão mais profunda sobre o uso do dinheiro físico versus os meios de pagamentos digitais. Os dados apontam que a economia dos governos com despesas administrativas atreladas ao dinheiro em papel seria da ordem de 710 milhões de dólares, caso optassem pela adoção de pagamentos digitais. Assim como haveria um corte de despesa de mais de 50 milhões de dólares por ano ao reduzir crimes relacionados ao dinheiro.
Isso mostra que há uma impressão equivocada por parte das pessoas de que o dinheiro em papel é isento de custo. Mas imagine que estão ali embutidas despesas com produção, segurança, transporte, manuseio, contagem, processamento, sem falar em taxas e impostos. Esse mesmo estudo indica que, antes da pandemia, gastávamos mais de sete horas por ano com idas ao banco e outras seis horas para fazer saques em caixas eletrônicos.
A tecnologia chegou para facilitar a vida das pessoas. E nesse aspecto, pode ser explorada para tornar as cidades mais conectadas, gerar empregos, fomentar o desenvolvimento econômico e garantir a segurança dos cidadãos. Assim, os meios de pagamentos digitais servem como um capacitador essencial de cidades inteligentes.
5) Já existem países migrando integralmente ao uso de pagamentos digitais?
Países como a Suécia estão avançando para uma vida sem dinheiro e colhendo os benefícios. O índice de pagamentos em dinheiro no país caiu de 39%, em 2010, para 9%, em 2020 - como mostra o estudo conduzido pelo Banco Central da Suécia em outubro do ano passado. Por lá, é comum ouvir relatos de donos de restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais que deixaram de aceitar cédulas. E, como mais um sinal dessa evolução, o Banco Central do país europeu está em fase de testes para lançar a sua própria moeda digital (Central Bank Digital Currency), abrindo caminho para mais uma revolução.
6) Como você percebe a migração das pessoas para o universo dos pagamentos digitais no Brasil?
Apesar de morarmos em um país em que a cultura do dinheiro ainda predomina em algumas situações e regiões, vejo com bons olhos um avanço na migração para o universo digital que, sobretudo no último ano, deu um salto. A pandemia acelerou a digitalização da indústria de pagamento em dois anos, de acordo com estudo da empresa de pesquisa Insider Intelligence de 2020.
O pagamento por aproximação, por exemplo, tornou-se uma grande tendência. Para cada quatro transações presenciais com credenciais Visa, uma é por aproximação na América Latina e Caribe. No Brasil, esse tipo de transação continua crescendo. No último ano, o uso desta forma de pagamento (presencial e online) cresceu cinco vezes mais no comparativo de junho de 2020 ao mesmo mês de 2021, representando 14% de penetração entre todos os pagamentos Visa. Esse meio para pagar já é usado para além dos estabelecimentos comerciais e transportes públicos. As cabines dos pedágios do Corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto e do Sistema Anchieta Imigrantes (SAI), de São Paulo (SP), e da Linha Amarela, via do Rio de Janeiro (RJ), também já aceitam esse tipo de pagamento, que oferece mais praticidade, comodidade e segurança.