Visita
fez parte da programação da assinatura do termo de cooperação técnica
internacional.
Especialistas da Agência
de bacias Loire-Bretagne, da França, e do Escritório Internacional da Água,
visitaram a sede do programa Produtores de Água e Floresta (PAF), do Comitê
Guandu-RJ, em Rio Claro/RJ na última sexta-feira (08). O objetivo foi conhecer
o programa que já resultou na restauração e conservação de mais de 4 mil
hectares de Mata Atlântica, oferecendo serviços hidrológicos à bacia que
abastece quase dez milhões de pessoas no estado. Diretores do Comitê e
especialistas da AGEVAP acompanharam o grupo que também visitou produtores
participantes do programa.
O
grupo foi formado pela Presidente do Conselho de Administração da Agência
Loire-Bretagne e ex-deputada francesa e europeia Marie Hélène Aubert; o Diretor
Adjunto, Claude Gitton; o Responsável pelas Relações Internacionais, Hervé
Gilliard; a Diretora da Cooperação Internacional do Escritório Internacional da
Água, Stéphanie Laronde; o Chefe de Projetos para a América Latina, Nicolas
Bourlon; o Chefe das atividades nas regiões África, América Latina e Ásia do
Sudeste, Alain Bernard; e o Coordenador do projeto, Patrick Laigneau. Eles
ainda foram acompanhados pela presidente do Comitê de Bacia do Rio Pardo/RS,
Valéria Borges Vaz.
Os
especialistas foram recebidos no Paço Dr Cid Magalhães da Silva, sede do
governo municipal, pelo prefeito José Osmar, que falou sobre os frutos colhidos
no município através da união que mantém o programa. “O PAF vai ao encontro do
potencial do município, que é o meio ambiente. A prefeitura se esforça para que
iniciativas como esta e outras que gerem conservação e investimentos à
população, sejam sempre implementadas”, afirmou o chefe do executivo municipal.
No gabinete do prefeito, os especialistas puderam conhecer a estrutura e alguns
dados sobre o programa, que foram apresentados por Iran Bittencurt, braço do
PAF na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Rio Claro; Hendrik Mansur,
representante da ONG TNC no Comitê Guandu-RJ e; Juliana Fernandes, Diretora da
AGEVAP. Só em Rio Claro/RJ, são 64 produtores no projeto que recebem todo
aporte técnico e capacitação do programa para que possam promover a restauração
e a conservação ambiental. Pelos serviços ambientais prestados, os produtores
recebem ao todo cerca de 358 mil reais por ano, gerando renda a população
local. “O programa é amplo e todos ganham: o meio ambiente por ter seus
recursos preservados; os rios pelos serviços hidrológicos prestados pela
vegetação; os quase 10 milhões de moradores da região metropolitana do Rio que
são abastecidos por essas águas, contribuintes a bacia do Guandu; e os
produtores que recebem retribuição financeira do projeto. Além disso, são
várias aplicações práticas proporcionadas PAF em experiências científicas em
relação à água, a flora e a fauna”, afirmou o Engenheiro Agrônomo Hendrik
Mansur (TNC), membro do Comitê Guandu-RJ.
Uma
das propriedades visitadas pelos especialistas franceses foi a Comunidade
Quilombola Alto da Serra, em Lídice, distrito de Rio Claro, onde vivem 48
famílias. Trata-se de uma das 38 comunidades quilombolas reconhecidas no estado
do Rio de Janeiro pela Fundação Cultural Palmares. Quem recebeu o grupo foi
Benedito Bernardo Leite Filho, o Sr Bené. Ele contou que a Comunidade vivia da
extração do carvão vegetal, que gerava danos ambientais e hoje, através dos
incentivos e apoio técnico do PAF, os produtores aprimoraram suas técnicas de
cultivo e trabalham com produção sustentável de hortaliças, queijos, doces e
mel. Em retribuição a conservação das áreas delimitadas pelo programa, a
Comunidade recebe pouco mais de dez mil reais por ano, que são utilizados para
a estruturação de ações e bens que visam o desenvolvimento local. Uma dessas
aplicações foi a reforma da Escola Municipalizada Rio das Pedras, que estava
desativada, e era a única escola que atendia as cerca de 50 crianças da
comunidade. Após a reforma e ampliação, a escola foi reativada e as crianças
voltaram a estudar em um local mais próximo às suas casas. “Foi uma vitória
para toda a comunidade. Sem uma escola próxima, as crianças precisariam fazer
longas viagens diárias até a cidade para estudar, o que provavelmente as
desestimulariam. Hoje, as crianças frequentam regularmente a escola, que fica a
2 km da comunidade, e buscam seu desenvolvimento humano e profissional. Dizem
que vão se formar e voltar para aplicar seus conhecimentos na comunidade”,
afirmou o produtor. Marie Hélène Aubert
fez perguntas e elogiou bastante o projeto. “Estamos felizes em conhecer
bem mais que o programa, mas as pessoas e essas belas histórias”, disse a Presidente
do Conselho de Administração da Agência Loire-Bretagne.
Após
conhecerem a área de mata ciliar restaurada pelo PAF na Comunidade Alto da
Serra, os especialistas franceses foram a sede do PAF, na zona urbana de
Lídice. Lá, conheceram a equipe de profissionais da empresa Água e Solo, que
dão suporte aos produtores, visitando as propriedades. Além do suporte técnico
e a aplicação de insumos gratuitos da recuperação de mata ciliares e áreas de
preservação permanente, os profissionais usam drones para filmar e mensurar os
avanços. “Conseguimos imagens nítidas a cem metros de altura, calculando com
mais exatidão cada hectare preservado ou conservado. Além disso, podemos fazer
um diagnóstico de quais áreas precisam de atuação do programa”, explicou Pablo
Figueiredo, Engenheiro Florestal. Os especialistas franceses puderam analisar
as imagens dos drones e ver os avanços ambientais obtidos através do programa.
“O pagamento por serviços ambientais tem se mostrado uma boa alternativa para
ganhos ambientais em escala, sendo utilizado inclusive, pela iniciativa
privada”, destacou Nicolas Bourlon, Chefe de Projetos do Escritório
Internacional da Água para a América Latina, que elogiou o PAF e seus
resultados ressaltando que a iniciativa deve ser mantida e ampliada.
O
PAF é desenvolvido pelo Comitê Guandu-RJ há dez anos em Rio Claro/RJ. O
colegiado já destinou mais de 2,5 milhões de reais ao programa que gera ganhos
ambientais e sociais. Hoje, ele foi estendido a sub-bacia de Sacra Família, que
também é contribuinte da Bacia do Guandu, e corta os municípios de Vassouras,
Engenheiro Paulo de Frontin e Mendes. Trinta produtores já foram selecionados
nesta nova fase que, como em Rio Claro, objetiva melhorar a quantidade e a
qualidade da água que abastece quase dez milhões de pessoas.
A visita dos franceses ao PAF já é um desdobramento do acordo
Internacional de Cooperação Técnica, assinado na última quarta-feira (6), entre
as agências Loire-Bretagne, AGEVAP e PCJ. O acordo tem a coordenação técnica do
Escritório Internacional da Água e visa a troca de experiência, conhecimento e
tecnologia entre as agências, com vistas a desenvolver a gestão das águas no
Brasil. A França é considerada a percussora da gestão das águas no mundo.