A dirigente do
Sindicato Estadual dos Professores no setor de combate à discriminação,
professora Clarice Ávila, avalia o 13 de maio, quando é celebrada a abolição da
escravatura como uma questão emblemática para a população negra. Ela afirma que
a data é uma referência de luta e combate a segregação e discriminação de raça.
- Nós, que integramos o movimento negro,
acreditamos que a abolição da escravatura, assinada em 1888, não ofereceu
condições estruturais para que negros e negras tivessem, de fato, condições de
liberdade. Naquela época, como nos dias de hoje, faltam políticas públicas que
viabilizem a inserção do afrodescendente na sociedade, em condições de equidade
e igualdade. São 130 anos de uma abolição inacabada – detalhou Clarice,
ressaltando que houve alguns avanços entre 2003 e 2016, porém o momento agora é
de retrocesso e estagnação.
Clarice Ávila tem no
movimento negro uma das suas expressões de trabalho. “A história remonta o
processo de exclusão vivido pelos negros ao longo dos séculos. Apesar dos
avanços da modernidade, inclusive tecnológico, os afrodescendentes ainda sofrem
com a exclusão social. Na contramão deste contexto, os negros representam 54%
da população do Brasil e apesar de todo esforço equivalem a apenas metade dos
27 milhões de empreendedores no país. Então, é preciso abrir horizontes, que
permitam novas perspectivas”, disse Clarice, afirmando que o racismo tem o
propósito de garantir vantagens a classe dominante. A cor da pele,
infelizmente, ainda marca as desigualdades”, disse.
DESEMPREGO ENTRE OS NEGROS - Para se ter idéia da
situação vivida pelos negros e negras no Brasil basta analisar os dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que no terceiro trimestre de
2017, apontou 13 milhões de desempregados no país. Desse total, 8,3 milhões
(63,7%) são negros ou pardos. Segundo o órgão a taxa de desocupação dessa
parcela da população ficou em 14,6%, enquanto a da população branca ficou em
9,9%.
O contraste racial no
mercado de trabalho também se estende à remuneração. Segundo o IBGE, negros e
pardos recebem, em média, R$ 1.531 – quase a metade do rendimento médio dos
brancos, que é de R$ 2.757. Situação semelhante é observada no percentual de
trabalhadores com carteira assinada no país. Negros e pardos nesta condição
somavam 71,3%, abaixo do observado no total do setor (75,3%). A projeção é de
que apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma
renda equivalente no Brasil. Os dados são da pesquisa "A distância que nos
une - Um retrato das Desigualdades Brasileiras", realizada pela ONG
britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social.
O cenário é ainda pior
para a mulher afrodescendente. Os vencimentos dela chegam a representar apenas
50% do que recebe o homem branco. “A discrepância tem se reduzido ao longo dos
anos. Em 2003, o salário dessa mulher era apenas 38% do que a renda do homem
branco. Mas podemos dizer que os desafios continuam. Infelizmente, a população negra é mais atingida pela
violência, desemprego e falta de representatividade. É urgente e necessário
a mudança deste cenário no sentido de
promover uma sociedade mais justa e igualitária ”, conclui a professora
Clarice.