Atualmente, cerca de 200 propriedades rurais do
Estado do Rio são cadastradas no programa
Um
puxão de orelha. Essa foi a motivação que deu início ao ‘Balde Cheio’, programa
de incentivo ao uso da tecnologia na produção agropecuária, lançado em Quatis,
em 1997, e que este mês completa 20 anos. Contando essa história, o coordenador
nacional e idealizador do programa, Artur Chinelato, iniciou a palestra
realizada na noite desta quinta-feira, dia 21, em comemoração à data. O evento
foi realizado no Clube Náutico Quatiense e reuniu dezenas de produtores e
técnicos do programa.
Atualmente,
cerca de 200 propriedades rurais do estado do Rio de Janeiro são cadastradas no
‘Balde Cheio’, que é desenvolvido ainda nos estados de São Paulo, Minas Gerais,
Espírito Santo, Acre, Rondônia, Bahia, Piauí e Maranhão. E, segundo lembra
Chinelato, tudo começou após uma palestra proferida por ele em Quatis, na qual
um produtor, ao tomar conhecimento das tecnologias existentes para melhorar sua
produção, questionou se haveria alguém para ensinar isso a ele.
“Ao
responder que não, afinal a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) era uma empresa de desenvolvimento de pesquisa e não de
assistência técnica, ele me disse que melhor era eu não ter ido ao encontro e tê-lo
deixado ficar com sua ignorância. Estava lançado o desafio: era preciso ir além
do que fazer palestras, era preciso fazer mais. Comecei a estudar de que
maneira poderíamos ajudar e assim, um ano depois, em 1998, o ‘Balde Cheio’ era
colocado em prática. Se não dávamos a assistência técnica, iríamos ensinar a
quem dava”, contou Chinelato.
O
programa ‘Balde Cheio’ visa a capacitação de técnicos extensionistas sobre
conceitos básicos de produção de leite intensiva e sustentável. A propriedade
rural é utilizada como “sala de aula”, onde os conceitos são aplicados na
prática e ela passa a servir também de exemplo para outras propriedades.
“Utilizamos conceitos universais, aprendidos na faculdade, aplicando-os na
prática no campo, por meio de um cronograma e de planejamento para que o
produtor saiba como e aonde ir para crescer”, explicou o coordenador.
Durante
o evento, técnicos e produtores deram depoimentos sobre a participação no
programa. “Estou há apenas dois anos no programa e, com a ajuda da orientação
técnica, a qualidade da alimentação do rebanho melhorou, os custos diminuíram,
houve uma melhora tanto em qualidade quanto em quantidade na produção do leite.
Antes, em média, minha produção era de 9 kg de leite por vaca, hoje chega a 15
kg. Foi um ganho muito grande”, garantiu Saulo Rafael Alves de Lima, produtor
de Ribeirão de São Joaquim, distrito de Quatis.
O
produtor José Osvaldo, do distrito de Rialto, em Barra Mansa, também falou
sobre sua experiência. “Depois das dificuldades, pois elas existem, vieram os resultados.
Meu filho, depois que entramos no programa, ganhou mais interesse pela nossa
propriedade. Ele foi buscar capacitação em uma escola técnica e hoje está numa
universidade federal, tudo isso retirado do nosso trabalho. Se fosse antes,
isso seria muito mais difícil, talvez até nem tivéssemos mais a propriedade”,
falou.
Recuperar
a auto-estima, acreditar na atividade, valorizar o trabalho, permanecer no
campo e melhorar o padrão de vida foram alguns dos benefícios citados como
obtidos pelo produtor com a adesão ao programa. “O produtor que adere ao Balde
Cheio melhora sua motivação, consegue envolver sua família, consegue se manter.
Os benefícios não são só financeiros, há também um grande ganho social.
Principalmente se ele passa a não precisar sair de sua propriedade”, destacou
Carlison Costa de Souza, supervisor
técnico do Senar-RJ (Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural) e supervisor
do Balde Cheio no Sul e Médio Paraíba.
Para
o presidente do Sindicato Rural de Barra Mansa, Adilson Delgado Rezende, a
contribuição do programa para os produtores do país foi grandiosa. “Hoje, em
Quatis, retornamos à origem do programa Balde Cheio. Foi aqui, há 20 anos, que
a ideia foi lançada. Ao longo dos anos, o projeto modificou a vida de muitas
famílias, seja de produtores ou de técnicos. Reconhecemos, assim, sua grandiosa
contribuição para a pecuária leiteira do estado e do país”, ressaltou Adilson.