Darze convocou a mídia internacional para alertar moradores de outros países "de que se adoecerem aqui, vão ter dificuldades para se tratar"
Rio - Preocupado com o agravamento da crise na saúde do estado
e a proximidade das Olimpíadas, o Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed)
decidiu ajuizar uma ação por crime de responsabilidade contra o
governador Luiz Fernando Pezão. “Não podemos ficar calados. Nossa
preocupação é que ocorram mortes e colocarem a responsabilidade nos
médicos. Essa situação criminosa é de responsabilidade do governo”,
disse o presidente do SinMed, Jorge Darze, em entrevista coletiva
Darze,
transmitiu a decisão em coletiva na sede do sindicato com a presença de
jornalistas correspondentes estrangeiros. Darze convocou a mídia
internacional para alertar moradores de outros países que pretendem vir
ao Rio para os Jogos Olímpicos "de que se adoecerem aqui, vão ter
dificuldades para se tratar".
Para o presidente do
sindicato, o estado deveria ter se preparado para os efeitos da queda na
arrecadação. Ele condenou a dependência do estado ao petróleo. "O governo
tinha conhecimento da redução da arecadação do ICMS, da redução dos
royalties. É o governo que acompanha a redução do preço do barril de
petróleo. O governador, como gestor, não poderia ter permanecido inerte
diante dessas informações todas. Tinha que ter tomado medidas para
evitar que a população passasse o que agora está passando. A crise
chegou à população mais pobre que depende do SUS . Hoje, o morador do
estado do Rio não tem segurança para buscar atendimento".
Protesto reuniu mais de 200 pessoas no primeiro dia de municipalização de unidade na Zona Oeste
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Darze acredita que a crise na saúde se deve mais a
erros na gestão da saúde no estado. "Faltou perna". Para o médico,
houve gasto excessivo com a construção de novos
edifícios em detrimento da melhoria de unidades já existentes que
poderiam suprir a necessidade da demanda. Outro problema apontado por
ele é a entrega das unidades de saúde às Organizações Sociais (OS).
"Em
vez de gastar dinheiro com a compra de novos aparelhos, tomógrafos por
exemplo, construíram um novo centro de imagem no Centro e entregaram a
uma empresa privada. Estamos falando de uma gestão mais dispendiosa"",
abordou.
Na coletiva, Darze aproveitou a presença de
correspondentes estrangeiros e fez um alerta a moradores de outros
países que virão ao estado para as Olimpíadas. "O Sindicato dos Médicos,
tendo ciência de que o Rio será sede de uma agenda internacional, de
que milhares, talvez milhões de pessoas virão para esse evento, não pode
se omitir para alertar para os riscos que esses estrangeiros estão
correndo. Se vierem ao Rio, se adoecerem aqui, vão ter dificuldades
para se tratar. Não estamos fazendo campanha contra as Olimpíadas, mas
estamos no nosso papel de médicos de alertar aos estrangeiros de que vão
ter enorme dificuldade de obter atendimento no setor público".
Pedro Paulo é hostilizado
Candidato
de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio, o secretário-executivo de
Coordenação de Governo, Pedro Paulo Teixeira, foi hostilizado por cerca
de 200 funcionários do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, no
primeiro dia de municipalização da unidade. Em meio a gritos de “O
hospital é nosso” e “Não à privatização”, eles protestavam contra a
mudança na administração, iniciada semana passada também no Hospital
Albert Schweitzer, em Realengo.
“Eles roubaram, roubaram e
agora atribuem o resultado à crise. A mudança na administração não passa
de uma campanha, porque a Zona Oeste é o maior curral eleitoral do
Rio”, acusou a enfermeira Ercília Sampaio, de 68 anos.
Segundo
os manifestantes, a maior preocupação é com os concursados
estatutários, contratados para vagas específicas e que, devido à falta
de auxílio-transporte, não conseguiriam se deslocar para outras
unidades. Eles também gritavam “Maria da Penha”, em alusão à lei que
protege as mulheres de violência — ano passado, Pedro Paulo foi
envolvido em um escândalo, acusado de agredir a mulher, em 2008 e 2010. O protesto parou o trânsito na rua em frente ao hospital.
Tal
como em Realengo, a transferência foi marcada por um “choque de ordem”
externo no hospital, com limpeza das ruas e calçadas. “Estamos fazendo
um ‘choque de boas-vindas’ na frente do hospital para receber a
população”, disse o secretário. Ele garantiu que a questão dos
servidores será tratada “com toda atenção e dedicação”. “Aqui há
servidores públicos, servidores fundacionais e de organização social.
Não é um hospital simples, é uma unidade grande e nós vamos tratar
disso”, disse Pedro Paulo.
Mesma empresa administrará dois hospitais da região
Além
de temer demissões e transferência, os funcionários do Rocha Faria
tentam impedir a entrada de novas Organizações de Saúde (OS), afirmando
que estas repassam apenas parte do dinheiro destinado aos médicos. A
enfermeira Rose Aimé, 61, acusa a prefeitura de não ter condições para
cuidar da unidade.
“Eles mal cuidam do que já lhes pertence,
basta ver o Hospital Pedro II (em Santa Cruz). Além disso, o governo dá
prioridade para as OSs, o que é um desrespeito com os concursados”,
criticou. Em nota, a prefeitura informou que a gerência do Rocha Faria
será de responsabilidade da mesma OS que está à frente do Albert
Schweitzer e do Hospital e Maternidade Terezinha de Jesus (HMTJ). A
justificativa é que uma mesma OS gerindo os dois hospitais da Zona Oeste
deverá facilitar processos emergenciais, como a aquisição de insumos em
larga escala por menor preço. Em até 180 dias será escolhida a OS que
administrará o Rocha Faria pelos próximos anos. Hoje, apenas a
maternidade e o setor de tomografia são geridos por OS.
Médica critica entrega da gestão a OSs
A
vice-presidente do Sindicato dos Médicos, Sara Padron, criticou a
contratação de OSs para gerir as unidades de saúde e afirmou que não
existe contingência para atender pacientes com a vinda das Olimpíadas e
Carnaval. “A desculpa de que não tem dinheiro é falsa, porque o governo
já recebe uma receita para a saúde, justamente para que não haja estes
imprevistos. “Mas quando você dá a gestão para outras empresas do tipo
OS, com todas essas irregularidades, acaba causando prejuízo aos cofres
púlblicos”, destacou.
A prefeitura informou que na semana
passada já havia transferido 51 pacientes do Rocha Faria, “que estava
operando acima da sua capacidade de internação, com leitos extras e
demora no atendimento”, para outras unidades das redes municipal e
estadual. Do total, 37 foram para o Albert Schweitzer. A maior parte
precisava de cirurgia.http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2016-01-11/medicos-vao-entrar-com-acao-na-justica-contra-pezao-por-crise-na-saude.html