As mulheres estão mais suscetíveis do que os homens à violência por
parte de pessoas conhecidas, segundo dados do segundo volume da PNS 2013
(Pesquisa Nacional de Saúde), divulgado nesta terça-feira (2) pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nos 12 meses anteriores à realização da entrevista, 3,1% da população
feminina com mais de 18 anos (2,5 milhões de mulheres) sofreram agressão
física, verbal ou emocional cometida por pessoas que conheciam a vítima
(maridos, pais, filhos, amigos etc.). Em relação aos homens adultos, a
proporção era de 1,8% (1,2 milhão).
Na análise da média nacional, incluindo homens e mulheres, 2,5% dos
brasileiros com mais de 18 anos (3,7 milhões de entrevistados) relataram
que foram vítimas de violência de pessoas conhecidas. As maiores
proporções foram verificadas nas regiões Norte (3,2%) e Sul (3%).
A atriz Ludmila Nascarella, 38, sofreu violência em duas relações e
afirma que, muitas vezes, a mulher demora a perceber o que está
ocorrendo. Em seu primeiro casamento, no começo dos anos 2000, ela
precisou de muito tempo para reconhecer que sofria violência
psicológica, além de ser agredida fisicamente. "Demorei um ano para
entender o que era violência. Eu 'naturalizava' aquilo. Já havia sofrido
abusos quando era mais nova e achava que era algo natural. As pessoas
mais próximas reforçavam que eu tinha que ficar quieta", diz.
Em 2010, ela já contava com sete medidas protetivas para que o
companheiro, com quem teve uma relação aberta e que não aceitava o
rompimento, se mantivesse longe. Ludmila chegou a receber perto de 10
mil e-mails com ameaças de morte, foi agredida verbalmente durante
peças, teve a casa invadida e o nome pichado pela cidade.
No ano seguinte, juntamente com outras quatro mulheres que também
sofreram agressão doméstica, ela organizou a "Marcha das Vadias" em
Curitiba (PR),
para ajudar a "empoderar" a si e às demais mulheres. "Em pleno século
21, somos criadas para obedecer. Quando você começa a identificar que
aquilo [a agressão] não é certo e pede ajuda, as pessoas acreditam que
você tem de manter a postura da boa mulher, namorada, filha." Ludmila
acredita que as coisas estão melhorando, principalmente após a criação
de redes sociais, que facilitam a troca de experiências. "Com a 'Marcha
das Vadias', conseguimos tornar o termo positivo e perceber que mulheres
do Canadá, da África do Sul e do Brasil enfrentam os mesmos problemas."
Vítimas de pessoas conhecidas são 2,5% da população adulta
A faixa etária mais suscetível a sofrer violência ou agressão de pessoa
conhecida era a que vai de 18 a 29 anos (3,2%). O nível de instrução
mais comum entre os que sofreram algum ato de violência cometido por
pessoas que elas conheciam era o ensino fundamental completo e médio
incompleto (2,8%).
Ainda de acordo com o estudo, feito com dados de 2013, há uma inversão
do quadro quando se trata de violência oriunda de pessoas desconhecidas.
Nesse caso, a proporção de homens vítimas de violência foi calculada em
3,7% (2,5 milhões) --um ponto percentual a mais em comparação com as
mulheres.
Já 3,1% dos brasileiros com mais de 18 anos (4,6 milhões de
entrevistados) afirmaram que foram agredidos fisicamente, verbalmente ou
emocionalmente por pessoas que eles desconheciam --casos como brigas de
rua, tentativas de assalto, entre outros exemplos.
A maioria também ocorreu com pessoas de 18 a 29 anos (4,5%), mas o
nível de instrução mais comum entre as vítimas era o ensino médio
completo e superior incompleto (4%). O Norte (5%) aparece com a maior
proporção na análise por região.
Desenho próprio
O IBGE explicou que as estatísticas da Pesquisa Nacional de Saúde não
são comparáveis com outras publicações do instituto, pois a pesquisa tem
um "desenho próprio" (fatores que não haviam sido abordados antes).
Dessa forma, não seria possível estabelecer séries históricas cruzando
as informações com o suplemento de saúde da Pnad (Pesquisa Nacional de
Amostra por Domicílios).
Os entrevistadores do IBGE estiveram em pouco mais de 80 mil
domicílios. O Brasil possui, segundo o IBGE, cerca de 65 milhões de
residências.
O primeiro volume da PNS, divulgado em dezembro do ano passado,
continha capítulos como a percepção do estado de saúde, as doenças
crônicas não transmissíveis e o estilo de vida. Na ocasião, o UOL mostrou que quase metade dos brasileiros é sedentária, 15% fumam e 28% veem muita TV. A hipertensão e os problemas na coluna eram as principais doenças dos brasileiros.
Intervalo de confiança
Por ser uma pesquisa por amostra, as variáveis divulgadas pela PNS
estão dentro de um intervalo numérico, que é o chamado "erro amostral".
Não há uma margem de erro específica para toda a amostra.
Para cada caso, é calculado o intervalo de confiança. "Isso quer dizer
que, em 95% das vezes que eu pegar uma amostra e calcular o indicador,
ele estará dentro daquele intervalo. (...) Quanto menor o intervalo de
confiança, melhor é", explicou Maria Lúcia Vieira, gerente da
Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Diferentemente das pesquisas eleitorais, que têm apenas um indicador em
destaque (a intenção de votos de determinado candidato), a PNS tem
vários indicadores e o valor de cada um deles oscila dentro do seu
intervalo específico.
* colaborou na reportagem Juliana Passos
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/06/02/mulheres-sofrem-mais-violencia-de-pessoas-conhecidas-das-vitimas-diz-ibge.htm