"O Brasil é um país pacífico e assim continuará”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff
no final do ano passado, durante uma cerimônia da Comissão Nacional da
Verdade. O Índice Global da Paz, lançado nesta quarta-feira pelo Institute of Economics & Peace,
no entanto, mostra um cenário diferente. De acordo com o relatório, o
Brasil caiu 11 posições no ranking dos países mais pacíficos do mundo, e
ocupa a 103a posição de um total de 162 nações - atrás de
Haiti, Cuba, Argentina e Serra Leoa. O estudo leva em conta dezenas de
variáveis, como acesso a armas, taxa de encarceramento da população,
atividade terrorista, crimes violentos, desigualdade de gênero e PIB.
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Os
quatro países mais pacíficos do mundo, de acordo com o índice, seriam
Islândia, Dinamarca, Áustria e Nova Zelândia, enquanto que no final da
tabela estão Síria, Iraque, Afeganistão e Sudão do Sul. Na América do
Sul, o Brasil só está à frente de Venezuela e Colômbia, que enfrentam,
respectivamente, uma grave crise social e política e um conflito armado
que já dura décadas entre o Exército e movimentos guerrilheiros ligados
ao tráfico de drogas.
A alta taxa de homicídios no Brasil – 25,2 por 100.000 habitantes -, a 12a
maior do mundo, ajudou a derrubar o país no ranking. Além do impacto
humano e social que as mais de 50.000 mortes anuais têm, o estudo faz
uma estimativa do custo da violência para os cofres públicos e para a
economia brasileira, levando em conta despesas com o sistema de saúde,
com aparato de segurança estatal e com o Judiciário. No total, o país
gasta 255 bilhões de dólares (765 bilhões de reais) por ano como consequência da violência,
o equivalente a 8% do valor do PIB nacional. O Brasil tem o quinto
maior gasto global com a violência, atrás apenas dos Estados Unidos,
China, Rússia e índia.
Para termos de comparação, em maio deste ano o ministro do
Planejamento Nelson Barbosa anunciou um plano de austeridade que previa
corte de 69 milhões no orçamento do Governo. Programas sociais como o
Minha Casa Minha Vida e até obras do PAC tiveram verbas reduzidas. O
valor gasto com a violência é mais de sete vezes maior do que orçamento
da saúde, que é de 109 bilhões de reais. “A violência exige que
investimentos sejam redirecionados de áreas produtivas como educação,
infraestrutura e saúde para áreas de contenção da violência”, diz o
texto, que cita grandes forças de segurança e encarceramento em massa
como exemplos.
O custo total da violência na economia mundial
chega a 14,3 trilhões de dólares, equivalente à economia do Brasil,
Canadá, França, Alemanha, Espanha e Reino Unido
O custo total da violência na economia mundial chega a 14,3 trilhões
de dólares, equivalente à economia do Brasil, Canadá, França, Alemanha,
Espanha e Reino Unido. “A América do Sul é o maior contribuinte com
custos provocados por homicídios na região”, diz o estudo, que aponta
Brasil e Colômbia como os países sul-americanos onde mais se mata. O
relatório afirma que “mesmo tendo experimentado um desenvolvimento
econômico em anos recentes”, os dois países não vivenciaram a “queda nos
índices de crime esperada”. O carro chefe do custo mundial da violência
são os gastos com Exércitos (43%), seguido por crimes e violência
interpessoal (18%). Conflitos armados respondem por apenas 11% do valor
total.
Além dos homicídios, “o Brasil tem sido afetado pela estagnação
econômica e inflação em alta, o que dispara a insatisfação social”, diz
Aubrey Fox, diretor-executivo do Institute for Economics & Peace.
Ele aponta ainda que o país passa por um momento de descontentamento com
escândalos de corrupção, que se traduzem em “protestos massivos”.http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/16/politica/1434476173_966307.html