O consenso dos analistas é de que a autoridade monetária irá elevar a taxa básica amanhã em 0,50 ponto porcentual, para 13,25%; na contramão da maioria, o Bradesco prevê que alta será só de 0,25 e a última do ano
São Paulo - Que a taxa de juro está alta, ninguém
duvida. Mas pode piorar. Começa hoje o primeiro dia de reunião do Comitê
de Política Monetária (Copom) que irá decidir amanhã o rumo da taxa
Selic. A maioria do mercado espera que a taxa, hoje em 12,75%, suba 0,50
ponto porcentual, para 13,25% ao ano.
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos,
André Perfeito, a inflação vem surpreendendo para cima e, além disso,
ele chama a atenção para o fato de o efeito da alta do câmbio ainda não
ter sido percebido integralmente. Ele lembra que desde setembro do ano
passado a moeda norte-americana acumula ganho superior a 30%. “Isso
ainda tem efeito no conjunto de preços do Brasil. A inflação corrente
está muito elevada, não tem espaço para o BC parar com a inflação acima
de 8%”, avalia.
Para Perfeito, a Selic deve encerrar o ano em
14,50% para ancorar as expectativas de 2016. “Isso é o que a autoridade
vem falando”, afirma. O economista lembra ainda que sempre que a
autoridade monetária enfrentou processo de max valorização agiu de forma
enérgica e que o inverso também é verdadeiro. “Quando o BC sobe muito o
juro ele já cria uma expectativa de que a queda será no mesmo ritmo”,
diz.
Embora a alta do juro seja um “mal” necessário para
evitar um maior avanço da inflação, o movimento influencia
negativamente o crescimento da economia. Segundo o boletim Focus
divulgado ontem pelo BC, os economistas esperam uma retração de 1,10%
este ano no PIB, ante menos 1,03% na projeção da semana passada. Para o
IPCA, as projeções subiram de 8,23% para 8,25%.
Para Perfeito, o salário e o desemprego serão as
principais variáveis que irão ditar o ritmo da Selic. “Tem que aumentar o
desemprego. Se os dados do Caged forem bons, não dá para parar de subir
o juro”, diz, lembrando que emprego e renda se refletem em consumo que
impacta a inflação.
O diretor da corretora Mirae Pablo Stipanicic Spyer
também ressalta que o BC tem o compromisso de atingir a meta de
inflação em 2016. “Trazer a inflação de 8,5% para 4,5% exigirá uma
contração econômica bem forte, sofrida, mas o BC continua com seu
compromisso de atingir a meta. Por essa razão, espero uma alta de 50 bps
agora e, pelo menos, mais duas ou três de 25 bps”, afirma. O executivo
ressalta que a situação do BC está bem complicada porque, mesmo que os
preços administrados agora subam menos, a inflação livre está
arrefecendo pouco. “A inflação livre está com uma correção muito modesta
até o momento e a inflação salarial também arrefeceu pouco. Fica
difícil não acreditar em novas altas da Selic”, aposta.
Em relatório, os analistas da SulAmerica
Investimentos ressaltam que o consenso de alta foi pautado pelas
manifestações recentes da autoridade monetária, em que reafirmaram a
disposição de colocar a inflação em trajetória consistente com o centro
da meta em 2016, avaliando também que o esforço efetuado até agora não
foi suficiente. “A desvalorização cambial recente, o choque de preços
administrados e a inércia inflacionária vêm mantendo a inflação corrente
anual acima do teto da meta, forçando o BC a estender o ciclo de aperto
monetário, que pode atingir 13,5% ”, estimam.
Já para o analista da corretora Concórdia Flavio
Combat, este deve ser o último aumento da Selic este ano. “Projetamos um
novo e derradeiro aumento de 0,50 pontos-base amanhã”, diz. Para 2016 a
expectativa é de Selic em 12% ao ano.
O mercado, no entanto, ainda diverge sobre o
momento em que o BC irá frear o aperto monetário com o fim do ciclo de
alta da Selic. Mais otimistas, em relatório divulgado ontem, os
analistas do Bradesco afirmaram que esperam uma alta de apenas 0,25
ponto porcentual para amanhã, que elevaria a Selic para 13%.
“Acreditamos que o BC encerrará o ciclo de aperto monetário”, afirmam em
relatório.
Alta da taxa afetará ainda mais o bolso do consumidor
O diretor de estudos e pesquisas econômicas da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, chama a atenção
para o fato de o aumento de 0,50 pontos base não ter grande impacto no
bolso do consumidor quando se olha o movimento isoladamente. No caso do
cheque especial, a taxa média mensal passaria de 9,64% para 9,68%.
“Sozinho, o impacto é pequeno. Mas é importante lembrar que a taxa saiu
de 7,25% em março de 2013, para o atual patamar”, diz. Desde então,
ocorreram 13 elevações da taxa Selic. Na ocasião, a taxa do cheque
especial era de 7,75%.
Por outro lado, esse aumento vai tornando o
investimento em renda fixa cada vez mais atrativo ante a poupança. Neste
caso, é preciso considerar a taxa de administração. Segundo o
levantamento da Anefac, numa taxa de administração de até 2% a 2,5% os
fundos de renda fixa tendem a ser mais atrativos. Segundo dados da
Anbima, no primeiro trimestre do ano, os fundos de renda fixa
registraram captação líquida de R$ 6,85 bilhões. No mês, até o dia 22, a
captação está em R$ 3,7 bilhões, ou seja, mais da metade de todo o
valor dos três primeiros meses do ano.
Para Oliveira, esse movimento da Selic deve
continuar contribuindo para a retirada de recursos da poupança, com os
investidores usando o dinheiro para honrar compromissos e também em
busca de melhores rentabilidades. “A sangria da poupança deve continuar
nos próximos meses”, estima.http://brasileconomico.ig.com.br/financas/2015-04-28/mercado-diverge-sobre-selic-no-final-do-ano.html