Pesquisa aponta que 88% dos moradores do Rio querem diminuir de 18 para 16 anos a idade penal
Leandro Resende
Rio - Seguindo a tendência nacional, a maioria
dos cariocas defende a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Pesquisa realizada pela Unicarioca revela que 88% dos entrevistados
apoiam a Proposta de Emenda à Constituição(PEC), atualmente em
tramitação na Câmara dos Deputados.
A pesquisa também revela que 67% dos moradores
do Rio não creem mais nas casas de correção para infratores, dos quais
55% acreditam que a privação de liberdade torna os menores “mais
revoltados” e mais perigosos.
“Há uma contradição nesses
resultados, porque o carioca tem medo, se sente acuado, quer uma
solução. A ideia do ‘qualquer coisa é melhor que nada’. E o dado mostra a
opinião de que os cariocas não creem na melhora desses jovens se forem
presos. O problema da violência, por lógica, se agravaria”, resume Jalme
Pereira, coordenador da pesquisa realizada pela Unicarioca.
Para 89% dos cariocas, o crime
praticado por menores tende a diminuir se a redução da maioridade penal
for aprovada. “Se fosse assim, nós não teríamos violência nunca. A
sociedade espera que o menor se sinta intimidado”, afirma Jalme. Foram
realizadas 712 entrevistas com 12 questões no Centro do Rio no mês
passado.
Segundo o coordenador, a pesquisa se restringiu
à região central da cidade pois por ali passam moradores de todas as
localidades do município. A análise dos resultados concluiu, por
exemplo, que moradores das zonas Norte e Oeste anseiam mais pela redução
da idade penal do que os da Zona Sul.
Depois de perguntar objetivamente qual a
opinião sobre a proposta que tramita no Congresso, a pesquisa deixou o
entrevistado livre para opinar a partir de quantos anos o jovem deve
responder criminalmente. Dezesseis anos foi a idade mais lembrada (27%),
seguida por 12 anos, defendida por 21% dos ouvidos. Já 18% querem a
redução para 14 anos, enquanto outros 15% defendem a passagem de 18 para
15 anos
O levantamento da Unicarioca constatou que para
92% dos cariocas, a violência cometida por menores vem aumentando, e
89% consideram o número de crimes praticados por menores de 18 anos
“estatisticamente significante”. Dados da Secretaria Nacional de
Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça estimam que os
menores de 16 a 18 anos são responsáveis por 0,9% do total dos crimes
praticados no Brasil.
Pela pesquisa, 53% dos cariocas defendem pena
integral para crimes hediondos, como homicídios, estupro e sequestro.
Outros 18% são favoráveis à internação em casas de correção, 12%
defendem a pena máxima de 30 anos de reclusão e 5% chegam a defender
prisão perpétua para os menores. Apenas 5% dos entrevistados apostam no
cumprimento de medidas socioeducativas.
Rafael Custódio, da ONG Conectas
Foto: Divulgação
'Sabemos quem vai preso no Brasil'
5 minutos com Rafael Custódio, da ONG Conectas
Advogado especialista em Direito
Penal, Rafael Custódio é coordenador de Justiça da ONG Conectas Direitos
Humanos e crê que o alto número de defensores da redução da maioridade
penal decorre principalmente do “desconhecimento” da população sobre o
tema.
1. Por que tanta gente defende a redução da maioridade penal?
A sociedade vê na prisão uma resposta
eficiente para problemas que ela não resolve. Deveria servir de exemplo
para este tipo de argumento o fato de que, apesar de termos a quarta
maior população carcerária do mundo, somos um dos países que mais mata.
Deveríamos ser um dos países mais
seguros do mundo, já que temos muitos presos. Não há exemplo de nenhum
país do mundo que tenha reduzido a maioridade penal e apresente redução
da criminalidade na sequência. É um desconhecimento muito grande,
motivado pelo fato de os crimes cometidos por menores aparecerem mais na
imprensa, mas estatisticamente, são ínfimos dentro do total. Os crimes
dos adultos seguem sendo muito mais numerosos e mais violentos.
2. O que mais contribui para este “desconhecimento” ?
Há uma grande sensação de impunidade e
insegurança no Brasil. Menores infratores são punidos, e com rigor. A
Fundação Casa em São Paulo vive superlotada, as unidades no Rio de
Janeiro também. Quando a sociedade elege um jovem como inimigo,
demonstra que nós temos uma grande fraqueza.
Ao querer colocar esse menor dentro de uma
penitenciária, significa dizer que não se crê na possibilidade de
garotos de 15, 16 anos terem a menor chance de se recuperarem e
conseguirem se reinserir na sociedade. Não há a visão de uma mínima
chance de recuperação. 3. Qual efeito imediato que uma eventual aprovação da PEC traria sobre a Justiça e sobre o sistema prisional brasileiros?
Sabemos muito bem quem é que vai para prisão no
Brasil. Há um perfil claro: são geralmente os menos escolarizados, mais
marginalizados. O menor que for para cadeia é punido também por não ter
tido escola. A redução seria como o Estado lavar as mãos para um
problema grave.
Além disso, temos um sistema penitenciário
completamente falido. Colocando mais jovens nas cadeias, o crime
organizado se fortaleceria, a partir da cooptação destes jovens para
suas fileiras. PEC agita Brasília
Até ser aprovada, a PEC que reduz a maioridade
penal movimentará os corredores do poder. Na semana passada, audiência
pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado ouviu associações de
juízes e organizações não governamentais.
Parlamentares como Cristóvam Buarque (PDT-DF) e
Lindbergh Farias (PT-RJ) foram contra a proposta, que aguarda parecer
de uma comissão especial na Câmara antes de seguir para plenário. O
relator do grupo, composto por 27 deputados, é Laerte Bessa (PR-DF).
Vinte e um deputados da comissão são publicamente defensores da redução
da maioridade.
Também na semana passada, o novo presidente da
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Sérgio da Rocha,
divulgou nota em que diz ser contra a redução da idade penal. “Não é
solução para violência”.
Um dos casos de violência citados pelos
defensores da redução da maioridade é o assassinato da jovem Liana
Friedenbach pelo então adolescente Champinha, em 2003. O crime, ocorrido
na zona rural de São Paulo, chocou o país e acendeu o debate sobre o
tema.
Doze anos depois, o pai da vítima, o advogado
Ari Friedenbach, mudou de opinião e passou a defender a redução apenas
para os menores que cometerem crimes hediondos. http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-04-27/carioca-e-favoravel-a-reducao-da-maioridade.html
Doutor Honoris Causa em Educação e Direitos humanos; ex- servidor na Prefeitura Municipal de Resende/RJ; Ex- Assessor de Gabinete do Prefeito na Prefeitura Municipal de Barra Mansa/RJ; Ex-servidor da Fundação Beatriz Gama de Volta Redonda/RJ. Eleito por três mandatos no Conselho Superior do Instituto Federal do Rio de Janeiro e dois no Conselho Municipal de Juventude de Barra Mansa/RJ. Consultor ad hoc da Associação Mineira de Pesquisa e Iniciação Científica, avaliando os trabalhos de Iniciação Científica e Tecnológica da 4ª Feira Mineira de Iniciação Científica (4ª FEMIC); Selecionado avaliador em um importante Prêmio de Inovação no estado de Minas Gerais e um outro no Espírito Santo em 2022. Encerrou 2022 recebendo homenagem do Governo Federal através do Programa Pátria Voluntária.