Como
conseguiram convocar os protestos e reunir tanta gente? "Era tudo mais
lento num momento político que exigia extrema rapidez. O que tinha de
tecnologia era fax e telefone [fixo]. Lembro que as nossas contas de
telefone eram quilométricas. Foram todas cortadas. Logo depois que o
Collor caiu, a gente não tinha condição de nada. A própria UBES deu 98
cheques sem fundo nesse período. Foi um negócio de louco", diz o
publicitário Mauro Panzera, que na época presidia a UBES (União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas).
"As diretorias da UNE
(União Nacional dos Estudantes) e da UBES fizeram uma espécie de comando
que acabava marcando um calendário e distribuía para todo o país. Essa
agenda era relativamente aceita pelo movimento estudantil no país
inteiro. E as pessoas das cidades sabiam das datas e se preparavam. Todo
dia tinha manifestação, de segunda a sexta", afirma Panzera.
Na
base do movimento, as notícias do calendário dos protestos corriam no
boca a boca nas escolas e universidades. "Essas coisas se espalham com
muita rapidez, mesmo sem WhatsApp, mesmo sem redes sociais. Vira uma
onda."
Os estudantes protagonizaram o movimento "Fora Collor" e
entraram para a história como os "caras-pintadas". Investigado pelo
Congresso, Collor deixou a presidência no terceiro ano de seu mandato e
sofreu o impeachment. O vice Itamar Franco, então no PMDB, assumiu o cargo.
"Naturalmente que a gente queria abalar a política ao fazer a nossa
manifestação, mas ninguém previa que o abalo seria tão grande", diz o
publicitário, que na época estudava em Belém e hoje vive em Fortaleza.
"O movimento estudantil não foi sectário, recebia todo mundo, era o
mais amplo possível. Aceitava todas as cores, todos os credos. O
importante era ser contra o Collor", afirma o ex-presidente da UBES.
Partidos e sindicatos também participaram do movimento "Fora Collor",
mas nos atos dos "caras-pintadas", os estudantes ditavam o calendário e
dominavam a palavra. "Quem discursava no final das manifestações éramos
nós. O movimento estudantil é uma salada de grupos pequenos. E todos
queriam ter direito de falar".
Mais que corrupção
As denúncias de corrupção abalaram e derrubaram Collor, porém as
entidades estudantis, majoritariamente de esquerda, também se opunham à
política econômica do governo. "A gente ressaltava bastante, por ser
algo que a própria mídia ajudava, esse aspecto da corrupção. Mas o nosso
objetivo era, de certa forma, frear o que o Collor se propunha a fazer
com a economia do país: vender empresas, ter uma politica excludente".
Nesse aspecto, opina Mauro Panzera, a mobilização atual contra a
presidente Dilma Rousseff (PT) lembra o movimento "Fora Collor". Para
ele, quem se articula contra a petista não está preocupado apenas com as
denúncias de corrupção e se opõe às políticas da gestão petista.
O publicitário vê, no entanto, Dilma com muito mais sustentação do que
Collor e critica os movimentos que pregam o impeachment da presidente.
"É um povo movido pelo ódio, pela raiva. Esses movimentos são mais
conservadores do que o Collor era na época".
Ampliar
Denúncias
de corrupção: Com a revelação do Esquema PC, foi aberta uma CPMI
(Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) no Congresso em junho de 1992
para averiguar o caso. Teve início uma série de denúncias contra Collor,
como a confirmação de que uma empresa de PC Farias pagava as contas da
Casa da Dinda, residência do presidente Sérgio Tomisaki/Folhapress http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/03/14/sem-whatsapp-organizadores-do-fora-collor-estouraram-conta-de-telefone.htm