Há exatamente 30 anos, em 1985, o Brasil encerrava oficialmente o
período da ditadura militar com a transferência do poder para o
presidente civil Tancredo Neves e a retomada das liberdades políticas.
Era o fim de um período obscuro e atrasado da história brasileira que
perseguiu e atacou, principalmente, a juventude.
Neste sábado, 28 de março, o movimento estudantil relembra dois
acontecimentos marcantes ligados àquela geração. Essa é a data de
comemoração do nascimento do universitário Honestino Guimarães – ex-presidente da UNE, perseguido e assassinado pelo regime militar – e de lembrança da morte do secundarista Édson Luís, símbolo da resistência aos militares, baleado em uma manifestação no Rio de Janeiro.
Honestino e Édson Luis são personagens permanentemente lembrados
pelos estudantes no país e suas mortes motivaram a luta que cedeu espaço
para a redemocratização. São alguns entre os muitos que tiveram suas
vidas interrompidas pela repressão política daqueles tempos.
RELATÓRIOS DA COMISSÃO DA VERDADE DA UNE
Para compreender as histórias e denunciar os abusos cometidos pelo
estado, a UNE criou em 2013 a sua Comissão da Verdade, cujos primeiros
relatórios serão apresentados ao público nos próximos dias, junto com o
lançamento do novo site da entidade.
Segundo a historiadora e pesquisadora da comissão, Raisa Marques, o
trabalho foi realizado em um momento de aprofundamento sobre a ditadura
no país: “A Comissão da Verdade da UNE foi criada no bojo de várias
comissões, entre elas a nacional, que foi uma reivindicação antiga dos
parentes e da sociedade, questionando o paradeiro dos desaparecidos. O
intuito é apresentar a trajetória desses militantes no movimento
estudantil até o processo que culminou no seu desaparecimento”, disse.
O trabalho reuniu a consulta a documentos, entrevistas, a busca de
relatos de parentes, outros militantes e informações de diversos órgãos.
“É preciso fazer um acerto de contas com o Estado brasileiro pelas
perseguições e violências cometidas nesse período”, afirmou a
historiadora. Um dos principais relatórios produzidos pela comissão e
que será apresentado à sociedade é justamente o de Honestino Guimarães.
HONESTINO GUIMARÃES?
PRESENTE!
Honestino Monteiro Guimarães nasceu em 28 de março de 1947 e deixou
de ser visto em 1973, aos 26 anos, quando era presidente da UNE e a
ditadura militar brasileira passava pelo seu período de maior
radicalização. Foi natural de Itaberaí, em Goiás, mas viveu grande parte
da juventude na capital federal, Brasília, onde foi aprovado no
primeiro lugar do vestibular da UnB para o curso de geologia, e onde
tornou-se um dos principais líderes do movimento estudantil nacional.
Era descrito pelos colegas como generoso, hábil, inteligente e
preocupado com o humanismo. Sua bravura em manter a UNE de pé ainda que
na clandestinidade transformou-o num símbolo permanente para a juventude
brasileira.
ÉDSON LUÍS?
PRESENTE!
Morto em 28 de março de 1968, aos 17 anos, com um tiro de um soldado à
queima roupa, Édson Luis de Lima Souto é um dos nomes mais conhecidos
da história sobre a ditadura militar. Alvejado enquanto participava de
um protesto no Rio de Janeiro contra o fechamento de um restaurante
popular, o jovem paraense transformou-se em mártir e inspirou grandes
movimentos de oposição ao regime, entre eles a Passeata dos Cem Mil, com
artistas, estudantes, intelectuais e diversas personalidades contrárias
à repressão, no mesmo ano. Édson Luis foi velado pelos próprios colegas
do movimento estudantil e seu corpo foi conduzido pelas ruas do Rio sob
os gritos de: “mataram um estudante, poderia ser seu filho”.