Para o ex-presidente da UNE Aldo Arantes
(1961-1962), é muito importante que todos os segmentos da sociedade
façam levantamento sobre o que ocorreu durante o período da ditadura
militar, principalmente em um setor tão atingido como o dos estudantes.
"Isso tem sido feito com as lideranças
sindicais, estudantis, advogados, sobretudo nessa situação concreta, de
uma ditadura militar que assassinou, torturou, censurou. Conhecer a
história é a melhor forma de impedir que isso volte a ocorrer, e é
necessário que a juventude, o povo, tome conhecimento disso para
combater certas tendências que passam a surgir. Inclusive com setores
que defendem o retorno da ditadura militar, quando foi exatamente um
período de retrocesso, não só do ponto de visto econômico e social, mas,
sobretudo, do ponto de vista político, com os assassinatos, a violência
que foi praticada", discursou.
De acordo com ele, como a juventude
brasileira sempre tem história de participação social e compromisso com
as mudança, acaba pagando "um preço pesado". A vice-presidenta da
Comissão de Anistia, Sueli Bellato, destacou que, além de revelar a
história do ponto de vista das vítimas, ainda é preciso esclarecer a
participação de agentes da repressão infiltrados no movimento
estudantil.
"A estrutura que foi formada na época da
repressão para legalizar a função do olheiro, a função do delator ainda
precisa ser e
sclarecida, porque muitos estudante também cumpriram um
papel que não era de estudante, mas de agente da repressão. Isso fez com
que muitos jovens fossem punidos injustamente e ilegalmente. Então,
acho que é fundamental para não se repetir e para que a gente conheça
se, na estrutura atual, há alguma herança do passado que deva ser
sanada", salientou.
De acordo com a presidenta da UNE, Vic
Barros, já foram lançados alguns relatório parciais da Comissão da
Verdade da entidade sobre casos como o do estudante da Universidade de
Brasília (UnB) Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE, assassinado
pela ditadura militar; e sobre a estudante da Universidade de São Paulo
(USP) Lenira Resende, vice-presidenta da UNE, assassinada na Guerrilha
do Araguaia. Além desses casos, o debate lembrou a historia da sede da
UNE, no Rio, incendiada pela repressão, em 1964.
"A nossa ideia hoje foi fazer um diálogo
que pudesse adicionar mais informações, mas também apresentar um pouco
do que representa a sede da UNE na história do movimento estudantil; a
história de ataques que a sede da UNE, o espaço de reunião do poder
jovem brasileiro, vem sofrendo. Nesse momento, uma contribuição que a
gente dá para o resgate da memória é a reconstrução da sede, na Praia do
Flamengo 132, com projeto doado por Oscar Niemeyer, que voltará a ser
um grande ponto de encontro do movimento estudantil", relatou.
A UNE pretende lançar o relatório final
da Comissão da Verdade, na forma de livro, durante o próximo Congresso
Nacional dos estudante, previsto para junho.
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