Segundo o site noticioso NovoJornal, de Belo Horizonte, **trouxe em
23/1/2007 a seguinte manchete "Governador de Minas, Aécio Neves, paga
US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo de Televisão na compra da
Light".*
Em investigação realizada pelo site, são revelados detalhes de um negócio em que o governo mineiro, com capital da Cemig, criou
uma outra empresa, a RME – Rio Minas Energia Participações S/A, a qual
comprou a Light "transferindo para os fundos credores da Rede Globo
(...) um crédito em ações de US$ 269 milhões, através do pagamento feito
a maior que a quantidade de ações adquiridas na Bovespa pela RME – Rio
Minas Energia Participações S/A, na operação de compra".
Segundo o site, quando se analisa a compra da Light pela RME com
documentos da Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da
Fazenda, percebe-se que, apesar de ter pago por 79,57% das ações da
Light, a RME só adquiriu 75,40%. Tal operação, de acordo com o
site, é utilizada por empresas particulares para esconder ou desviar
lucros, tal como quando se compra nota fria. O saldo da operação seria o
destinado à amortização da dívida da Globo para com credores
estrangeiros.
Toda a negociação, aparentemente, envolveu a posse do
ex-presidente da holding do Grupo Globo, Ronnie Vaz Moreira, como
presidente da tal RME - Rio Minas Energia Participações S/A e como
diretor-financeiro da Light. Em suma, o povo mineiro, sem saber, através
de sua companhia elétrica estadual, financiou o salvamento do grupo
Globo, para que este agisse em favor do governador mineiro Aécio Neves.
Nesse processo, a Cemig acabou por constituir sociedade com várias
empresas particulares na RME, porém sua participação é de apenas 25%.
Ainda de acordo com o site, "a irregularidade na constituição da empresa
é tão grande e insanável que a Junta Comercial e a Receita Federal não
conseguem explicar como isto ocorreu, prometendo pronunciar-se só depois
de uma profunda e detalhada investigação".
Blindagem eficiente
Como os credores da Globo nos EUA já tinham entrado com pedido de
falência contra a empresa em Nova York, o pagamento da dívida teve quer
ser feito dentro da contabilidade da Globo, o que acabou "deixando
rastro".
O site se alonga em detalhes exaustivos da operação e cita,
inclusive, dados da Justiça norte-americana, a qual, embora busque
explicações da origem do dinheiro da Globo para o pagamento do seu
pedido de falência, deixa um vazio justamente ao não explicar qual o
mecanismo de entrada desses recursos no caixa da Globo. Não explica o X
da questão.
O site dá indícios e mostra evidências fortes que devem ser apuradas pelo poder público e pela mídia. A questão é: qual mídia? Se
tal operação de salvamento da Globo através de artimanhas do mercado
financeiro foi realmente articulada pelo governo de Minas, por dedução
explica-se a eficiente blindagem e o quase apoio institucional que o
governador Aécio Neves recebe da Globo.
A Globo, por meio de seus veículos, não noticiaria ou mobilizaria a
opinião pública para uma irregularidade cometida para sanear suas
dívidas. Ou noticiaria? Aparentemente, também não o fariam o
Grupo Abril ou o Grupo Folha, pois, segundo matéria do mesmo site
("Aécio Neves entrega Copasa às multinacionais espanholas OHL, Agbar e
Capital Group, para montar campanha à Presidência", ver aqui), em
operação financeira dessa vez envolvendo a Copasa, o governo de Minas
acabou cedendo capital da empresa para grupos econômicos com
participação nos dois grupos de comunicação.
Cabe, no entanto, aos meios de comunicação não acusados e ao poder
público apurarem as denúncias de uso de capital de empresas públicas e
estratégicas para o financiamento de articulações e movimentações entre
políticos e grupos de comunicação.
Sugiro a este Observatório e aos profissionais de mídia investirem na
apuração dessas denúncias. Seria uma nova "Sociedade dos Amigos de
Plutão"? Pode ser, mas deve ser investigado para se chegar a essa
conclusão. Sendo as operações irregulares ou não, e tendo realmente
ocorrido, poderia tratar-se de uma manobra para obter controle sobre o
que é publicado nos meios de comunicação de maior alcance no país, sobre
controle dos grupos Globo, Folha e Abril. Ao financiar com dinheiro
público o saneamento das dívidas do Grupo Globo, Aécio Neves se tornaria
parceiro. Sócio. Ao permitir que capital da Copasa se misture com
capital de grupos estrangeiros dos quais fazem parte Folha e Abril,
novamente Aécio se tornaria parceiro. Sócio. Em suma, se trataria de uso
de dinheiro público para fins pessoais.
Projeto de poder
A crise financeira que assolou os veículos de comunicação, associada à
atual transformação no mercado de capitais e à entrada no país de novos
grupos investidores em telecomunicações e tecnologia, acabou por
configurar um cenário em que o grupo com maior poder de barganha, leva.
Não se trata de ideologia ou projeto político, mas pura e simples lógica
de mercado. Quem paga mais, leva.
Como o atual governo não o fez através de financiamento oficial do
BNDES, tão discutido alguns anos atrás, Aécio, segundo o NovoJornal, o
teria feito através das ferramentas que tem à mão, dispondo de capital
público, pertencente aos cidadãos mineiros, para, assim, aproximar-se
daqueles que divulgam idéias e para levar a si próprio e a seu grupo
político à presidência da República.
Desde o início de seu primeiro mandato ouve-se falar em cerceamento
da imprensa pelo governo de Minas. Em todos os veículos. Mas, se
confirmadas as denúncias apresentadas pelo site, a compra da "grande
mídia" no país para o benefício, impulso da imagem e conseqüente chegada
à presidência de Aécio Neves se mostrará não apenas como censura ou
cerceamento de idéias, mas como um profundo e bem arquitetado projeto de
chegada ao poder – não só do governador, mas de todo um complexo,
poderoso e influente grupo político e econômico. Será?http://www.jornali9.com/noticias/aecio-neves-pagou-us-269-milhoes-de-dividas-da-rede-globo-de-televisao#.VDqrH-jBxcc.facebook