A subida vertiginosa que a presidenciável Marina Silva (PSB)
experimenta nas pesquisas de intenção de votos corre o risco de se
reverter em uma queda acentuada, a partir das novas investigações da
Polícia Federal (PF) sobre o possível uso de recursos do caixa dois para
o pagamento das despesas com o avião que caiu em Santos, no litoral
paulista, há duas semanas. Durante uma operação de busca e apreensão, a
Polícia Civil de Pernambuco, que trabalha em conjunto com a PF,
encontrou na sede da empresa AF Andrade um documento que aponta o PSB
como locatário do jato Cessna Citation, sem uma declaração explícita, o que pode ser caracterizado como um crime.
O grupo diz ter vendido o avião que caiu com a comitiva de Eduardo
Campos (PSB), no último dia 13. No entanto, constaria nos papéis
apreendidos que os empresários pernambucanos pagaram cerca de R$ 700 mil
pela aeronave, antes mesmo de assinar qualquer contrato. O sinal foi
garantido em 12 de maio e o compromisso de compra assinado três dias
depois, por João Lyra de Melo Filho. A polícia considera manobra incomum
numa transação comercial de R$ 18,5 milhões, o preço final da aeronave.
O PSB alega que o jatinho foi cedido por três empresários e que ele
seria declarado ao final da campanha, mas o grupo Andrade está em
recuperação judicial, com dívidas de R$ 341 milhões. O advogado do
grupo, Celso Vilardi, diz que a suspeita da polícia é improcedente e que
já entregou os comprovantes da legalidade do negócio para a PF, que
também investiga o caso.
Quanto mais a polícia investiga, no entanto, mais complicada fica a
situação da candidata, que teve divulgada, nesta manhã, as primeiras
imagens que a conectam ao jato PR-AFA. Embora Marina Silva tenha
declarado publicamente, a um jornal televisivo noturno, que não sabia de
nenhum detalhe sobre o transação da aeronave que utilizava em suas
viagens, pela campanha eleitoral, a alegação não a isenta de
responsabilidade sobre quaisquer irregularidades sobre o equipamento.
Uma operação financeira duvidosa foi montada, com o uso de ‘laranjas’, e
o principal pagamento partiu do empresário pernambucano Eduardo
Ventola, dono de uma factoring, tipo de empresa normalmente usada para
‘esquentar’ dinheiro de caixa dois.
Aos jornalistas, ainda que a contragosto, Marina confessou o
conhecimento de um crime eleitoral e a participação nos benefícios desta
transgressão. Ela admitiu saber que o avião era produto de um
“empréstimo de boca” que seria “ressarcido” ao final da campanha.
Trata-se, no caso, de uma aberração jurídica e contábil, que os
tribunais tendem a questionar no controle de contas eleitorais. Não há
um contrato sobre o citado empréstimo irregular, preço estabelecido e,
sobretudo, as empresas que detinham o controle do avião, entre elas uma
peixaria de fachada, que não funciona, na prática, não se dedicam à
locação de transporte aéreo.
‘Dois pesos’
O deputado federal André Vargas (sem partido-PR), processado por
utilizar um avião que teve o aluguel pago por um doleiro, acredita que
há dois pesos e duas medidas quando o compara a outras atividades
irregulares na política. Desta vez, o parlamentar, que teve sua cassação
pedida pelo colega Júlio Delgado (PSB-MG) no Conselho de Ética da
Câmara por ter tomado emprestado o avião do doleiro Alberto Youssef,
preso na Operação Lava Jato, vê diferença de tratamento entre o
episódio vivenciado por ele e o do jato do PSB. O partido de Delgado,
relator de seu processo de cassação na Câmara, usava desde maio um avião
adquirido por recursos de caixa dois, pago por empresas fantasmas.
Além da peixaria falsa, outra empresa que assumiu a compra da
aeronave, a Bandeirantes Pneus, importava pneus chineses, causava danos
ambientais e chegou a ser favorecida por benefícios fiscais pelo
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). A queda do Cessna
Citation no litoral paulista trouxe o escândalo à tona.
Diante do que considera “uma hipocrisia”, Vargas protestou:
– Júlio Delgado pediu minha cassação por um voo. Agora podia explicar por que seu partido usava um avião de empresas fantasmas.
Em entrevista ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo,
no início de agosto, ele lembrou de outro caso: a construção de um
aeroporto pelo presidenciável Aécio Neves em terras que pertenciam a sua
família quando era governador de Minas Gerais. E constatou:
– Se Aécio fosse do PT, já teriam pedido cassação.http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/jatinho-pago-ate-por-peixaria-falsa-complica-campanha-de-marina/725013/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20140829