Era muito mais natural quando se tratava apenas de uma ideia safada, um filme adulto exibido, exclusivamente, na cabeça dele.

Sozinho, no quarto, já havia passado e repassado cada cena. Estava tudo previamente mapeado, roteirizado e ensaiado.

Sim, exaustivamente, ensaiado com capas de revista, atrizes de TV e personagens de ficção. Tinha uma fluência erótica, um repertório abrangente, baseado em anos de sexo solitário.

Não tinha como dar errado...

Mas então, vejam só, aquela mulher de verdade, carne e osso, perfume e odores, coxas e bunda, e tudo aquilo que costumava habitar o mundo infalível da sua imaginação, estava ali, insinuando-se, atacando-o e pedindo por concretude, vida real e ação.

E agora, José?

Tentou focar. Mas não entendeu aquele rubor, aquela leve tremedeira nas pernas e palpitação. Queria aquela mulher, mas também queria fugir; queria sentir o que era participar do mundo adulto; se olhar no espelho e gritar: trepei! Mas também queria correr para o seu quarto, ficar sozinho no escuro e se sentir invencível de novo.

Aquela mulher, aquele enigma, desafio e Everest, oferecia-se sem pudor. Absolutamente segura, dona do seu corpo e vontade, ela pedia por algo que o menino já não sabia se podia oferecer.

Tentou checar se tudo estava em seu lugar e funcionando. Se todas aquelas ereções desperdiçadas na solidão do box não estavam fazendo falta, se já não tinha gastado uma espécie de cota vital, vai saber...

Culpou-se por cada punheta, cada maldita punheta. Se tivesse se controlado mais, se não tivesse se masturbado todo santo dia desde os seus 13 anos, se tivesse se guardado, hoje, estaria em ponto de bala e...

O menino notou que o mais importante, pelo menos na cabeça tonta dele, já havia acontecido. Ufa! Eis aqui uma ereção. Ouvem-se as trombetas, o paraíso está novamente disponível e ele vai avançar em direção aos seus portões dourados.

- E a camisinha, amor?

A camisinha. Respira. O menino procura, atrapalhado, no bolso da calça que já estava no chão. Treme. Não consegue abrir o pacotinho. Tenta como um lord inglês, um 007, mas o jeito é fazer como uma criança desesperada pelo último pacotinho de figurinha. Ele quer completar o álbum, ele precisa completar o álbum e, dentro deste pacotinho, está o segredo da sua felicidade.

Quando, finalmente, tira o preservativo do tal pacotinho, sua ereção já não é mais aquela coisa. Volta a se preocupar com a performance e quase pede para tomar uma água gelada na cozinha.

Mas ela, a mulher de verdade, tem seus truques, dá o seu jeito, sabe ressuscitar os quase mortos e trazê-los à luz.
Ela, inclusive, ajuda-o na difícil colocação da primeira camisinha. O menino pensa, com certo pânico, que nunca, jamais, irá conseguir fazer isso sozinho.

E então, ufa, ele está lá, pronto, vivo, duro. Ela prefere ficar por cima - e ele dá graças a deus, talvez, se não se mexer muito, não atrapalhe, não estrague aquele momento, não estrague o momento mais esperado e importante da sua vida de rapaz.

E é quando tudo acontece...

Antes que o ponteiro do relógio avance com timidez, antes que a bomba caia sobre o Japão, antes que o sertão vire mar, continentes apareçam no horizonte; exércitos invadam países vizinhos; a lua derreta feito um sorvete de creme; antes mesmo do último suspiro do último homem a habitar esse universo ridículo; antes de qualquer ideia, ainda que embrionária, andar com as próprias pernas; antes de mais nada; antes de antes de antes de antes...

Acabou-se.

Então é isso? - pensou o menino.

Não, claro. Ele sabe que não é só isso.

Mas, finalmente, vislumbra um mundo de possibilidades. Talvez com mais tempo, talvez com mais treino, talvez...

Por agora, o jeito é se desculpar. Assumir a pressa. Voltar para o quarto. E esperar uma próxima chance.

Já não é mais virgem.

E isso é fato.

E o futuro pode ser muito, muito melhor...
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