RIO — Dos quatro principais candidatos ao governo do Rio, dois — o
deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o governador Luiz Fernando
Pezão (PMDB) — respondem, no total, a 12 processos na Justiça, oito
deles por improbidade administrativa. O senador Lindbergh Farias (PT) e
Garotinho têm seus nomes atrelados a 19 inquéritos no Supremo Tribunal
Federal (STF), sendo dez do petista e nove do deputado do PR. O senador
Marcelo Crivella (PRB), ex-ministro da Pesca, é o único sem processos ou
inquéritos em tramitação: as cinco acusações propostas pelo Ministério
Público Federal (MPF) foram arquivadas.
Com exceção de Crivella,
que foi ministro da Pesca, os três postulantes ao Palácio Guanabara com
pendências na Justiça já chefiaram o Executivo: Pezão foi prefeito de
Piraí por dois mandatos, de 1997 a 2005; Garotinho governou o Rio de
1998 a 2002; e Lindbergh esteve à frente da prefeitura de Nova Iguaçu
entre 2004 e 2010.
Candidato à reeleição, Pezão responde a cinco
processos por improbidade administrativa da época em que era prefeito de
Piraí. Ele foi condenado em julho de 2013 num dos processos, mas
recorreu da decisão. Todas as ações se referem à compra de ambulâncias
com recursos do Ministério da Saúde, em cinco convênios assinados entre
2000 e 2004.
SUPERFATURAMENTO DE AMBULÂNCIAS
O
MPF argumenta que houve superfaturamento na aquisição das Unidades
Móveis de Saúde (UMS) e relacionou os processos à investigação da máfia
dos sanguessugas, mas preferiu fracioná-los e entrar com uma ação para
cada um. A apuração sobre a máfia concluiu que, entre 2001 e 2006, donos
da empresa Planam venderam mais de mil ambulâncias a prefeituras,
somando R$ 110 milhões de movimentação. As licitações eram fraudadas e
os veículos, superfaturados. No processo em que foi condenado, Pezão é
réu com Paulo Maurício Carvalho de Souza, que presidia a comissão de
licitação. Os dois foram condenados a pagar R$ 14.546,12, além de uma
multa nesse valor. A assessoria da campanha de Pezão alegou que o juiz
frisa que o fato não tem relação com os sanguessugas.
A assessoria
ressalta que “o juiz também frisou que o suposto dano seria de pequena
monta e que não haveria qualquer prova de que o ex-prefeito tivesse se
beneficiado patrimonialmente dos fatos narrados na ação”.
Os
processos não estão nas certidões entregues por Pezão à Justiça
Eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) confirmou que o
governador não apresentou a certidão criminal do primeiro grau da
Justiça Federal. Procurada, a assessoria enviou a certidão ao GLOBO.
Garotinho
é réu em sete processos, incluindo dois por dano ao Erário e
improbidade, um por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem
de bens, e duas ações civis públicas, uma por dano moral e outra por
improbidade administrativa. Em agosto de 2010, ele foi condenado a dois
anos e seis meses por formação de quadrilha, pena convertida em
prestação de serviços, mas recorreu ao STF.
Segundo denúncia do
MPF em 2008, quando era secretário de Segurança no governo de sua
mulher, a atual prefeita de Campos Rosinha Garotinho (PR), o deputado
teria permitido o funcionamento de uma quadrilha de policiais
responsável pela facilitação de contrabando, corrupção e lavagem de
dinheiro. O advogado do deputado, Nélio Machado, disse que recorreu da
decisão no STF e considerou a acusação “frágil e despropositada”:
— Se ele fosse em tese o líder de uma quadrilha, não poderia receber uma pena de dois anos, então há um contrassenso.
No
Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), o deputado é réu em três processos,
sendo dois por dano ao Erário e improbidade, relacionados ao desvio de
dinheiro público para o PMDB através de ONGs ligadas ao governo do Rio.
As ONGs foram investigadas por envolvimento em repasses à campanha de
Garotinho quando ele concorreu à Presidência, em 2006.
MP VÊ DESVIO DE VERBAS
Segundo
a promotora Glaucia Santana, que ajuizou as ações, um dos processos
trata de contrato da Secretaria Estadual de Saúde com a Fundação
Procefet e não tem andamento atualizado. O segundo, no qual Garotinho é
réu com Rosinha, aguarda julgamento de recurso no STF. Segundo o
processo, trata-se de “desvio de verbas públicas em benefício próprio e
de terceiros estranhos a administração, entre estes até empresas
irregulares”. O terceiro processo acusa Garotinho e Benedita da Silva
por ato lesivo ao patrimônio artístico, estético, histórico ou
turístico. A defesa alegou que os processos sequer foram julgados em
primeira instância.
Lindbergh responde a dez inquéritos no STF. A
maioria dos casos está relacionado a suspeitas de irregularidades quando
o petista era prefeito de Nova Iguaçu. Ele é alvo de investigações por
crimes em licitações para a contratação de empresas prestadoras de
serviços e execuções de obras. Mas há casos de corrupção passiva e
emprego irregular de verbas públicas, além de crimes contra o sistema
financeiro e peculato. Segundo denúncia da Procuradoria Geral da
República (PGR), um dos inquéritos apura indícios de fraude em licitação
envolvendo a Rumo Novo Engenharia Ltda para a realização de obras de
saneamento em Nova Iguaçu, num total de R$ 5,9 milhões.
CRIVELLA TEVE CINCO PROCESSOS ARQUIVADOS
Réu,
Lindbergh chegou a ter bens bloqueados. Segundo a PGR, documentos sobre
o contrato com a Rumo Novo e o depoimento de uma servidora da
Secretaria municipal de Economia e Finanças evidenciam “indícios de
arranjo criminoso para entrega de propina por contratadas”.
O
advogado de Lindbergh, Celso Vilardi, atribuiu os inquéritos no STF
contra o senador a “disputas políticas” da época em que ele era
prefeito. No depoimento, a funcionária afirmou que empresas contratadas
não executavam serviços e que dinheiro foi usado para “financiamento de
campanha eleitoral de Lindbergh Farias e que o pagamento de despesas
pessoais do então prefeito foi realizado com o dinheiro de caixa dois”.
—
O que aconteceu foram questões políticas regionais levadas ao
Ministério Público por políticos de oposição. Foi um denuncismo
desmedido — disse o advogado, lembrando que dez inquéritos foram
arquivados.
Crivella não responde a processos. Cinco ações foram
arquivadas. Em 2003, o MPF apresentou inquérito por suspeita de crimes
contra o sistema financeiro e evasão de divisas. Investigou-se a
responsabilidade dos diretores das empresas Investholding e Cableinvest
por evasão de divisas, manutenção de contas no exterior sem conhecimento
da autoridade federal e sonegação fiscal. Em 2009, o ministro Ricardo
Lewandowski arquivou o inquérito. Em 2008, o Cimento Social, projeto de
habitação de Crivella, foi alvo de denúncias de propaganda irregular e
teve obras embargadas pelo TRE. O processo foi arquivado.
PEZÃO: PROBLEMAS DO TEMPO DE PIRAÍ
O
governador Luiz Fernando Pezão é réu em cinco processos por improbidade
administrativa da época em que comandou a prefeitura de Piraí. Ele foi
condenado em 2013 em um dos processos, mas recorreu da decisão. Todas as
ações se referem à compra de ambulâncias com recursos do Ministério da
Saúde, em convênios assinados entre 2000 e 2004, quando comandava o
município. O MPF relacionou os processos à investigação da máfia dos
sanguessugas. A assessoria da campanha do peemedebista alegou que a
condenação não tem relação com a máfia, o que, de fato, consta na
sentença do juiz. Os processos não constam nas certidões entregues à
Justiça Eleitoral e foram enviados depois ao GLOBO.
GAROTINHO: PENA CONVERTIDA EM SERVIÇOS
O
deputado federal responde a sete processos, entre eles três por
improbidade administrativa e um por corrupção passiva, formação de
quadrilha e lavagem de bens. Há ainda nove inquéritos no STF que
envolvem o ex-governador. Em 2010, Garotinho foi condenado a dois anos e
seis meses por formação de quadrilha, pena convertida em prestação de
serviços. Segundo denúncia, quando era secretário de Segurança no
governo de Rosinha Garotinho (PR), o deputado teria permitido o
funcionamento de uma quadrilha de policiais que seria responsável pela
facilitação de contrabando, corrupção e lavagem. A defesa recorre da
decisão, que considera “despropositada”.
LINDBERGH: BENS FICARAM BLOQUEADOS
O
petista responde a dez inquéritos no STF, muitos relacionados a
suspeitas de irregularidades da época em que era prefeito de Nova
Iguaçu. Lindbergh também é investigado por crimes em licitações para a
contratação de prestadoras de serviços e execuções de obras. Mas há
casos de corrupção passiva e emprego irregular de verbas públicas, além
de peculato e crimes contra o sistema financeiro. Um dos inquéritos,
pelo qual o petista chegou a ter os bens bloqueados, apura indícios de
fraude em licitação para obras de saneamento na cidade. A defesa do
senador atribuiu a quantidade de inquéritos em tramitação às “disputas
políticas” de quando era chefe do Executivo.
CRIVELLA: CIMENTO SOCIAL FOI POLÊMICA
O
senador não tem condenações ou ações correndo na Justiça. O que constam
são cinco processos, todos arquivados. Em 2003, o MPF apresentou
inquérito contra Crivella por suspeita de crimes contra o sistema
financeiro e evasão de divisas para apurar a responsabilidade penal dos
diretores das empresas Investholding e Cableinvest em crimes de evasão
de divisas, manutenção de contas no exterior e sonegação fiscal. Em
2008, em sua segunda candidatura a prefeito, o projeto de habitação
Cimento Social foi pivô de denúncias de propaganda irregular e chegou a
ter obras embargadas pelo TRE-RJ.
http://oglobo.globo.com/brasil/principais-candidatos-ao-governo-do-rio-tem-pendencias-com-justica-13295690#ixzz37ouZlldV