Secretaria Estadual de Cultura vai financiar bailes funk em áreas com UPP
Comissão escolheu 19 projetos de eventos, além de outros 17 de produção musical, circulação artística, audiovisual, memória e comunicação
Rio - Nascido e criado nos morros, o funk tem
uma história de altos e baixos. Ganhou voz em meados da década de 1990,
mas em seguida foi marginalizado por ter, em alguns locais, sua imagem
associada aos ‘proibidões’, letras que exaltavam termos pornográficos e o
tráfico de drogas. Ficou oprimido por um tempo, mas nunca esquecido. Há
alguns anos, retomou seu fôlego graças a artistas e produtores que se
dedicam a resgatar o melhor do mais carioca dos ritmos. Agora, com
status de movimento cultural e apoio financeiro da Secretaria Estadual
de Cultura, o funk começa uma nova etapa de sua história, com bailes
legais e financiados como projetos do estado em áreas com UPPs.
Mês passado, uma equipe julgadora participou da
última etapa de seleção de projetos inscritos no edital, lançado pela
secretaria em dezembro, para escolher programas que receberiam apoio
para serem realizados. Entre os presentes, havia representante do
Comando de Polícia Pacificadora (CPP), que deve levar aos comandantes de
UPPs a mensagem sobre os trabalhos vencedores e estabelecer com eles um
canal para viabilizar a realização dos eventos.
Funk livre: Ação é uma nova etapa na história do gênero musical polêmicoem comunidades
Foto: Arte O Dia
Paulo Bahia, sociólogo e cientista
político da UFRJ, acredita que, além de valorizar a cultura, o
investimento no movimento funk pode dissociar os eventos da
criminalidade. “Ficando dentro da legalidade, o funk se distancia de vez
da imagem e do contato com o tráfico. Ter patrocínio, editais ou
financiamentos, faz com que se valorize a identidade cultural da
população. O funk já é uma cultura estabelecida em todas as localidades e
classes sociais”, analisa.
Entre as mais de 100 inscrições, havia shows,
gravações de CDs e promoções de artistas, e até lançamento de revistas e
teatro sobre a história do movimento. Só foram aceitas inscrições de
pessoas, grupos ou associações que tivessem atuação comprovada no funk
há pelo menos dois anos.
A comissão escolheu 19 projetos de bailes em
comunidades ocupadas por forças de segurança, além de outros 17
trabalhos, divididos nas seguintes categorias: produção musical,
circulação artística, audiovisual, memória e comunicação. Um dos
objetivos da secretaria para a seleção dos trabalhos era que ele
ajudasse no reconhecimento do funk como movimento cultural.
Rocinha, Borel, Alemão
Os idealizadores de bailes receberão R$ 20 mil
cada para tocar o projeto. As demais categorias, R$ 15 mil, totalizando
quase R$ 650 mil em apoio financeiro. A verba deve ser liberada no final
de julho, e os produtores têm que seguir à risca os prazos apresentados
na inscrição, além de prestar contas. Todos devem seguir protocolos de
autorização e legalização.
Alguns dos trabalhos vencedores preveem bailes
em locais fora da capital, como Caxias, e a comunidade da Chatuba, em
Mesquita. Na Região Metropolitana, moradores da Rocinha, Borel, Cidade
de Deus e Complexo do Alemão também podem esperar pelos bailes
financiados.
Mr. Catra faz bailes em três morros
Grande incentivador do movimento, Mr. Catra tem
equipe que foi uma das vencedoras da concorrência. O projeto Baile do
Negão pretende levar o som para três comunidades: Morro dos Prazeres, em
Santa Teresa; Fogueteiro, no Catumbi; e Morro do Gambá, no Complexo do
Lins. O evento terá preços populares e participação de moradores. “Estou
muito feliz com a aprovação dos bailes em comunidades. Além de levar
música para as pessoas, vai dar emprego para muitos pais. Minha equipe
já tem até data para cantar”, comemora. Outra que está empolgada é a MC
Marcelly, do funk Bigode Grosso. Para ela, que conquistou crianças e
adultos de todas as idades, o ritmo unifica culturas e classes. “O funk
ganhou muito com isso. Ele veio da comunidade e era um absurdo não poder
ter bailes lá.
"Além
de levar música para as pessoas, vai dar emprego para muitos pais.
Estou muito feliz", diz Mr. Catra, que teve projeto aprovado
Foto: João Laet / Agência O Dia
Fuzis no salão e pedradas
Diversão para muitos, os bailes também foram
palco de muita confusão quando traficantes insistiam em estender sua
truculência e domínio na única opção de lazer nas comunidades.
Em dezembro, O DIA
mostrou que o concorrido baile do Parque União, no Complexo da Maré,
por exemplo, era ponto de exibição de fuzis pelo bando do chefão do
tráfico Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga.
Em janeiro, no recém-pacificado
Complexo do Lins, duas viaturas da UPP foram atacadas a pedradas depois
que policiais tentaram acabar com um baile clandestino.
Cenas de violência nos bailes mancharam a história do funk no Rio
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-05-01/secretaria-estadual-de-cultura-vai-financiar-bailes-funk-em-areas-com-upp.html