Mulher que é mulher tem celulite,
Não é a primeira e infelizmente não será
a última vez que ouvirei essa história de alguma amiga: ela acorda numa
bela manhã se sentindo poderosa, glamourosa, rainha do funk –
praticamente a Beyoncé no clipe de “Run The World”.
Sai da cama, dá uma rodadinha, corre pra se trocar e, no caminho para o
banheiro, dá de frente com o causador de um grande problema: o espelho.
O objeto que deveria servir apenas para mostrar como ela é incrível a
faz enxergar gordurinhas saltando, estrias e celulite. De repente um
arrepio (daqueles ruins, não o tipo que você teria se o Ryan Gosling
colasse no teu cangote te chamando de “my dear”) e pronto, a semana
acabou de ir para o inferno.
Ela já sai meio cabisbaixa para o
trabalho e parece que o mundo decidiu mostrar, de todas as formas
possíveis, sua falta de gostosura: propaganda de academia no Facebook, o
caminho do trabalho parece ter virado uma passarela, as fotos dos
amigos e amigas na praia exibem barrigas esculpidas em mármore e, a cada
sinal, a insegurança triplica.
Chega o final de semana e a confiança
está tão baixa que, mesmo com um calor de 30º, ela está escondendo o
corpo com uma calça jeans larga e um suéter. O rolo passa na sua casa e,
em caso de sexo, é certo que as luzes estarão apagadas – não por
escolha e sim pelo medo que ele a veja “assim”. O sexo acaba sendo uma
merda e tudo que elas conseguem pensar é que a culpa foi das malditas
gordurinhas. Das estrias. Da celulite.
Isso é errado demais.
Um amigo me definiu essas “imperfeições”
(em aspas absolutamente necessárias) como “a vida”. Todo mundo têm
celulite. Todo mundo têm estrias. E se você sente-se acima do peso,
outra pessoa sente-se abaixo. Se alguém acha que é alto demais, outra
pessoa pensa que é muito baixinha. Uma garota pensa que tem seios
pequenos. Um cara perde noites de sono pensando que seu pau é pequeno.
Dia após dia, ano após ano, somos
bombardeados com estereótipos de beleza que só prejudicam, mais e mais, a
maneira como olhamos para outras pessoas – e nos enxergamos na frente
do espelho. Isso afeta, consequentemente, a nossa relação com o outro – e
com nós mesmos.
Eu falei nossa? Desculpa.
Isso é um pesadelo – como depressão,
bulimia, bullying e suicídio – para milhões de mulheres em todo o mundo.
E por mais que eu tenha dito que muitos homens sofrem com a questão do
tamanho de seus membros sexuais, são uma minoria – assim como eu, que
vez ou outra me incomodo com um projeto de pança, sou uma minoria.
São mulheres com corpos “esculturais”
que aparecem em comerciais de lingerie. Portais de notícias vão abaixo
quando alguma famosa vai à praia – ou simplesmente sai de casa para ir
pintar as unhas. Diversos galãs mundo afora não estão dentro de padrões
de beleza e, ainda assim, são tidos como homens maravilhosos.
Cair nessa armadilha opressora e
machista só vai te prejudicar, seja você homem ou mulher. Uma mulher
infeliz com seu corpo não conseguirá ser feliz, enquanto um cara
obcecado por esses padrões de beleza nunca irá enxergar a beleza de
verdade – estará guiando-se apenas por aquilo que lhe foi imposto,
aquilo que mandaram ele achar bonito.
Atração é muito mais que um peito ou uma bunda, amigo.
Olha pra ela inteira. Olha esse sorriso
que ela dá quando te vê – seja ela tua namorada ou teu flerte. Olha o
jeito que ela acorda, toda bagunçada, mas linda. Olha para esse
amontoado de curvas ou retas que vão te receber como nenhum outro corpo.
A beleza real precisa de mais do que uma olhada rápida para ser
realmente vista. Fosse assim, o mundo seria um grande Tinder: essa eu
quero, essa eu não quero.
Aceite sua celulite, suas gordurinhas ou
o raio que o parta. Aceite isso porque faz parte de você, e alguém que
não te quer por inteira não deve ter nenhum pedaço teu. Mais importante:
se quiser mudar, mude por você, na o pelo que os outros te dizem –
sejam os outros o teu namorado ou a TV. Se você não sentir-se feliz por
quem você é, seja lá como for, irá esconder tudo que tem de bonito em
você. Entre quatro paredes a autoconfiança dá muito mais tesão que uma
barriga lisinha ou um par torneado de coxas.
E você, rapaz que acredita ser o centro
do mundo das mulheres e que elas precisam estar do jeito que você
deseja: cresça, bicho. Isso é soberba e imaturidade – e eu te garanto:
nenhuma barriga tanquinho vai impedir uma mulher de broxar contigo se
você continuar pensando assim.http://www.casalsemvergonha.com.br/2014/05/15/mulher-que-e-mulher-tem-celulite-homem-que-e-homem-nao-repara/
homem que é homem não repara