- Como é sabido, historicamente, nossa entidade marcou sua credibilidade social no Brasil por diversas razões, mas, sempre pautada na reta posição de seus dirigentes na defesa da liberdade de expressão e do Estado Democrático de Direito, especialmente no período da Ditadura Civil-Militar - disse Alex.
Ainda de acordo com o presidente da OAB/VR, que também preside a Comissão da Verdade de Volta Redonda, entidade que busca trazer à luz detalhes que aconteceram em Volta Redonda durante a ditadura militar, atualmente foi retomada a busca incessante pela verdade e, portanto, não faria sentido unir-se ao Centro Cívico.
- Pugnamos por Justiça para aqueles que sofreram gravemente em Volta Redonda e no Brasil violações aos seus Direitos Humanos pelo Regime Militar Brasileiro, depois do Golpe de 1964 - completou Alex.
Em ofício enviado ao CC-VR, o bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, Dom Francisco Biasin, também explicou por qual motivo ele não faria mais parte do conselho deliberativo da entidade. Disse que, como representante maior da igreja católica na região, tem o compromisso de zelar pelas pessoas, no sentido de conduzi-las pelo caminhos da verdade, que lhes garantam sua total dignidade.
- Após profunda reflexão sobre a criação do Centro Cívico de Volta Redonda, e examinando o objetivo principal da sua existência, verifiquei que tal objetivo coincide com a ideologia e a metodologia do período de exceção caracterizado pela revolução de 1964. Como igreja católica, através da CNBB e da atuação de muitos bispos, entre os quais se destaca a figura de Dom Valdir Calheiros, que lutou para que o Brasil retornasse ao Estado de Direito, não é compatível para a Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda ser membro do Centro Cívico - explicou Dom Francisco.
Uma fonte ligada a Igreja católica de Volta Redonda informou ao DIÁRIO DO VALE que os religiosos não aceitaram bem a aproximação entre a Cúria, através de Don Francisco Biasin, e o Centro Cívico. Um dos motivos do desconforto seria, inclusive, o estudo preparado pelo Movimento Ética na Política (MEP) contra a ditadura, com foco em Dom Waldyr Calheiros. O religioso, morto no ano passado, é considerado um ícone na luta contra a exceção militar.
O presidente do Centro Cívico de Volta Redonda, Antônio Cardoso, não encarou com bons olhos o pedido de desfiliação. Para Cardoso, tanto Alex quanto o bispo dom Francisco Biasin foram injustos, pois eles não teriam entendido qual é a real missão do CC-VR.
- Isso tudo é uma bobagem, porque o Centro Cívico não tem cor política. Na minha opinião, eles não têm motivo para pedir sua exclusão do conselho deliberativo, pois não é nossa intenção defender a ditadura - desabafou Cardoso.
Antônio Cardoso fez questão de dizer que, para ele, o período mais negro vivido pelos brasileiros ficou no passado e de lá não quer retirá-lo.
- A intenção do Centro Cívico é trazer de volta o civismo, os conceitos de cidadania e moral. Não queremos saber dos tempos da exceção. Isso tudo já passou. Queremos mesmo é educar nossos jovens de modo que eles desenvolvam amor à pátria. Para mim, Alex e o bispo, embora os respeite muito, estão fazendo uma tempestade em copo d'água - objetivou Cardoso, indo além. "Não queremos saber de verdades e mentiras. Estou com a consciência tranquila", disse.
O motivo
A decisão de Alex Martins e do bispo Don Francisco Biasin de se desfilarem do conselho deliberativo do Centro Cívico de Volta Redonda teria sido tomada logo após um dos fundadores do CC-VR, coronel Dylson dos Santos, ter enviado ao presidente da OAB/VR um e-mail contendo artigos de militares e críticos do comunismo que, em tese, vão de encontro às liberdades individuais dos cidadãos.
Questionado a comentar o assunto, coronel Dylson deixou claro que não pretende transformar a história em polêmica, mas admitiu ter restrições ao comunismo e também à Comissão da Verdade Nacional, mas não tem nada contra Alex Martins nem contra o bispo Don Francisco Biasin.
- O Centro Cívico está acima de quaisquer questões políticas. Não vou polemizar e nem dar publicidade às críticas feitas a esta entidade. Tenho, sim, minhas restrições à Comissão da Verdade Nacional pelo modo que pretendem agir, mas confio no doutor (sic) Alex e em sua capacidade -desconversou Dylson.
Sobre o e-mail enviado ao presidente da OAB/VR, o coronel aposentado disse que não tinham nada de errado, eram apenas alguns artigos que ele costuma compartilhar com amigos. Já sobre a desfiliação, Dylson acredita que não deveria se concretizar.
-Eu já tinha conversado com o bispo de nossa Diocese. Eu havia dito a ele que no Centro Cívico ninguém é dono da verdade, mas, por ser um católico praticante, não poderia esconder da minha igreja qualquer verdade que apareça. Também havia falado isso para Alex Martins. Portanto, considero desnecessária a saída dos dois - criticou.