Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, na Cúria Diocesana, o bispo da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, Francisco Biasin, lançou a Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é “Fraternidade e Tráfico Humano”, com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”.
Ao lado do padre Juarez Sampaio e do coordenador diocesano de pastoral, padre Flávio Luís, o bispo explicou o tema deste ano, afirmando ter sido escolhido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), em razão do que está ocorrendo no mundo todo. “A ONU (Organização das Nações Unidas) forneceu elementos importantes para nós”, disse o religioso.
Ele citou dados da organização segundo os quais o tráfico humano – com a finalidade sobretudo de exploração de mão de obra e prostituição – movimento US$ 32 bilhões por ano, atingindo cerca de 21 milhões de pessoas ao redor do mundo. “O tráfico de pessoas é um crime presente em todos os países, muito bem organizado, com estrutura grande, que envolve políticos, juízes, policiais e empresários, em todos os níveis. É utilizado por pessoas inescrupulosas, que se enriquecem de forma desmedida”, disse dom Biasin.
Ainda de acordo com ele, o transplante de órgãos e a pornografia infanto-juvenil também têm peso considerável na questão. Depois de afirmar que existem 250 rotas mundiais de tráfico de pessoas, o bispo disse que se trata de um crime silencioso, muito difícil de identificar os autores: “Queremos abrir os olhos na nossa região, dando apoio a quem queira falar, denunciar, pois muitos não falam por medo”.
Dom Biasin afirmou que, no Sul Fluminense, as pessoas podem até não se dar conta da existência deste tipo de atividade criminosa. “Eu também pensava que não existia, mas existe”, disse ele, revelando um encontro realizado há cerca de 20 dias com a finalidade de discutir o tema da campanha, quando foram ouvidos relatos dando conta da dimensão do assunto no Sul do estado. Ele admitiu que não há estatísticas, por isso, a Igreja pretende procurar órgãos como o Conselho Tutelar e as delegacias de polícia, além de juízes da infância e da Juventude, para buscar mais informações.
Na entrevista, o padre Juarez lembrou que o tráfico de pessoas é uma prática antiga, que atingiu negros e indígenas, mas ressaltou que hoje aliciadores agem, sobretudo, em grupos de migrantes. “O elevado número de crianças desaparecidas também é um indício de que o tráfico humano persiste. Os mais pobres são os mais vulneráveis a este tipo de crime”, afirmou o padre, citando que, segundo dados da ONU, 55% das vítimas são mulheres, levadas principalmente à prostituição forçada, enquanto os homens são alvo com a finalidade de exercer mão de obra escrava, notadamente na construção civil, no agronegócio e no setor de confecções: “As pessoas são atraídas por propostas e promessas de ganho que são falsas”.
- A vulnerabilidade deve ser combatida com políticas públicas. – acrescentou Juarez.
Para o padre Flávio Luiz, o tráfico humano “é ainda mais ilegal e imoral (que os outros tipos) porque está traficando pessoas”. Para ele, é preciso a sociedade cobrar do Estado o enfrentamento desta prática: “O tráfico humano cresce mais ainda onde é maior a vulnerabilidade social”.
Dom Biasin ressaltou que, no Brasil, há propostas de tornar o tráfico humano crime inafiançável e não anistiável, o que, na sua opinião, seria um meio de coação do crime organizado se a emenda constitucional com tal proposta vier a ser aprovada.
Para ele, a campanha é um grande desafio da Igreja e será permanente, enquanto houver vítimas deste tipo de crime.
O lançamento oficial para o público será no próximo domingo, às 9 horas, na Ilha São João. 
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