Não é só a imprensa que está de luto com a morte do nosso colega da TV Bandeirantes Santiago Andrade. É a sociedade.
Jornalistas
não são pessoas especiais, não são melhores nem piores do que os outros
profissionais. Mas é essencial, numa democracia, um jornalismo
profissional, que busque sempre a isenção e a correção para informar o
cidadão sobre o que está acontecendo. E o cidadão, informado de maneira
ampla e plural, escolha o caminho que quer seguir. Sem cidadãos
informados não existe democracia.
Foi uma atitude autoritária,
porque atacou a liberdade de expressão; e foi uma atitude suicida,
porque sem os jornalistas profissionais, a nação não tem como tomar
conhecimento amplo das manifestações que promove.
Também a polícia
errou - e muitas vezes. Em algumas, se excedeu de uma forma inaceitável
contra os manifestantes; em outras, simplesmente decidiu se omitir. E,
em todos esses casos, a imprensa denunciou. Ou o excesso ou a omissão.
A
violência é condenável sempre, venha de onde vier. Ela pode atingir um
manifestante, um policial, um cidadão que está na rua e que não tem nada
tem a ver com a manifestação. E pode atingir os jornalistas, que são os
olhos e os ouvidos da sociedade. Toda vez que isso acontece, a
sociedade perde, porque a violência resulta num cerceamento à liberdade
de imprensa.
Como um jornalista pode colher e divulgar as
informações quando se vê entre paus e pedras e rojões de um lado, e
bombas de efeito moral e bala de borracha de outro?
Os brasileiros
têm o direito de se manifestar, sem violência, quando quiserem, contra
isso ou a favor daquilo. E o jornalismo profissional vai estar lá - sem
tomar posição a favor de lado nenhum.
Exatamente como o nosso
colega Santiago Andrade estava fazendo na quinta-feira passada. Ele não
estava ali protestando, nem combatendo o protesto. Ele estava
trabalhando, para que os brasileiros fossem informados da manifestação
contra o aumento das passagens de ônibus e pudessem formar, com suas
próprias cabeças, uma opinião sobre o assunto.
Mas a violência o feriu de morte aos 49 anos, no auge da experiência, cumprindo o dever profissional.
O
que se espera, agora, é que essa morte absurda leve racionalidade aos
que contaminam as manifestações com a violência. A violência tira a vida
de pessoas, machuca pessoas inocentes e impede o trabalho jornalístico,
que é essencial - nós repetimos - essencial numa democracia.
A
Rede Globo se solidariza com a família de Santiago, lamenta a sua morte,
e se junta a todos que exigem que os culpados sejam identificados,
exemplarmente punidos. E que a polícia investigue se, por trás da
violência, existe algo mais do que a pura irracionalidade.http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2014/02/11/editorial-da-rede-globo-sobre-morte-de-cinegrafista-523764.asp