Segundo pesquisa, 42% das mulheres chegam ao orgasmo com sexo casual, contra 80% dos homens. Por que só eles estão aproveitando?
Natasha Gadinsky, de 23 anos, diz que não se arrepende de
seus anos na faculdade. Entretanto, não se pode dizer o mesmo do tempo
que ela ficou com um rapaz na Universidade de Brown. Depois de ele ter
chegado ao orgasmo naquela noite, disse ela, não demonstrou interesse
algum em satisfazê-la. No encontro seguinte, a mesma coisa aconteceu de
novo. Ele "não se importou nem um pouco", disse Gadinsky, coordenadora
de assistência médica que reside em Nova York: "Acho que ele nem
tentou". Ele caiu no sono imediatamente, deixando-a olhando para o teto.
"Fiquei muito frustrada".
Assim
como acontecia gerações antes delas, muitas jovens mulheres como
Gadinsky estão descobrindo que o sexo casual não dá a elas o prazer
físico que os homens experimentam mais frequentemente. Uma nova pesquisa
sugere um motivo: as mulheres são menos propensas a ter orgasmos em
encontros sexuais sem compromisso do que em relacionamentos sérios. Ao
mesmo tempo, os pesquisadores dizem que as mulheres jovens vêm se
tornando parceiras tão interessadas na cultura do sexo casual quanto os homens, muitas vezes tão dispostas quanto os jovens a se aventurar em relações sem vínculos emocionais.
"A
noção de liberação sexual, segundo a qual homens e mulheres tinham
igual acesso ao sexo casual, passou a implicar uma probabilidade
semelhante de prazer para ambos os lados", disse Kim Wallen, professor
de neuroendocrinologia da Universidade de Emory, onde estuda o desejo
feminino. "Todavia, não há paridade nessa parte do jogo".
Uma
pesquisa com 600 estudantes universitários liderada por Justin R.
Garcia, biólogo evolucionário do Instituto Kinsey da Universidade de
Indiana, e pesquisadores da Universidade de Binghamton, descobriu que as
mulheres tinham uma probabilidade duas vezes maior de chegar ao orgasmo
a partir de penetração e sexo oral em compromissos sérios do que em
relações casuais. O trabalho foi apresentado na reunião anual da
Academia Internacional de Pesquisa sobre o Sexo e na Convenção Anual de
Ciência Psicológica deste ano.
Da forma similar, uma pesquisa com
24 mil estudantes de 21 escolas, realizada ao longo de cinco anos,
descobriu que 42% das mulheres tinham chegado ao orgasmo
durante o seu último encontro envolvendo sexo casual, contrastando com
80% dos homens. Por outro lado, 74% das mulheres que participaram da
pesquisa disseram ter chegado a um orgasmo na última vez em que fizeram
sexo em um relacionamento sério. A pesquisa foi liderada por Paula
England, socióloga da Universidade de Nova York que estuda a dinâmica do
sexo casual.
74% das mulheres que participaram da pesquisa
disseram ter chegado a um orgasmo na última vez em que fizeram sexo em
um relacionamento sério
"Atribuímos isso a
um relacionamento com um parceiro, que proporciona mais êxito no
orgasmo, e também achamos que os homens se preocupam mais quando estão
em um relacionamento", disse England.
De fato, os jovens que
participaram do estudo de England admitiram que muitas vezes se
concentram menos em agradar sexualmente uma mulher com quem estão saindo
casualmente do que uma mulher com quem estão namorando.
Duvan
Giraldo, de 26 anos, um técnico em software do Queens, em Nova York,
disse que satisfazer a parceira "é sempre a minha missão", mas
acrescentou: "Eu não me esforço tanto quanto como quando estou com
alguém de quem realmente gosto". E com as mulheres que ele acabou de
conhecer, segundo ele, pode ser difícil falar sobre desejos específicos
na hora da relação.
"Naquele momento, ainda somos praticamente desconhecidos", disse ele.
Leia mais: guia de etiqueta para o sexo casual
Não
passar orientações é comum, disse Paula. "As mulheres não se sentem
muito à vontade nesses contextos casuais para dizer o que querem e do
que precisam", disse ela. Parte do problema é que as mulheres ainda
podem ser estigmatizadas por fazer sexo casual. Para Garcia, "nos
venderam a ideia de que estamos em uma era em que as pessoas podem ser
sexualmente livres e desfrutar igualmente das relações casuais. Mas o
fato é que nem todo mundo está curtindo isso".
Aquilo de que as
mulheres precisam para chegar ao orgasmo pode ser muito diferente do que
elas encontram no sexo casual. Cerca de 25% das mulheres costumam
chegar ao orgasmo apenas por meio da penetração, de acordo com a análise
de 32 estudos realizados por Elisabeth Lloyd, professora de história e
filosofia da ciência da Universidade de Indiana, apresentada em seu
livro "The Case of the Female Orgasm: Bias in the Science of Evolution"
("O caso do orgasmo feminino: a parcialidade na ciência da evolução",
ainda não publicado no Brasil), de 2005. Um terço das mulheres chega ao
orgasmo raramente ou nunca com a penetração.
Mais que penetração
Vanessa
Martini, de 23 anos, de Marin County, Califórnia, aprendeu desde cedo
que a maioria dos homens com quem ela tinha relações casuais não
percebia quais eram os seus desejos.
"Não cheguei a
ficar com ninguém que fosse arrogante a ponto de não se importar nem um
pouco", disse ela. "No entanto, acho que a maioria deles estava um tanto
desconcertada quanto a fazer mais do que simplesmente penetrar".
Martini disse que ninguém nunca a ensinou a
ter uma relação prazerosa, e muito menos a expressar quais as suas
preferências. A educação que recebeu na escola visava impedir que os
adolescentes tivessem quaisquer relações sexuais; praticamente não se
falava do prazer. Para ela, a maior parte das representações culturais
do sexo deixam de fora esses detalhes.
"No modo como o sexo é
retratado na pornografia, nos filmes e nos livros, as pessoas não ficam
conversando entre si sobre o pé estar dormente e precisarem mudar de
posição", disse ela.
Conversar sobre esses detalhes é
especialmente complicado no caso do sexo casual. Como uma única fala ou
atitude estranha ou mal interpretada pode acabar com o encontro, há
certa pressão para ser bastante cuidadoso, disse Vanessa.
Segundo
Debra Herbenick, pesquisadora da Universidade de Indiana, para as
mulheres, o sexo casual é excitante justamente porque é espontâneo. Ela
comparou o sexo casual com um jantar na casa de um amigo. "A gente não
diz o que quer nem como quer que as coisas sejam feitas. Não diz, por
exemplo, quanto manjericão quer na comida", disse ela.
Quem pratica sexo casual tem que estar preparado para não receber telefonema e não ter comprometimento
Benefícios
Algumas
mulheres, confrontadas com esses obstáculos, estão redefinindo o sexo
casual e o prazer físico que esperam dele. Para elas, o sexo sem
compromisso tem benefícios carnais e emocionais que não dependem de
chegar ao orgasmo.
"Algo de que não falamos é por que
chegar ao orgasmo é o objetivo principal ou o único objetivo do sexo",
disse Herbenick. "Quem somos nós para dizer que as mulheres devem chegar
ao orgasmo?"
Para Kim Huynh, uma cineasta de 29 anos de San
Francisco, Califórnia, sacrificar a garantia de um orgasmo para ficar
sem o peso de um compromisso foi uma decisão consciente. Depois de
alguns relacionamentos na faculdade, Huynh passou cerca de cinco anos
sem um namorado sério e teve muitos casinhos.
"Nas relações
monogâmicas, eu conseguia chegar ao orgasmo sempre, mas isso é algo que
eu nunca tive em circunstâncias mais descompromissadas", contou ela.
Contudo,
a falta de prazer no sexo era um pequeno preço a pagar "pela liberdade
de desfrutar de tudo isso". O aspecto físico de um encontro com alguém
que era até certo ponto um desconhecido era gratificante, mesmo que as
suas chances de chegar ao orgasmo fossem limitadas, disse ela. Quando o
desempenho de seu parceiro era apagado, ela ainda assim ficava orgulhosa
de suas próprias proezas sexuais.
"Ter consciência de que se tem
uma habilidade que pode dar prazer a alguém é algo que definitivamente
pode fazer a pessoa se sentir poderosa", concluiu.http://delas.ig.com.br/amoresexo/2013-11-27/desigualdade-ainda-domina-sexo-casual.html?utm_source=mail2easy&utm_campaign=Newsletter+Delas&utm_content=NEWS&utm_medium=e-mail&utm_term=29%2F11%2F2013