São 7,3 milhões de novas mães por ano nesses países. O número é mais do que dez vezes a quantidade de partos de adolescentes nos países desenvolvidos: 680 mil
Todos os dias 20 mil adolescentes dão à luz em países em
desenvolvimento. Isso representa, 7,3 milhões de novas mães por ano
nesses países. O número é mais do que dez vezes a quantidade de partos
de adolescentes nos países desenvolvidos, 680 mil. Os dados foram
divulgados esta semana no relatório anual Situação da População Mundial
2013 do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), organismo da
Organização das Nações Unidas (ONU). Neste ano, o tema é Maternidade
Precoce: Enfrentando o Desafio da Gravidez na Adolescência.
Se persistir a tendência, o número de novas mães antes dos 15 anos pode chegar a 3 milhões em 2030
O estudo mostra que a maior parte dos
adolescentes (88%) do mundo está em países em desenvolvimento e que
aproximadamente 19% das jovens engravidam antes dos 18 anos. Muitas
delas, 2 milhões, engravidam antes mesmo dos 15 anos. O documento aponta
que se persistirem as tendências atuais, o número de novas mães antes
dos 15 anos pode chegar a 3 milhões em 2030. O relatório apresenta os
desafios da gravidez precoce em termos de educação, de saúde e de
oportunidades de emprego e faz recomendações aos países.
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"Uma gravidez não planejada nesta fase da vida impacta
tanto a adolescente, quanto a família e a comunidade em que está
inserida. Limita as oportunidades de acesso a uma educação de boa
qualidade e futuramente a inserção no mercado de trabalho", diz a
representante auxiliar do Unfpa no Brasil, Fernanda Lopes.
O levantamento mostra que as gestações, principalmente
entre adolescentes com menos de 15 anos, não são resultado de uma
escolha deliberada, mas sim da ausência de escolhas e de circunstâncias
além do controle das jovens. "A gravidez precoce reflete a falta de
poder, a pobreza e as pressões por parte dos parceiros, dos colegas, das
famílias e das comunidades. E, em muitos casos, é resultado de
violência ou coação sexual", diz o texto.
Os perfis se repetem, diz Fernanda. "Prioritariamente,
são meninas com menos escolaridade e cuja família está no último quintil
de rendimento. Isso significa que elas já vivem em um contexto de
pobreza, que as famílias já necessitam dos investimentos dos estados
para viverem em condições dignas. Se elas, enquanto membros dessas
famílias, constituem novas famílias, a possibilidade delas quebrarem
esse ciclo é menor".
As gravidezes representam ainda um risco à saúde. São 70
mil mortes de adolescentes por ano por complicações na gravidez e no
parto. Além disso, são 3,2 milhões de abortos inseguros entre as jovens
todos os anos. De acordo com a Convenção sobre os Direitos da Criança,
uma pessoa com menos de 18 anos é considerada uma criança e, por isso,
deve receber proteção especial exigida pela idade.
O relatório diz que é papel dos estados assegurar essa
proteção, ajudar a eliminar as condições que contribuem para a gravidez
na adolescência e atenuar as consequências. O documento faz também um
apelo a mudanças no perfil e nas abordagens dirigidas aos adolescentes,
para que de fato ajudem as meninas a tomar decisões sobre as próprias
vidas e ofereçam outras oportunidades que não a maternidade.
As consequências de uma omissão do estado vão além de
prejuízos para a jovem e a família. O estudo traz um levantamento feito
pelo Banco Mundial em 2011 do impacto das gestações para a economia. Os
cálculos são feitos com base na renda que as mães poderiam ter ao longo
da vida caso não tivessem engravidado. No caso do Brasil, o país perde o
equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB - a soma de todas as
riquezas produzidas no país) durante toda a vida dessas mulheres.
Segundo o estudo, o Brasil teria um adicional no PIB de
US$ 3,5 bilhões, ou cerca de R$ 7 bilhões, se as adolescentes
postergassem a gravidez para os 20 anos de idade. Dessa forma, "os
investimentos para conscientizar os adolescentes beneficiam a economia",
conclui o texto. O índice brasileiro está acima, porcentualmente, do
custo dos Estados Unidos ou da China, que equivale a 1% do PIB desses
países. E está abaixo de países como a Índia e o Paraguai, com um
potencial perdido de 12% do PIB, ou a Unganda, que deixa de produzir o
equivalente a 30% do PIB.