Santo Domingo, 15 out (EFE).- O Brasil foi um dos
poucos países da América Latina onde a diferença no uso da internet
entre mulheres e homens caiu nos últimos anos, um estudo divulgado nesta
terça-feira pela Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe
(Cepal).
As mulheres de vários países latino-americanos e caribenhos regulam
com os homens em relação ao acesso à internet, mas estão em clara
desvantagem a respeito de seu uso, o que limita seu desenvolvimento,
segundo o estudo.
A taxa de uso da internet na população feminina é em média 8,5% menor
do que a masculina em dez países da região, detalha o relatório
"Mulheres na Economia Digital: Superar o Limite da Desigualdade",
divulgado na abertura da XII Conferência Regional sobre a Mulher da
América Latina e do Caribe.
Os dez países analisados são Brasil, Chile, Costa Rica, Equador, El
Salvador, Honduras, México, Uruguai, Peru e Paraguai, detalha o estudo
da Cepal, organismo da Organização das Nações Unidas, revelado na
Conferência realizado em Santo Domingo.
O organismo apontou que a diferença entre os gêneros "limita tanto o
desenvolvimento pessoal e profissional da população feminina como o
crescimento em igualdade" dos países da região, em meio ao atual cenário
tecnológico.
A economia digital inclui a infraestrutura de telecomunicações,
particularmente as redes de banda larga, as indústrias da tecnologia da
informação e comunicação (TIC), e o grau de alfabetização digital dos
usuários.
O relatório da Cepal acrescentou que nos países consultados aumentou
nos últimos anos a proporção de homens e mulheres que declaram usar
internet de qualquer ponto de acesso, mas apenas no Brasil, no México e
no Uruguai a distância entre ambos os sexos se reduziu.
Nesse sentido, o órgão explicou que a diferença entre mulheres e
homens é de quase 5% no Chile (39,3% contra 44%), país que apresenta uma
das maiores taxas de uso desta tecnologia, enquanto no Peru 26% das
mulheres e 34,1% dos homens dizem ser usuários de internet.
A exclusão digital por gênero é mais frequente em áreas urbanas que
nas rurais e afeta principalmente as mulheres idosas de todos os níveis
de instrução.
Em El Salvador, por exemplo, a diferença entre mulheres e homens com
ensino superior é de cinco pontos (70,3% e 75,5%), enquanto em Honduras é
de quase três (71,2% e 74%).
No Brasil, 4,3% das mulheres e 7,4% dos homens de mais de 65 anos
declaram usar internet, diferença que se repete em países como a Costa
Rica (3,1% e 7,1%) e Equador (2,1% e 4,1%).
O documento afirmou que a prevalência de uso de internet aumenta à
medida que aumenta a renda das famílias, mas a distância entre os
gêneros é menor nos grupos onde a tecnologia é menos acessível.
A desigualdade só se reverte no caso das mulheres assalariadas, que exibem taxas de uso de internet superiores às dos homens.
Esse último dado indicaria que dominar o uso das TIC pode ser uma
ferramenta poderosa para a inserção profissional de muitas mulheres.
A Cepal também chamou a atenção para o fato de que quase a metade das
mais de 300 milhões de mulheres da América Latina e do Caribe, que
representam 50,9% da população, não têm nenhum vínculo com o mercado de
trabalho.
Isso quer dizer, afirmou o estudo, que a taxa de atividade econômica
feminina sobe para 49,8% (a masculina chega a 78,7%) e uma de cada 10
mulheres está empregada ao serviço doméstico, um dos trabalhos mais mal
remuneradas e com menor proteção social.
"Garantir a autonomia econômica
das mulheres, aumentando sua participação no mercado de trabalho e
reconhecendo o trabalho não remunerado que elas realizam
majoritariamente é um dos principais desafios dos países da região",
opinou a entidade regional.
A Cepal advertiu, ainda, sobre a falta de participação das mulheres
na produção de conteúdos digitais, o que gera alto grau de sexismo.
Na indústria dos videogames, por exemplo, é recorrente a
representação de mulheres como objetos sexuais passivos e de homens como
sujeitos ativos e violentos.
Segundo o estudo, a maioria dos países da América Latina e do Caribe
têm hoje estratégias digitais nacionais, que permitiram avanços
importantes no acesso de toda a população às TIC.
A maior parte delas, no entanto, não inclui ações específicas para
promover a igualdade de gênero, iniciativa em que se destacam as
experiências do Equador, do México e da República Dominicana. EFE