País terá novo modelo de classes sociais a partir de 2014
O aumento da renda da população e a ascensão da chamada “nova classe média” já não refletem o perfil socioeconômico da sociedade brasileira atual. Tendo em vista as necessidades da indústria de pesquisa de mercado e da mídia, os professores Wagner A. Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA-USP) desenvolveram um novo modelo de estratificação socioeconômica para o Brasil, que estabelece sete novos estratos, redefinindo as classes socioeconômicas.
O trabalho foi feito em colaboração com a ABEP (Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa), que passará a utilizar esse novo
critério a partir de janeiro de 2014. O novo sistema é retratado no
livro “Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil”, que será
lançado em São Paulo nesta quinta-feira (15), às 18h30, na Livraria da
Vila do Shopping JK Iguatemi, pela Editora Blucher.
Uma das principais inovações trazidas pelo estudo é a constatação de
que a classe socioeconômica não é a mesma para todo o Brasil. Para
desenvolver o novo modelo de estratificação, os especialistas em
Marketing utilizaram o conceito teórico da “renda permanente”, que
indica a capacidade do domicílio de ter e manter certo padrão de vida.
Esse conceito de “renda permanente” é mais válido do que a “renda
corrente”, que é flutuante, principalmente em termos práticos, segundo
os autores. A “renda corrente” é utilizada como a única base para
estratificação pelo chamado Critério de Classificação Econômica Brasil.
No novo modelo, a renda corrente mensal confirmada do domicílio entra
apenas como um dos vários indicadores da renda permanente, que abrange
ainda a educação do chefe da família, o acesso a serviços públicos (água
encanada, rede sanitária, rua pavimentada) e o número de bens duráveis,
além de considerar mais quatro importantes variáveis que definem a
composição familiar (número de adultos no domicílio; número de
crianças/adolescentes no domicílio) e a localização geográfica do
domicílio (região geográfica; tipo/porte do município). No caso da
localização geográfica, as regiões são divididas em três –
Norte-Nordeste, Centro-Oeste, e Sul-Sudeste – e o tipo de município em
três – Capital-Região Metropolitana, Interior do Estado e Área Rural.
Esse sistema é considerado inovador porque considera o impacto de
fatores geográficos (regionais e nível urbanístico) e da composição
familiar na estratificação. Em outras palavras, ele reconhece que a
mesma renda permanente possibilita a um domicílio com dois adultos, por
exemplo, manter um padrão de vida mais elevado do que um domicílio com
três adultos e duas crianças.
“O custo de vida de uma cidade no interior da Bahia para um domicílio
com a mesma composição familiar é diferente do custo para um domicílio
localizado no Rio de Janeiro ou São Paulo. Da mesma forma, famílias
morando na mesma cidade, mas com diferente número de pessoas habitando o
domicílio, têm necessidades de conforto doméstico e de poder aquisitivo
distintas”, esclarece o professor da FEA-USP, José Afonso Mazzon. “Não
conhecemos critério de classificação em nenhum outro país que tenha
levado em conta essas condições”, ressalta o especialista.
De acordo com os autores do livro, o status socioeconômico é um fator
importante para a segmentação de mercados em economias emergentes,
porque ele diferencia bem os padrões de consumo entre as famílias. Além
disso, ajuda a entender os efeitos das crises econômicas no consumo.
Quando se fala que a “classe média” foi afetada pela crise mundial não
há uma definição clara e abrangente sobre esse estrato. Os dados
utilizados foram da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), realizada
em 2009, que se baseou numa amostra nacional de mais de 55 mil
domicílios, projetável para a população de domicílios brasileiros.
Padrões de consumo
O livro contém, ainda, uma análise comparativa do padrão de consumo dos sete estratos socioeconômicos. Dois efeitos distintos explicam as diferenças de padrão de consumo entre as classes. Primeiramente, como de praxe, os mais abastados têm mais flexibilidade no consumo devido ao maior orçamento familiar. Porém, os estratos também diferem em suas prioridades de consumo.
O livro contém, ainda, uma análise comparativa do padrão de consumo dos sete estratos socioeconômicos. Dois efeitos distintos explicam as diferenças de padrão de consumo entre as classes. Primeiramente, como de praxe, os mais abastados têm mais flexibilidade no consumo devido ao maior orçamento familiar. Porém, os estratos também diferem em suas prioridades de consumo.
“Concluímos que as diferenças na alocação orçamentária se devem mais
às diferenças em prioridade de consumo do que às diferentes restrições
orçamentárias", explica Kamakura, da Rice University. "Isso sugere que
um aumento de renda nos estratos mais baixos (e consequente aumento em
seus orçamentos familiares) teria um impacto estrutural no consumo da
sociedade brasileira, porque as prioridades dos estratos mais pobres não
são as mesmas que a dos estratos mais ricos."
O trabalho também identifica diferenças nos padrões de comportamento
dos paulistanos em relação a atividades, interesses e estilo de vida,
tais como: sair para jantar, leitura de jornais e revistas, opinião
sobre aulas de religião nas escolas, navegar e fazer compras pela
internet, etc. Mostra ainda as diferenças nos valores que caracterizam
os objetivos de vida de uma pessoa: amizade verdadeira/companheirismo,
vida próspera/confortável, vida excitante/estimulante, liberdade,
felicidade, maturidade no amor, respeito próprio, entre outros.
Resultados
Ao considerar novas variáveis e corrigir os impactos da composição familiar e da localização geográfica dos domicílios nas classes socioeconômicas, a estratificação desenvolvida pelos autores chegou a algumas conclusões, entre elas, a de que fatores como etnia/raça, urbanização, acesso a serviços públicos e quantidade de bens e serviços influenciam a posição de um domicílio na estratificação.
Ao considerar novas variáveis e corrigir os impactos da composição familiar e da localização geográfica dos domicílios nas classes socioeconômicas, a estratificação desenvolvida pelos autores chegou a algumas conclusões, entre elas, a de que fatores como etnia/raça, urbanização, acesso a serviços públicos e quantidade de bens e serviços influenciam a posição de um domicílio na estratificação.
Por exemplo, se o domicílio for chefiado por um adulto asiático ou
caucasiano, a chance dessa residência pertencer aos estratos mais altos
ou ricos aumenta consideravelmente, principalmente para os asiáticos.
Por outro lado, domicílios com chefes mais jovens, ou localizados nas
regiões Norte e Nordeste, têm uma tendência a se posicionar em estratos
mais baixos ou pobres.http://br.financas.yahoo.com/noticias/pa%C3%ADs-ter%C3%A1-novo-modelo-classes-152400205.html