O texto prevê ainda atuação de entidades
terapêuticas, mas exige que a internação compulsória só seja feita nos
estabelecimentos que prestem atendimento de saú
de. Ou seja, aqueles que
dão apenas atendimento religioso não podem receber pacientes internados
involuntariamente.
O
projeto aprovado aumenta de 5 para 8 anos de cadeia a pena mínima para o
grande traficante integrante de organização criminosa. A pena máxima
continua sendo de 15 anos. O texto não inclui o cadastramento de
dependentes, que era previsto no primeiro texto do relator da proposta, o
deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL). Após a votação de todos os
destaques no plenário da Câmara, o texto ainda será remetido ao Senado.
Os destaques pedem a retirada de trechos considerados polêmicos do
projeto. Foi derrubado, por exemplo, o artigo que determinava a inclusão
em rótulo de bebidas alcoólicas de advertência sobre malefícios para a
saúde dos consumidores. Foram 169 votos contra a advertência e 149 a
favor.
Carimbão incluiu no texto, a pedido do PT, o direito a
redução da pena para o traficante de “menor potencial ofensivo” — preso
primário, detido com quantidade não tão grande de droga. O substitutivo,
porém, não definiu qual quantidade de droga caracteriza esse tipo de
traficante. Hoje, ele não tem direito às benesses da progressão de
regime.
Vagas de trabalho para ex-usuários
Foi
aprovado também um capítulo sobre inserção social do paciente
recuperado. A proposta de Carimbão destina para a pessoa que está
recebendo atendimento de drogas 3% do total de postos de trabalho em
obras públicas que ofereçam mais de 30 vagas. Mas o texto prevê que o
usuário deve se manter na abstinência no trabalho. Se tiver alguma
recaída, perderá o emprego. O governo é contra estabelecimento desse
percentual e o PT apresentou destaque para derrubar o artigo.
—
Não tem sentido. Até mesmo a recaída é prevista no tratamento. Não se
pode vincular estabilidade no emprego à abstinência de droga ou álcool —
disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Segundo Teixeira, o PT
era contra o aumento da pena mínima para traficante vinculado a
organização criminosa. Ele entende que essa medida pode gerar confusão
entre quem é usuário ou traficante. O assunto seria objeto de votação em
separado.
— É uma medida que vai gerar confusão. Como definir se
um grupo de quatro pessoas é traficante ou não. Pode haver quatro
pessoas fumando maconha e acharem que são traficantes. E vai o usuário
cumprir pena maior que um homicida.
O debate foi intenso. Autor do
projeto, Osmar Terra discordou de Paulo Teixeira e afirmou que o
objetivo é reduzir locais de boca de fumo:
— Por mim, todo traficante, pequeno ou grande, tem que ser preso. Sem qualquer regalia.
O
texto-base aprovado prevê que pessoas físicas que doarem dinheiro para
instituições e organizações que atuem no tratamento de viciados poderão
abater até 6% do Imposto de Renda. Mas foi apresentado um destaque para
derrubar esse artigo.
Osmar Terra, durante seu discurso em favor
do projeto, exibiu um saco pequeno de plástico, cheio até a metade, onde
dizia ter a quantidade de crack suficiente para o consumo de cinco
dias. Mas o saco continha pedaços de giz.
O plenário da
Câmara rejeitou a mudança dos rótulos de bebidas alcoólicas, que
deveriam conter advertências sobre o malefício de seu consumo. Porém,
foi pedida votação nominal.
Internação compulsória causa polêmica
O
projeto substitutivo, do deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) para o
projeto do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), muda o Sistema Nacional de
Políticas sobre Drogas (Sisnad) para definir condições de atendimento
aos usuários, diretrizes e formas de financiamento das ações.
Durante
a votação, a internação involuntária de usuários de drogas, prevista no
projeto, causou polêmica entre deputados. O líder do PSOL, deputado
Ivan Valente (SP), disse que a medida é repressora, não vai resolver o
problema do consumo e vai incentivar a família a internar antes, em vez
de lidar com o problema.
— Avançamos na luta antimanicomial, em
que a internação compulsória precede a análise de uma junta médica, e
agora qualquer familiar, com dificuldade de lidar com a droga, vai
internar involuntariamente um usuário sem saber se isso é eficiente —
ironizou ao comparar à prática de manicômios.
Já o autor do
projeto, deputado Osmar Terra, disse que o texto mira em usuários que
estão nas ruas sem condições de se reabilitar.
— São pessoas que
não têm família, dormem nas ruas, perderam tudo e não conseguem
trabalhar, vivendo apenas esperando os próximos 15 minutos para usar a
droga — disse.
O deputado Sirkis (PV-RJ) criticou o viés repressivo do projeto, que visa a internar usuários:
— A questão das drogas tem de passar da esfera da segurança para a saúde.
Mas o deputado Weliton Prado (PT-MG) disse que o projeto não prevê a internação, mas o acolhimento dos usuários. http://oglobo.globo.com/pais/camara-aprova-texto-base-de-projeto-que-modifica-lei-de-combate-as-drogas-8470202#ixzz2U6oivveW