A alta rotatividade e a instabilidade da
ocupação contribuem mais para os elevados índices de desemprego entre
jovens que a falta de vagas de trabalho. A constatação está em um estudo
preliminar (Inserção dos jovens no emprego formal: uma abordagem de
fluxos) apresentado semana passada, pelo diretor-adjunto de
Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Carlos Henrique Corseuil, durante o
painel Juventude e Trabalho, promovido na 3ª Code. A pesquisa utilizou
dados da RAIS, do Ministério do Trabalho, para avaliar, entre outros
fatores, o tipo de relação de trabalho dos jovens com as empresas e os
motivos que levam ao desligamento/demissão.
Corseuil
afirmou que o desemprego juvenil não deve ser entendido como uma falta
de vagas de trabalho, pois o número de admissões é superior nesta faixa
etária. Em compensação, a taxa de desligamentos também é
consideravelmente maior que entre os adultos. O estudo descarta como
causas deste fenômeno a existência de vínculos trabalhistas frágeis –
como a contratação temporária – e a tendência, supostamente maior entre
jovens, de abandono do emprego. “As diferenças entre o desligamento
voluntário, apesar de ser maior na faixa de 14 a 24 anos, não parece ter
magnitude suficiente para causar elevação no desemprego e na
rotatividade”, comentou.
As análises
indicam que boa parte da população entre 14 e 24 anos está em setores da
economia com grande instabilidade, fato que, para o diretor do
Instituto, pode ser provocado pela falta de qualificação. “Realmente
existe, como base nos cálculos que fizemos, uma rotatividade causada por
características da idade, mas um componente importante é o setor de
ocupação, pouca experiência e qualificação parece empurrar o jovem para
firmas de alta instabilidade”, argumentou.
Novo
olhar - Para Marcelo Neri, presidente do Ipea, a pesquisa apresentada semana passada tem o mérito de tentar entender a presença do jovem
no mercado de trabalho por meio do estudo dos fluxos de admissão e
desligamento e não apenas olhando as mediadas de estoque, como o nível
de desemprego. Ele ressaltou ainda a relevância de identificar as razões
que levam o trabalhador jovem a sair do emprego. “Este [Juventude] é um
dos temas mais estimulantes e complexos, precisamos de novos olhares
sobre essa faixa da população, pois é na juventude que tipicamente temos
perdido as principais batalhas, na violência, na questão das drogas,
etc.”, completou.
Anne Posthuma, da
Organização Internacional do Trabalho, integrou a mesa de debates do
painel. Ela destacou o grande contingente de jovens brasileiros que não
estudam, não trabalham, nem estão em busca de emprego (“jovens nem
nem”). De acordo com o Censo 2010, 5,3 milhões de brasileiros estão
nesta situação. Eles representam uma proporção de população superior
àquela encontrada na União Européia, que passa por um período de
recessão econômica.
“Há um ciclo
vicioso entre pobreza, desigualdade e baixa qualificação que impede os
jovens de aproveitarem as oportunidades do bom momento vivido pelo
mercado de trabalho. É preciso um marco de políticas públicas que atenda
a necessidade da juventude, e pense tanto na oferta de qualificação como na criação de uma demanda em áreas com trabalho digno”, concluiu.Fonte: Site IPEA.