Na busca pelo amor verdadeiro, preencher um questionário online seria mais científico do que rezar para Santo Antonio?
Para os psicólogos do eHarmony, site de relacionamentos,
sim. O serviço oferece um algoritmo computadorizado que promete ajudar
os usuários a encontrar sua alma gêmea. Mas essa afirmação foi criticada
numa revista de psicologia no ano passado por uma equipe de
pesquisadores acadêmicos, que concluíram que "nenhuma evidência
convincente sustenta as alegações do site de que seus algoritmos
matemáticos funcionam".
>>> Veja abaixo as variáveis do algoritmo reveladas pelo pesquisador do site <<<
Embora
o site não revele sua 'fórmula do amor', alguma variáveis foram
apresentadas como as mais importantes. A primeira é o grau de
afabilidade.
"É possível", concluiu Gonzaga, "derivar empiricamente um
algoritmo de formação de casais que prevê o relacionamento de duas
pessoas antes de elas se conhecerem".
“Efeito pessoa”
Não é bem assim, responderam os críticos na sala. Eles
não duvidaram que fatores como afabilidade possam prever um bom
casamento. Mas isso não significa que o eHarmony tenha encontrado o
segredo da formação de casais, disse Harry T. Reis, da Universidade de
Rochester, um dos autores da crítica do ano passado.
"Essa pessoa afável que está com você iria, na
verdade, se dar muito bem com qualquer pessoa desta sala", afirmou Reis a
Gonzaga.
Amor online: para os críticos, falta transparência nos resultados apresentados pelo site de encontros
Ele e seus coautores argumentaram que os resultados do
eHarmony podiam meramente refletir o conhecido "efeito pessoa": uma
pessoa agradável, otimista e nada neurótica tem mais chances de se dar
bem em qualquer relacionamento. Mas a pesquisa demonstrando esse efeito
também mostrou que é difícil fazer previsões com base no que se chama de
"efeito diádico" – o grau de similaridade entre dois parceiros.
"Na literatura existente, componentes de similaridade são
notoriamente fracos para explicar a satisfação num relacionamento",
argumentou Paul W. Eastwick, da Universidade do Texas em Austin. "Por
exemplo, o que realmente importa para a satisfação em meu relacionamento
é se eu sou neurótico e, em menor grau, se minha parceira é neurótica.
Nossa similaridade na neurose é irrelevante".
Gonzaga concordou que pesquisadores anteriores não
conseguiram prever a satisfação com base em similaridades entre
parceiros. Segundo ele, porém, isso ocorreu porque eles não haviam
focado nos fatores identificados pelo eHarmony, como o nível de paixão
sexual, onde era especialmente importante que os parceiros fossem
compatíveis. E embora alguns traços, como a afabilidade, possam ajudar
qualquer relacionamento, é ainda melhor quando os parceiros são
similares.
"Digamos que você mensure a afabilidade numa escala de 1 a
7 para cada parceiro", explicou Gonzaga. "Um casal com pontuação
combinada de 8 tem mais chances do um casal com uma pontuação menor, mas
também é importante saber como eles somaram os 8 pontos. Um casal com
dois 4 está melhor do que um casal com um 1 e um 7".
Grupo controle
Sua afirmação deixou os críticos levemente intrigados – mas nada convencidos.
"Se os efeitos didáticos são reais, e se o eHarmony pode
estabelecer esse ponto de forma válida, isso seria um grande avanço para
nossa ciência", afirmou Reis. Mas ele e seus colegas disseram que o
eHarmony não havia conduzido, e muito menos publicado, o tipo de estudo
necessário para provar a eficácia de seus algoritmos.
"Eles realizaram alguns estudos, sem revisão por pares,
que examinam casais existentes", declarou Eli J. Finkel, da Universidade
Northwestern, principal autor do artigo crítico do ano passado. "Mas é
crucial lembrar que não é isso que o algoritmo pretende fazer. O
algoritmo deseja pegar pessoas que nunca se conheceram e formar casais".
Segundos os críticos, verificar a eficácia do algoritmo
exigiria um estudo clínico aleatório e controlado – como os conduzidos
por empresas farmacêuticas. Escolha alguns indivíduos aleatoriamente
para serem combinados pelo algoritmo do eHarmony, e coloque alguns num
grupo de controle para formarem casais aleatoriamente; em seguida,
acompanhe os relacionamentos resultantes para ver quem fica mais
satisfeito.
Gonzaga explicou ter dúvidas éticas sobre juntar casais
arbitrariamente, e que um estudo como esse lhe parecia desnecessário
frente aos outros estudos do eHarmony.
"Temos evidências exclusivas mostrando que casais com
grande compatibilidade são mais satisfeitos com seus relacionamentos",
afirmou Gonzaga. "Isso nos deixa seguros de que fizemos bem nosso
trabalho."
Quer os algoritmos funcionem ou não, os sites de
encontros oferecem muitos parceiros em potencial, e parte da triagem
ocorre simplesmente pela autosseleção. Afinal, é preciso um grande
esforço para se submeter ao processo de registro – principalmente quando
ele exige responder a duzentas perguntas.
"Se eu fosse solteiro, estaria usando um serviço como o
eHarmony, mas com meus olhos bem abertos", afirmou Reis. "Quem acha que
esses sites realmente sabem o que é melhor para você está cometendo um
grande erro. Mas eles estão oferecendo acesso a pessoas realmente
interessadas num relacionamento, e não em apenas brincar. Eu diria a mim
mesmo que vou conhecer 100 mulheres nos próximos seis meses, e se
encontrar uma, então ficarei feliz. Onde mais eu poderia conhecer 100
mulheres?"
http://delas.ig.com.br/amoresexo/2013-03-01/formula-do-amor-secreta-desperta-ceticismo.html