Muito prazer, meu nome é Ricardo Coiro,
jogo bola religiosamente todas as quartas-feiras, seja dia santo ou não.
Tenho incontáveis amigas e delas nunca tomarei distância por motivo de
ciúme doentio ou por qualquer tipo de suspeita sem fundamento.
Possuo também muitos amigos e esses demonstram uma sede incontrolável
por cerveja. Na verdade, até desconfio que nem água eles sejam capazes
de beber e, por isso, algumas vezes por semana, acompanho-os nesse
ritual de hidratação fisiológica.
Isso mesmo minha quem sabe futura
namorada. Sinto-me extremamente confortável quando estou sentado em uma
mesa bamba de boteco e não gosto de ter meu divã etílico invadido por
telefonemas estranhos que, no fundo, servem somente para saber se
naquele ambiente coexisto com risos femininos e timbres de “periguetes”.
Não gosto de ligações desnecessárias ou de iniciar um Chat Line
épico quando estou na minha terapia masculina. Se me telefonar uma vez
perguntando onde estou, outra querendo apenas saber se irei ao churrasco
que acontecerá no mês seguinte e, novamente, me ligar, perguntando se
eu poderei passar na farmácia somente para pegar um vidro de acetona,
não suportarei ver meu celular convulsionando uma próxima vez e juro que
vou fazer a alegria de um mendigo ao voltar para casa sem telefone.
Eu sei que acabamos de nos conhecer e
que devido à música alta desta balada você talvez nem tenha ouvido
direito o que acabei de falar sobre meus hábitos, ou melhor, sobre minha
essência, mas queria que soubesse disso agora, desde já. Existem
algumas coisas que não poderão nunca ser amputadas da minha
personalidade, pois se em nome da nascente paixão, ou do receio de
perdê-la, você me pedir ou deixar que eu abra mão de mim, começaremos um
relacionamento bomba-relógio, condenado a explodir quando eu não
suportar mais a saudade de quem eu realmente sou e inevitavelmente
precisar tirar você dos meus hábitos, para reconhecer-me novamente
dentro do espelho.
Sim, tenho plena consciência de que
exagerei na situação imaginária, criada acima, e que numa balada normal a
mulher provavelmente me daria as costas na segunda linha do meu
mandamento, mas venho, por meio deste texto impedir que alguns de vocês
ajam como eu agi um dia e, aos poucos, com medo de fazer qualquer coisa
capaz de abalar um recente relacionamento, erroneamente comecem a deixar
de lado os amigos, as festas e evitar toda e qualquer situação,
ambiente, frase, rede social, que possa gerar ciúmes ou atrito.
Quem nunca se podou que atire a primeira
pedra. Aposto que se pensar nisso agora, conseguirá citar no mínimo
dois amigos que começaram a namorar e sumiram de vez, pessoas – cujos
rostos um dia muito familiares – hoje só são vistos através da Facebook,
sempre estampado em fotos com descrições do tipo: “Eu e o amor da minha
vida” ou “Te amo, para sempre”, retratos de bocas – geralmente
lambuzadas com Fondue – ou feitos em alguma capital do romantismo, na
qual solteiros são até proibidos de entrar.
Saiba uma coisa: boas namoradas não
exigirão que você corte os amigos e muito menos deixarão de te amar se
você tiver uma vida social ativa. Pelo contrário, vão até admirar essa
postura firme de quem tem opinião, age com segurança e não se
transformará nem por decreto em um buldogue gordo e submisso. Por isso,
não deixe de fazer aquilo que te torna você, só por achar que pode,
porventura, causar ciúmes a ela. Não deixe de lado sua própria órbita,
por achar que correrá menos riscos de perdê-la enquanto estiver no
espaço dela e, por fim, nem se ela ameaçar enfiar uma navalha debaixo de
sua unha, deixe de lado os amigos verdadeiros, pois dor de verdade você
sentirá quando o namoro acabar e enfim perceber que está sozinho e que
de porta em porta precisará bater para reconquistar as amizades.