O tempo passa e, invariavelmente, as coisas mudam. Às vezes para 
pior, outras para melhor. De vez em quando, mudam apenas por assumirem o
 caráter de estáticas. Mas mudam. Aposto a minha digníssima virgindade 
que você consegue listar pelo menos cinco palavras ou expressões que 
mudaram de significado conforme você “amadureceu”.
 Chupeta, pau, gozado, mamar, ‘papai e mamãe’. Strike, já tenho cinco – e
 só no universo sexual. Não perderei minha virgindade para mim.
E já que tudo muda com o passar do tempo, nada mais natural do que o 
teor das conversas femininas também mudar. No primário, o cenário era o 
pátio do colégio durante o recreio, e a dúvida da rodinha de meninas 
girava em torno do primeiríssimo sutiã ou do “será que ele me nota se eu
 emprestar minha caneta para ele?”. No ginásio, entre uma aula e outra, a
 angústia dominante era sobre a menstruação manchar a calça do uniforme,
 e o tabu do momento era o nada glorioso BV. No colegial, hormônios à 
flor da pele, peitos já enchendo mãos, na saída da escola a gente se 
preocupava em fazer da perda da virgindade um processo menos vermelho e 
doloroso. Hoje, formada e pós-graduada, quase todos os bons 
papos-calcinha que tenho são à mesa de um botequinho sem-vergonha, 
tomando uma cerveja e mandando ver na porção de fritas com bacon. Então, garçom, desce mais uma aí que o papo por aqui vai longe…
Mensalmente marco sessões de papo-calcinha com grandes amigas. Não 
necessariamente para falar sobre o seu desempenho sexual ou o tamanho do
 seu pinto – apesar de o chuparmos como se ele fosse o último pirulito 
da doceria, conforme-se que o seu pau não é o baricentro do universo. 
Muito menos sobre maquiagem, cor de esmalte ou essas mil tolices do 
mundo feminino. Mas sim porque mulher entende mulher e ponto final. Lá 
posso chorar dramaticamente as minhas mágoas de relacionamentos 
passados. Posso compartilhar a eficácia das táticas que uso no meu 
boquete. Posso admitir a minha paixão pelo meu fiel chuveirinho, que 
sempre me salva as semanas sem perspectivas sexuais. E posso também 
dissertar sobre os aspectos do poder na Nova Ordem Mundial ou sobre o 
conceito freudiano do complexo de Édipo sem ter olhares desviando 
fugazmente para os meus peitos.
E a nossa busca por igualdade não se resume ao mercado de trabalho
 ou aos direitos políticos. Lutamos também pelo legítimo direito da 
pedreiragem. Assim como homens comentam sobre boas bundas, entre uma 
cerveja e outra mulheres comentam sobre bons volumes sacais. Toda mulher
 tem a sua porção pedreira, e a cerveja aflora o potencial rude 
feminino. Quem nunca soltou um mísero “ô, lá em casa” ou coisa que o 
valha que atire a primeira pedra. Quem nunca avaliou um homem de 0 a 10,
 analisando quesitos internos, externos e nem tão externos assim, que 
cuspa o primeiro gole de ceveja. E assim o papo vai ficando cada vez 
melhor, as garrafas vão se esvaziando, as bexigas vão se enchendo… E eis
 que chega a grandiosa e indispensável hora do banheiro, que tantas 
vezes é palco para filmes pornô e alimenta o imaginário masculino.
Querem saber mesmo o que rola no banheiro feminino, homens? Ou por 
que organizamos excursões ao toilette? Sabemos que muitas vezes vocês 
nutrem esperanças de que estejamos pegando loucamente aquela nossa amiga
 gostosa e que vocês, enfim, terão um prestigioso lugar no tão esperado 
ménage a trois. Mas mesmo quando entramos juntas numa mesma cabine, a 
gente não se beija, não se chupa e nem limpamos umas às outras. Também 
não comparamos tamanhos. Raramente rola algo a mais do que uma simples
 conversa – se vocês foram feitos com duas cabeças, nós nascemos com 
duas bocas, uma em cima e outra embaixo. E para compensar a incapacidade
 verbal da boca de baixo, temos que usar a de cima para falar. E falar, e
 falar, e falar, até que alguém nos cale ou se canse de nos ouvir.
Ou até que o nível alcoólico comece a atropelar a dicção, e ficar 
calada torna-se a melhor opção. Aí é hora de deixar o corpo falar e 
trocar abraços calorosos de despedida. Mais uma noite se foi. Sem sexo, 
mas igualmente incrível. Sem orgasmos, mas com a satisfação do dever 
cumprido – o dever de alimentar a chama das boas amizades. Sem 
lembranças espetaculares no dia seguinte, mas com a convicção de que 
quem tem amigos tem tudo. Definitivamente, meus caros, amigo é casa.http://www.casalsemvergonha.com.br/2012/06/13/papo-calcinha-o-que-as-mulheres-conversam-numa-mesa-de-bar/