Documentos abertos agora ao público mostram que a presidente Dilma
Rousseff foi monitorada não apenas durante a ditadura militar (1964-85),
quando foi presa e torturada, mas em todo o governo de José Sarney
(1985-90), hoje presidente do Senado.
Os papéis integram o chamado "Acervo da Ditadura", do Arquivo Nacional,
um conjunto de mais de oito milhões de páginas produzidas pelos órgãos
de inteligência da ditadura e do governo Sarney sobre a vida de
aproximadamente 308 mil pessoas, sindicatos e partidos.
Em pesquisa na base de dados do acervo, a Folha identificou um
total de 181 documentos com referências a Dilma, que começam em 1968,
quando ainda era estudante universitária, e se estendem ao final dos
anos 80.
Dezessete dos papéis foram produzidos durante o governo Sarney pelo SNI (Serviço Nacional de Informações).
Na fase pós-ditadura, o SNI apontava Dilma como parte de uma
"infiltração comunista" em órgãos da prefeitura e do governo do Rio
Grande do Sul, chamando a atenção para a sua passagem pelos grupos da
esquerda armada VAR-Palmares e Colina.
Os relatórios registram a atuação de Dilma no movimento feminista que,
segundo o SNI, buscava "a conscientização das massas, pretendida por
facções esquerdistas que almejam o poder".
O SNI também monitorou uma viagem de Dilma ao México e acompanhou
comício que Dilma e Lula participaram contra a ampliação do mandato
presidencial de Sarney, em 1988.
Ao integrar o secretariado de Alceu Collares (PDT) na Prefeitura de
Porto Alegre, em 86, Dilma foi alvo de outro relatório. O SNI disse que a
prefeitura tinha "infiltração" de pessoas "com registros de atividades
subversivas".
Relatórios do SNI da década de 70 sobre Dilma dizem respeito a uma
suposta ligação com a JCR (Junta de Coordenação Revolucionária), grupo
de esquerda armada. Dois relatórios dizem que ela se reuniu com membros
da JCR. Um terceiro relatório de 79, porém, agora revelado, diz não ter
encontrado comprovação dessa alegação.
Em 2011, Dilma negou ter mantido reuniões com membros da JCR ou mesmo
conhecer a organização. Procurado ontem, o Planalto disse que não vai se
manifestar.
A assessoria de Sarney disse que, em seu mandato na Presidência, ele
havia ordenado ao SNI que não realizasse "levantamentos sobre a vida
privada" de "nenhum brasileiro". Disse ainda que não era informado sobre
objetivos e resultados do SNI.
O acervo agora tornado público integra os chamados "dossiês pessoais" e
só podia ser consultado por terceiros após autorização da pessoa.
Com a Lei de Acesso à Informação, o Arquivo deu prazo para as pessoas
pedirem bloqueio aos seus dossiês. Ninguém, incluindo Dilma, se
manifestou, o que tornou a liberação automática.
Editoria de arte/Folhapress | ||