Sem acordo entre os partidos políticos e por pressão da bancada
ruralista, a votação da chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
do Trabalho Escravo foi adiada de ontem para hoje (9). Os presidentes da
Câmara, Marco Maia (PT-RS), e em exercício do Senado, Marta Suplicy
(PT-SP), vão se reunir nesta quarta-feira para tentar encerrar o
impasse.
A bancada ruralista defende uma definição mais precisa sobre a
punião de perda da propriedade, se comprovada responsabilidade sobre a
manutenção de trabalhadores em situação semelhante à do trabalho
escravo. Os deputados da bancada ruralista consideraram o texto da PEC
genérico, sem detalhes exatos.
Ontem à noite, a discussão sobre o assunto foi até tarde e mesmo o
apoio do governo e a pressão de organizações da sociedade civil foram
insuficientes para assegurar a votação da PEC que permite a expropriação
de terras nas quais seja constatado o uso de mão de obra escrava. A
decisão pelo adiamento foi definida durante reunião dos líderes
partidários.
Para o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG), que representa
parte da bancada ruralista, as “lacunas” existentes no texto da proposta
podem levar a abusos de autoridade no momento da fiscalização. “O que
preocupa alguns parlamentares é a questão da subjetividade do texto. Nós
teremos dificuldade de saber como será a atuação do fiscal, se ele
poderá fazer a expropriação de qualquer maneira”, disse o líder.
Porém, a Câmara não pode mais alterar o texto, pois a proposta está
pronta para ser votada em segundo turno, daí a busca por um acordo no
Senado. Depois da votação na Câmara, o texto segue para o Senado. Assim,
os líderes partidários pretendem que os senadores incluam os detalhes
solicitados pela bancada ruralista.
O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP),
disse que há pontos não esclarecidos no texto. Um desses aspectos é o
que se refere aos flagrantes de trabalho escravo em terras arrendadas ou
de imóveis urbanos alugados, cujos proprietários não têm relação direta
com o crime e, mesmo assim, estão sujeitos a perder os terrenos.
A PEC vai à votação depois de dez anos tramitando no Congresso. A
pressão em favor da aprovação do texto conta com a colaboração de
organizações da sociedade civil, centrais sindicais e do governo, que
estão se mobilizando desde o ano passado para a votação.
Desde março deste ano, funciona na Câmara a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo, criada para investigar denúncias
sobre essa prática com base em lista elaborada pelo Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) conhecida como lista suja.
Atualmente, 292 empregadores estão na relação, acusados de explorar
mão de obra de forma análoga à escravidão. De acordo com o MTE, entre
1995 e março deste ano, 42.116 trabalhadores submetidos a trabalho
escravo foram resgatados e mais de R$ 70 milhões de verbas rescisórias
foram pagas.
Segundo dados do MTE, foram resgatados no ano passado 2.271
trabalhadores pelos grupos móveis de fiscalização, que promoveram 158
ações em 320 fazendas e estabelecimentos. Na semana passada, a
Superintendência Regional do MTE no Tocantins resgatou 96 trabalhadores
em situação análoga à de escravo em 11 carvoarias do estado.http://www.folhadointerior.com.br/v2/page/noticiasdtl.asp?t=VOTA%C7%C3O+DA+PEC+DO+TRABALHO+ESCRAVO+FICA+PARA+HOJE&id=45358