Líder dos caras-pintadas e hoje senador conta ao iG como foi
empurrado por parlamentares para fora de foto histórica do impeachment.As tintas verde e amarela que, em fins do inverno de 1992,
deram o tom de indignação ao rosto de milhares de estudantes que
exigiram nas ruas o impeachment do então presidente Fernando Collor a
princípio não colaram com o seu principal líder, o presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE) Lindbergh Farias.
“No começo dizia: ‘Não vou pintar não’. Me sentia meio ridículo. Já
tinha 22 anos, era universitário. Demorei umas três passeatas para
pintar a cara”, revela o hoje senador pelo PT do Rio de Janeiro, em
entrevista exclusiva ao iG. Lindbergh, que na época do
impeachment contava 22 verões, cursava medicina na Paraíba, havia
acabado ser eleito para o comando da UNE.
Foto: Então presidente da UNE, Lindbergh Farias discursa em manifestação
No bojo de denúncias de corrupção contra o presidente, os chamados
caras-pintadas marcaram o movimento Fora Collor com passeatas que
mobilizaram, além de jovens, políticos e entidades civis – do
sindicalista Lula ao deputado Ulysses Guimarães, da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).Mas a ideia dos traços coloridos nos rostos saiu de adolescentes de uma pequena escola
de São Paulo. “Era uma turma de 15, 16 anos que estava na rua. Surgiu
meio naturalmente e pegou como uma febre”, lembra Lindbergh. “Toda uma
geração despertou ali”. A primeira badalada deste sono intranquilo soou
em 11 de agosto.
Vinte mil pessoas marcharam do Museu
de Arte de São Paulo (Masp) à Faculdade de Direito de São Paulo. Lula
foi convocado às pressas, graças a uma ficha telefônica. “Estava na
Avenida Brigadeiro Luis Antônio, em cima do carro de som. Pedi uma ficha
telefônica, desci do carro, liguei de um orelhão para a sede do PT e
chamei o Lula para a passeata. E o Lula foi”, diz o petista.
Era uma terça-feira. Três dias depois, Collor fez um pronunciamento
convocando a população a sair às ruas, no domingo, de verde e amarelo.
“Foi uma resposta à gente”, conta Lindbergh. “Reagimos convocando o povo
a ir de preto”. Anos depois, Collor avaliou a convocação, em um momento
em que estava fraco no poder, como um “erro tático”.
“A partir daí passamos a marcar passeatas a cada dia em lugares
diferentes do País”, recorda Lindbergh. A maior delas aconteceu em 25 de
agosto. Estudantes pularam muros de escolas para se reunir em frente ao
Museu de Arte de São Paulo (Masp), e dali seguir para o Vale do
Anhangabaú. Números oficiais estimaram que a manifestação reuniu entre
400 mil e 500 mil pessoas.
“Colocamos 1 milhão de pessoas”, repara o senador. Como chegou a esse
número? “Era uma loucura. Sabe como eu fazia? Dizia: ‘Já temos 100 mil
pessoas’. Aí perguntava: ‘Quanto a polícia está dizendo?’. Alguém
respondia: ‘A polícia está dizendo que tem 200 mil’. Aí eu gritava: ‘400
miiiil!’. Sempre dobrava a polícia (risos). Esse era meu critério,
dobrar a polícia”.
Foto: AE
Agora senador, Lindbergh Farias discursa no Congresso
A “febre” dos caras pintadas derrubou Collor e trouxe Lindbergh para
perto do Congresso. Na primeira visita, teve dificuldade para encontrar
o presidente do Congresso na época, Mauro Benevides, com quem sorriu e
tirou fotos. “Era o tipo de evento que não tinha conversa, só foto. A
imprensa fotografando e ele só dizia: ‘Muito bem, muito bem’”, diz,
enquanto gesticulava imitando Benevides em um aperto de mão invisível.Meses depois, o líder da UNE acompanhou a votação do impeachment na
Câmara dos Deputados de mãos dadas com Lula. Os dois tinham estreitado
laços em aviões, enquanto viajavam, de Estado em Estado, para as
passeatas. Mas Lindbergh ficou de fora de uma foto histórica, em que a
OAB entregou ao então presidente da Casa Ibsen Pinheiro o pedido de
impeachment de Collor.
“Era tanto senador e deputado”, recorda. “Me lembro de Darcy Ribeiro,
uma das grande cabeças deste País, num empurra-empurra tão grande. Aí
começou uma briga por milímetros. Se você respirasse o cara empurrava um
pouco seu pé. E eu fiquei achando aquilo ridículo. Fiquei pensando:
‘Esse bando de senador velho de idade brigando por um espaçozinho’. Me
irritei e saí da foto. Virou uma foto histórica e não estou lá”,
comenta, aos risos.
Inflamado pela campanha Fora Collor, Lindbergh foi eleito deputado
federal em 1994 pelo PCdoB, partido ao qual era filiado desde 1987.
“Talvez se voltasse no tempo teria esperado mais quatro anos”,
conjectura. “Eu tinha mais peso como líder estudantil do que como
deputado. Estava meio confuso quanto ao meu papel”.
Mas vieram as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, nas
quais o ex-presidente da UNE concentrou fogo. “Continuei meio líder
estudantil na época das privatizações. Comandei, por exemplo, a invasão
da Bolsa de Valores na véspera da privatização da Vale do Rio Doce”,
rememora. Em 1997, Lindbergh migrou para o PSTU, o que resultou em um
período de vacas magras na urna.
A razão é que, apesar de ter obtido votos suficientes para se
reeleger, o PSTU não atingiu coeficiente eleitoral. O cenário se repetiu
em 2000, e Lindbergh não pôde ocupar vaga de vereador no Rio. No ano
seguinte, porém, filiou-se ao PT e apoiou a candidatura de Lula à
Presidência da República. Da árvore petista, colheu frutos: em 2002
retornou à Câmara com 83 mil votos.
Em 2004, foi eleito prefeito de Nova Iguaçu, um dos maiores
municípios da Baixada Fluminense. Reelegeu-se em 2008. Lindbergh
retonaria à cena federal após vencer disputa interna do PT e ser eleito
para o Senado em 2010, à frente de Marcelo Crivella (PRB). Seus planos,
no entanto, apontam para a disputa do governo do Rio de Janeiro, em
2014. E se espelha em Lula para isso.
“Sei que tem gente que pensa o contrário, mas conseguimos colocar o
Lula, que é esse líder operário, na Presidência da República. No final,
40 milhões de brasileiros foram para a classe média e 28 milhões
deixaram a pobreza extrema”, afirma. “Poderia dizer que essa não foi só a
batalha do impeachment, continua sendo a batalha no mundo inteiro, a
mesma luta ideológica, da qual o Brasil conseguiu desembarcar”.http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-05-21/demorei-tres-passeatas-para-pintar-a-cara-revela-lindbergh.html
Doutor Honoris Causa em Educação e Direitos humanos; ex- servidor na Prefeitura Municipal de Resende/RJ; Ex- Assessor de Gabinete do Prefeito na Prefeitura Municipal de Barra Mansa/RJ; Ex-servidor da Fundação Beatriz Gama de Volta Redonda/RJ. Eleito por três mandatos no Conselho Superior do Instituto Federal do Rio de Janeiro e dois no Conselho Municipal de Juventude de Barra Mansa/RJ. Consultor ad hoc da Associação Mineira de Pesquisa e Iniciação Científica, avaliando os trabalhos de Iniciação Científica e Tecnológica da 4ª Feira Mineira de Iniciação Científica (4ª FEMIC); Selecionado avaliador em um importante Prêmio de Inovação no estado de Minas Gerais e um outro no Espírito Santo em 2022. Encerrou 2022 recebendo homenagem do Governo Federal através do Programa Pátria Voluntária.